
Dos três discos lançados pelos integrantes da formação clássica dos Secos e Molhados logo após a separação, este – intitulado apenas João Ricardo e singelamente apelidado de Disco Rosa, a despeito da capa remetendo ao kitsch, é o que mais traz elementos do que poderia ter sido o terceiro disco do grupo.
Isso porque, assim como nos anteriores, a direção musical e as composições do álbum são todas do próprio João Ricardo, algumas em parceria com seu pai, empresário e um dos pivôs da separação do grupo, João Apolinário.
De resto, o disco tem mais uma vez o baixista Willy Werdaguer comandando os arranjos – com direito a uma citação de sua linha de baixo mais famosa, a de Amor – em Balada para um Coiote. E a autorreferência não para por aí, já que Vira Safado soa como uma releitura mais maliciosa de O Vira, parceria de João Ricardo e Luhli, presente no disco de estreia do Secos e Molhados, de 1973.
Se não dá para saber se um disco do grupo soaria desta forma, sabemos que provavelmente não seria como a estreia solo de Ney, em Água do Céu Pássaro, nem como o disco de Gerson Conrad em parceria com Zezé Motta, todos lançados no mesmo ano de 1975, dividindo as atenções, mas nota-se que ambos representaram para seus criadores uma expansão à qual talvez João Ricardo não estivesse disposto, mais interessado em seguir com o legado do grupo, o que o fez a partir de 1978, persistindo com algumas outras formações.
O que temos aqui, portanto, são alguns grandes momentos líricos e musicais (inevitável que o destaque seja o baixo do argentino Willy Verdaguer, mas vale destacar que o guitarrista do disco era ninguém menos que Roberto de Carvalho, posteriormente dono de extensa parceria musical e conjugal com Rita Lee). Destes, vale a menção ao espertíssimo título Os metálicos senhores satânicos, a divertida levada de Se sabe, sabe, e Rock e Role Comigo, canção que recentemente foi encontrada em uma gravação de uma apresentação dos Secos e Molhados em 1974, pouco antes do lançamento do segundo disco e da separação do grupo. O material foi encontrado pelo onipresente pesquisador Marcelo Fróes, que à época (já durante a pandemia) declarou não pensar em buscar meios de lançar oficialmente a gravação. Por aí se nota o tamanho da confusão que isso deve causar ainda hoje.
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