O dia em que o Tears For Fears conquistou o mundo

Com hits inesquecíveis e atemporais, a dupla Roland Orzabal e Curt Smith lançou um dos maiores discos da história do pop há exatos 40 anos.

Minha conexão com o Tears For Fears é, no mínimo, curiosa. Além de ter escutado o Songs From The Big Chair em loop quando eu era criança nos anos 80, a primeira música que aprendi a tocar no teclado foi do Tears For Fears. Minha mãe era líder de um grupo da Tupperware e foi uma das maiores vendedoras de pote em 1988, e ela ganhou uma viagem com meu pai para Orlando e Disney.

Eu, com 7 anos, não pude ir (fiquei em posição fetal chorando), mas pedi pra minha mãe comprar um Sega Mega Drive, mas ela trouxe de presente um tecladinho da Yamaha que tinha “Just The Way You Are” do Billy Joel como música demo, que você podia ficar tocando por cima. Mesmo frustrado por não ter ganho o videogame, resolvi ficar brincando de tocar e aprendi a tirar de ouvido o tecladinho icônico de Head Over Heels, do Tears For Fears. O resto é história.

Eu não consigo achar na língua portuguesa, ou pelo menos que eu conheço, adjetivos suficientes para elogiar e pra dizer o quanto eu amo o clássico Songs From The Big Chair, do Tears For Fears, lançado no dia 25 de fevereiro de 1985. Um disco que soa como um Greatest Hits de uma banda que o nível de composição pop está à altura de Beach Boys e Beatles. Podem me chamar de emocionado, mas o pop que o Tears For Fears fez, e ainda faz, é atemporal, genial, único e encantador.

A banda foi formada em 1981 pelos amigos de infância Roland Orzabal e Curt Smith, numa cidadezinha da Inglaterra chamada Bath. Desde o início, carregaram uma aura de filosofia e psicologia ao redor de suas músicas. Inspirados pelas ideias do psicólogo Arthur Janov, até o nome da banda surgiu do conceito de superar traumas através da expressão intensa de emoções e dores reprimidas.

Flutuando entre New Wave, Synth-pop e Post-punk, o Tears For Fears encontrou um som único que emociona até hoje. Não soa datado nem clichê. É uma banda que faz pop com guitarras e cria melodias que grudam mais do que Super Bonder quando vaza nos dedos.

Em 1983, lançaram seu álbum de estreia, The Hurting, um disco já recheado de ótimos hits, mas ainda com uma sonoridade mais sombria. Para expandir esse som, a banda manteve o mesmo produtor do primeiro álbum, Chris Hughes. Ele trouxe inovações tecnológicas da época, como novos sintetizadores, bateria eletrônica e técnicas avançadas de captação.

Roland Orzabal e Curt Smith (Tears for Fears)

Dessa mistura entre produção inovadora e composições cheias de refinamento nasceu Songs From The Big Chair. E logo de cara, com o hino máximo Shout, que já começa direto no refrão, a banda deixa claro para o mundo qual era a ambição do projeto. Um som mais polido e acessível. Shout é um grito por atenção. É praticamente um outdoor sonoro da banda para todo mundo ver e ouvir. E todo mundo viu e ouviu.

Hoje, 40 anos depois, o álbum continua emocionando ouvintes de todas as idades. Os baby boomers da época, as crianças dos anos 80 e até as novas gerações do TikTok. É uma banda que deveria estar no mesmo patamar de gigantes como ABBA, Beatles e Queen.

Além de Shout, o disco ainda nos entrega outros hits como Listen, Head Over Heels e, claro, uma das maiores canções da história da humanidade, Everybody Wants to Rule the World.

Esse hino de protesto, quebra completamente todas as regras de uma música pop e, ainda assim, se tornou um dos maiores sucessos da história. Enquanto o mundo tenta achar uma fórmula para ser replicada, o Tears For Fears fez uma música que começa com uma introdução de quase 30 segundos e um dedilhado de guitarra. Os versos têm apenas dois acordes, o chimbal da bateria não segue um padrão de quatro tempos, mas sim de três. A música tem um solo de guitarra no meio e outro no final. Será que estamos falando de um som progressivo disfarçado de hit pop?

E foi assim que a banda, cantando versos como “nada dura para sempre, todo mundo quer conquistar o mundo”, acabou mudando o mundo. Mas vou discordar deles e dizer que, sim, algumas coisas duram para sempre. Songs From The Big Chair é uma dessas coisas. E se todo mundo quer conquistar o mundo, no fim das contas, foram eles que conseguiram.

Eu particularmente escuto Everybody Wants to Rule the World toda semana. Sem falta.

Parabéns pro Songs From the Big Chair.


Ouça também.


Fizemos um episódio no nosso podcast sobre a música Everybody Wants to Rule the World.


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