
O fato de eu ser jovem há muito tempo (tradução: o espírito juvenil que habita sob a minha pele dança uma valsa suave enquanto o corpo vai sofrendo as agruras da idade) fez com que eu consumisse música do jeito que dava. Já contei inúmeras vezes sobre a minha relação com os discos de vinil na infância, depois tive uma fase de ouvir muito conteúdo em fitas cassete, pela facilidade (naquela época era fácil, vai) de andar por aí com um walkman com um álbum rolando na fitinha (enquanto as pilhas aguentavam). Depois, claro, vieram o CD, o mp3 e por fim o streaming e eu não sei onde isso vai parar depois.
Fato é que, se por um lado eu tive acesso às bandas clássicas de alguma forma, algumas lacunas ficaram, e é com o streaming – apesar de todos os dilemas acoplados a seu uso constante – que eu vou tentando corrigir algumas falhas de percurso.
Uma das bandas que demorei a conhecer com alguma profundidade foi o Thin Lizzy, e eu sinto que tomei a decisão certa ao me propor uma imersão na obra do grupo. Hoje recupero este texto sobre o grande clássico da banda, o álbum Jailbreak, de 1976.
O Thin Lizzy, que já chegou a ter nomes como Gary Moore, John Sykes e – estranhamente – Midge Ure nas guitarras, à época contava com os guitarristas Scott Gorham e Brian Robertson e o baterista Brian Downey, todos eles liderados pelo incrível cantor e baixista Phil Lynott, um fenômeno pouco notado na história do rock, ao menos não tão notado quanto deveria.
Jailbreak, o álbum, abre com a faixa-título, e daí por diante a gente já sabe o que esperar: guitarras que “conversam” entre si e uma – atenção que eu vou usar o clichê – cozinha nada tradicional, com Lynott bastante seguro nas linhas de baixo e Downey muito criativo nas levadas de bateria.
É curioso que, ainda que o som do grupo se aproxime do hard rock norte-americano, não é justo classificá-los desta forma. Talvez nenhuma classificação faça jus ao som da banda formada em Dublin (sim, o grupo é irlandês). Também não é muito justo tentar encaixá-los em alguma comparação com os grupos ingleses de hard rock, já que o Thin Lizzy tinha uma veia pop não muito parecida com a frieza britânica. Talvez até pelas origens de Phil Lynott, filho de pai guianês e mãe irlandesa.
Mesmo assim, a banda teve uma reputação muito mais forte no Reino Unido do que nos Estados Unidos, apesar da exposição de The Boys Are Back in Town como um megahit até hoje.
Por fim, um detalhe interessante sobre a formação com dois guitarristas tem um fator psicológico: criado pela avó em Dublin, enquanto a mãe morava em Manchester, Phil Lynott tinha um complexo de abandono, e ao ver guitarristas saindo da banda, resolveu contratar dois de uma vez, imaginando que se um saísse, sempre haveria outro. O fato é que essa justificativa inusitada forjou o som da banda a partir da entrada dos dois, já que combinaram guitarras “gêmeas” na maior parte das canções a partir desta formação, inclusive em solos.
Dentro e fora da banda, Phil Lynott teve uma carreira errática, tragicamente interrompida em 1986, com uma overdose de heroína. Ficou o legado de uma grande banda, que chegou a ser retomada pelo guitarrista John Sykes para algumas turnês, com o baixista Marco Mendoza substituindo Lynott e sem material inédito. Depois de 2011, o nome Thin Lizzy foi encerrado e o remanescente Scott Gorham montou uma nova banda com a formação que o acompanhava, com o nome de Black Star Riders, gravando material inédito. Depois disso, aconteceram algumas reuniões esporádicas do Thin Lizzy a partir de 2017, com formações variadas.
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