
Existem alguns anos na música que parecem (pelo menos para mim) ser de entressafra ou de preparação para vôos maiores. 1995 talvez tenha sido um destes anos.
O mundo da música ainda se recuperava da perda de Kurt Cobain, e havia dúvida sobre quem seriam os próximos ícones pop, embora muito já estivesse desenhado.
Do lado dos consolidados Red Hot Chili Peppers, a batalha era outra: não era fácil substituir um guitarrista icônico como John Frusciante (ele próprio um substituto, no caso de seu ídolo Hilel Slovak, igualmente icônico). A banda tentou com os esforçados Arik Marshall (com quem tocaram no ano anterior no Hollywood Rock, em São Paulo) e Jesse Tobias, mas só encontrou a força necessária para seguir em frente quando recrutou Dave Navarro, à época ex-Jane’s Addiction.
Com Navarro, a banda produziu One Hot Minute, um disco que não faz feio entre os demais álbuns lançados até então, mas vamos combinar: é outra banda.
Pra começar, One Hot Minute até tem seus momentos musicalmente agitados, como na faixa de abertura Warped, ou na cadência de Aeroplane, mas é um disco melancólico, aspecto que fica ainda mais claro no hit My Friends (cuja harmonia pega emprestada uma sonoridade oriental nos dedilhados) e Tearjerker, composta por Anthony Kieds com clara inspiração pela perda do amigo Kurt Cobain.
Outro fato é que o disco, além da temática, rompe com a sonoridade característica das guitarras de Slovak e Frusciante, que junto aos riffs funkeados, traziam ecos de Hendrix. Dave Navarro, ainda que emule alguns destes temas, traz uma pegada mais próxima da psicodelia e das harmonias características do som produzido por Jimmy Page no Led Zeppelin (que a esta altura também ganhava um revival na reunião entre Page e seu antigo companheiro Robert Plant).
Apesar de terem produzido um álbum importante dentro da discografia da banda, esta formação não durou muito, já que – depois de Anthony Kieds ter conseguido se reabilitar do vício, Dave Navarro acabou por causar alguns problemas por motivos semelhantes.
Logo após a saída de Dave Navarro, John Frusciante estaria de volta por três álbuns: o mega-estrelato de Californication, a estabilidade em By the Way e o imenso Stadium Arcadium. Veio novamente a estafa, mas essa é uma outra história para contarmos em outros textos.
One Hot Minute, como alguns outros álbuns do grupo, pode ser lembrado como um ponto fora da curva (talvez um dos seus momentos mais conturbados), mas ainda pode ser visto como um clássico para quem viveu aquela época.
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