E o concreto segue rachado

Lançado há quase 40 anos, o primeiro EP da Plebe Rude, O Concreto Já Rachou, segue atual e representativo do punk rock nacional, mesmo sendo muito mais do que isso.

Não tem engano: a Plebe Rude é uma banda punk. As letras corrosivas retratam o Brasil do meio dos anos 80. O proletariado que coloca nas mãos de Deus a esperança por dias melhores, a polícia na rua reprimindo manifestantes, o caos da cidade em forma de avião que responde pelo título de capital do país, a crítica irônica sobre artistas que se vendem em nome do sucesso e do dinheiro.

Calma lá, não é uma banda punk! O disco começa com acordes de um violoncelo tocado por Jacques Morelembaum, conceituadíssimo músico parceiro de Tom Jobim.

É punk sim. o disco tem pouco mais de 21 minutos de duração, discurso rápido e urgente, como todo disco punk que se preze.

Não tem como ser punk: as guitarras arpejadas conectam os arranjos ao som da new wave do início dos anos 80, os jogos de vozes entre Philippe Seabra e Jander Bilaphra, por vezes se contrapondo, são muito sofisticados para serem comparados a bandas de três acordes.

Não tem nada mais punk: lançado no ato final da ditadura militar, o disco escapou por pouco da censura, graças a uma manobra da gravadora EMI.

O Concreto Já Rachou, disco do qual trata este humilde texto, foi produzido por Herbert Vianna, a princípio ressabiado com a banda, por conta da crítica bem humorada em Minha Renda, canção cuja letra brinca com artistas que fazem concessões a pretexto de aumentar seus ganhos. Mas Herbert entendeu o sarcasmo característico da Plebe, e até resolveu deixar sua contribuição em um exercício de auto-ironia, completando nos vocais a parte da letra que diz “já sei o que fazer pra ganhar muita grana” com o próprio dizendo “vou mudar meu nome para Herbert Vianna!“.

Foi de Herbert também a ideia do cello de Morelembaum no início de Até Quando Esperar, além dos vocais de Fernanda Abreu em Sexo e Karatê.

A banda lançou mais alguns discos, passou por alguns percalços, idas e vindas de integrantes, entre elas a chegada de Clemente, líder dos Inocentes, na formação atual, mas a Plebe nunca teve a “sorte” das outras bandas conterrâneas. À exceção de Até Quando Esperar, as músicas da banda nunca passaram de algumas tímidas execuções radiofonicas.

Não é uma banda que tenha gozado de muito prestígio com as rádios. Compreensível, afinal de contas a Plebe é uma banda punk, não é? 😉

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