Por trás destas cordas também bate um coração

Lançado em 2012, o disco Victoria, de Herbert Vianna, é um passeio de voz, violão e alguns outros elementos pela obra do compositor.

Os Paralamas do Sucesso ganhariam – se tal título existisse – facilmente e repetidamente a classificação de banda mais estável do rock brasileiro, já que – tirada a fase inicial, quando Herbert Vianna e Bi Ribeiro dividiam o trio com Vital Dias, com quem nem chegaram a gravar ou mesmo fazer grandes shows, a banda tem a mesma formação – com João Barone – desde 1982, com alguns agregados no apoio.

Dito isso, sempre houve espaço, sem nenhum conflito, para que seus integrantes se dedicassem a projetos pessoais. O integrante com maior regularidade neste sentido é Herbert Vianna, que o longo da carreira pôde tanto lançar trabalhos solo (todos eles um pouco distantes de seu trabalho com a banda, em estilo e formato) como colaborar com composições para outros artistas.

Victoria, disco de 2012, é a soma destes dois elementos. Pouco mais de 10 anos do acidente de ultraleve que vitimou fatalmente Lucy, a esposa do músico, e o deixou paraplégico, o disco foi intitulado com o primeiro nome dela, e traz em sua maioria canções que Herbert cedeu ou escreveu em parceria com artistas como Marina Lima, Biquini Cavadão, Ana Carolina, Paula Toller, Nenhum de Nós, Leoni, Ivete Sangalo, Daniela Mercury, Penélope, Negril, Luciana Pestano, Kátia B, Eduardo Toledo, Daúde, Maria Bethânia, RPM, Fernanda Abreu, Ari Borges, além de uma faixa inédita, Penso em Você, escrita pelo cantor e guitarrista quando adolescente, na época em que morava em Brasília.

Pode soar simplório um projeto de álbum somente de voz e violão, mas não é o caso aqui: virtuoso sem ser poser, Herbert desfila sua habilidade no instrumento em arranjos complementados por instrumentos tocados pelo produtor Chico Neves, como sintetizadores, sitar e alguns efeitos. Tudo muito elegante e sem exageros.

Um outro detalhe a se destacar em Victoria é que as canções raramente ultrapassam os três minutos (apenas Vem pra Mim e Sinto Muito passa desta duração), e isso não faz delas composições menores, pelo contrário: o poder de sintetizar sentimentos em palavras musicadas segue forte e confirma Herbert como um dos maiores compositores de nossa música.

Em tempos de produções cada vez mais (assumidamente em alguns casos) artificiais, um disco como Victoria é uma vitória (não vou me desculpar pelo trocadilho) e um alívio. E é um clássico.

Nas sessões de gravação de Victoria, entre 2010 e 2011, Herbert Vianna também gravou algumas covers de artistas internacionais que formam suas influências, como The Who, Jimi Hendrix, Beatles e Cream, entre outros, que foram lançadas em 2020 com o título HV sessions – Volume 1.

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