
Na história do rock, várias transformações e movimentos deram origem a grandes subgêneros e ideias que marcaram cada década. Nos anos 80, glam, thrash metal, hardcore punk e rock alternativo. Nos anos 90, britpop, emo, pop punk, nu metal e um dos mais lembrados, o grunge.
O grunge não foi exatamente um movimento unificado por características estéticas sonoras, mas sim um fenômeno peculiar, onde uma cidade foi o centro do mundo do rock por alguns anos, com bandas que atingiram o mainstream com uma qualidade e atitude que são lembradas até hoje.
É muito difícil afirmar com certeza onde e como cada movimento começou e cresceu, mas alguns personagens se destacam por uma cadeia de acontecimentos que mudam as coisas. Olhando com os olhos de hoje, podemos achar que uma mágica aconteceu e, do nada, as coisas mudaram, mas não é sempre assim. Uma coisa leva a outra, e a história é escrita como uma maratona.
Em 8 de janeiro de 1966, nasceu um desses personagens: Andrew Wood. Desde cedo, ele sempre se interessou por música e, em 1980, montou o Malfunkshun. Influenciado por Queen, David Bowie e Kiss, a banda soava como um hard rock farofa. Com performances inesquecíveis, Andrew sempre atraiu olhares magnéticos, e seu carisma era admirado por todos.

Em 1988, depois que a banda resolveu parar, ele se juntou aos ex-integrantes da banda Green River, Jeff Ament e Stone Gossard, e montaram o Mother Love Bone. Foi um início ainda com influências de glam rock, com pitadas de blues rock. Chamando bastante atenção, assinaram um contrato com a Polygram, e seu disco de estreia, chamado Apple, tinha data marcada para ir para o mundo. Mas no dia 16 de março de 1990, Andrew Wood teve uma overdose e ficou em coma até morrer com 24 anos, no dia 19 de março de 1990.
Jeff Ament e Stone Gossard ficaram devastados. O Mother Love Bone era um projeto no qual eles apostavam tudo. Depois de um processo de luto interno, os dois resolveram fazer música juntos e começaram a compor sons mais densos. Por um amigo em comum, conheceram o então guitarrista Mike McCready e resolveram juntar forças.
Quem também sentiu essa dor irreparável foi Chris Cornell, do Soundgarden, que além de ser colega de quarto de Andrew, era um de seus grandes amigos. Com toda essa dor, Chris começou a compor músicas em homenagem a Andrew, e assim nasceram hinos como “Say Hello 2 Heaven” e “Reach Down”.
Querendo que essas músicas fossem registradas, Chris Cornell chamou os ex-companheiros de Andrew no Mother Love Bone, Jeff Ament e Stone Gossard, para um projeto novo. Com eles veio também Mike McCready, que já estava integrado nesse novo trio, e, para a bateria, Chris chamou Matt Cameron, seu companheiro de Soundgarden.

Nesse supergrupo, que ainda não era um supergrupo propriamente dito, nasceu o Temple of the Dog. Um disco de dor e luto, com letras introspectivas e melodias belíssimas. De início, a ideia era gravar apenas um single ou algumas músicas, mas todo aquele processo de composição e gravação virou um processo de cura.
Aqueles 15 dias foram sem pressão e muitas vezes mágicos. Dentro dessas mágicas que acontecem na música, um vocalista de San Diego chamado Eddie Vedder voou até Seattle para fazer um teste nessa nova banda que Jeff Ament, Stone Gossard e Mike McCready estavam montando. No meio dos ensaios e das gravações do Temple of the Dog, Eddie Vedder pegou o microfone e resolveu fazer backing vocals. Uma dessas músicas foi “Hunger Strike”.
Dessa magia nasceu um dos maiores duetos do rock. Chris Cornell, com sua voz inconfundível, cheia de energia e dor, e Eddie Vedder, com sua melancolia e flow. Hunger Strike foi composta já no final das gravações, pois Chris sentia que algo ainda estava faltando. E não deu outra. Esse single foi o grande sucesso do disco e marca a vida de muita gente até hoje.
A infeliz perda de Andrew Wood deu uma chacoalhada geral em Seattle. Bandas se misturaram, e muita gente tentou encontrar uma nova cura. Dessas misturas e momentos nasceu o Temple of the Dog e, logo em seguida, o Pearl Jam como o conhecemos. Muitas vezes olhamos as mudanças do mundo sempre de forma positiva, com algum acontecimento feliz, mas na realidade, muitas vezes o mundo muda com tristeza.
Achar esse equilíbrio entre arte, tristeza e sucesso sempre foi um grande desafio pra vários desses músicos de Seattle. Nessa cena de bandas sonoramente diferentes, mas com laços sócio-afetivos muito fortes, tivemos arte, emoção e dor. Com seres iluminados como Chris Cornell, Layne Staley, Kurt Cobain e o não tão lembrado Andrew Wood, tivemos passagens avassaladoras pelo mundo, mas infelizmente, eles não estão mais aqui.
Nos resta fazer esses tributos diários pra todos eles. Não deixando de lembrar da sua arte e de tudo o que veio com suas vidas e suas mortes. Porque o ser humano morre duas vezes. Quando sua alma sai do corpo e quando ele é esquecido. Não vamos esquecer jamais.
Ouça esse clássico
Inscreva-se na nossa Newsletter e receba toda semana os posts do nosso site.