
Existe um certo padrão ou superstição que assombra a indústria musical que é a maldição do segundo disco. Depois de um debut promissor, inúmeros artistas tropeçam justamente quando mais precisam acertar. O primeiro álbum tem anos de experiências acumuladas, já o segundo tem apenas a pressão do sucesso e correria para provar que a estreia não foi um acaso. A lista de decepções no segundo disco é longa o suficiente para preencher a caixa de discos em promoções em sebos espalhados pelo mundo.
Mas em 10 de novembro de 1983, Billy Idol jogou essa maldição pela janela do Electric Lady Studios. “Rebel Yell” não apenas evitou o fracasso, mas redefiniu o que um segundo álbum poderia ser.
Billy Idol reuniu novamente a equipe que transformou seu primeiro álbum solo em sucesso. O produtor Keith Forsey, ex baterista de Donna Summer que trazia uma sensibilidade pop, e o genial guitarrista Steve Stevens. Juntos, eles fizeram mágica no Electric Lady Studios, o mesmo local lendário onde Jimi Hendrix havia deixado sua marca uma década antes.
A abordagem era experimental pra época. Inicialmente, o álbum foi gravado sem baterista de verdade e usavam LinnDrum e Roland TR 808 pra criarem os beats mecânicos e precisos que definiriam o som dos anos 80. Foi apenas depois que Keith Forsey e Steve Stevens ouviram Thommy Price tocando com a banda Scandal em um estúdio do lado, que eles decidiram que algumas músicas precisavam daquela energia humana. “Rebel Yell”, a faixa título, foi a primeira a ganhar essa adição, e o resultado é aquele groove impossível de esquecer.
“Rebel Yell” entregou não um, mas quatro hits que ainda hoje estão em rádios, playlists e covers de bandas do mundo inteiro. A faixa título, com seu arpejo inconfundível criado por Stevens em guitarras e sintetizadores, é Absolute Music. Mas o álbum não era apenas atitude. “Eyes Without a Face” (a famosa ajudar o peixe) mostrou que o Billy podia ser vulnerável e melancólico. A música cria uma atmosfera hipnótica que contrasta perfeitamente com o resto do álbum. É a prova de que grandes artistas sabem equilibrar as coisas.
“Flesh for Fantasy” e “Catch My Fall” completam o quadro de hits. São duas músicas que mesclam rock, new wave e synthpop de forma tão natural que parece fácil, quando na verdade é resultado de produção primorosa e visão artística.
Mas clássicos não viram clássicos apenas por seus hits. Existem também as lendas. O Billy Idol teve uma treta com a gravadora Chrysalis sobre a capa do disco. Ele odiou a imagem que eles escolheram e a gravadora não queria alterar. O que você faria nessa situ? Bem, o Billy fez o impensável. Ele simplesmente roubou as fitas master das gravações e entregou pro seu traficante de drogas.
Ele ameaçou a gravadora dizendo que o traficante colocaria as fitas na rua como bootlegs piratas em questão de dias se a capa não fosse alterada. A pressão funcionou, ou pelo menos ele achou que funcionou. O que ele não sabia é que Keith Forsey tinha as fitas master reais. Anos depois, Forsey revelou a verdade: “Deixei ele pensar que tinha as masters… Ele fez o que tinha que fazer com a gravadora. Tudo foi resolvido, e então eu disse que tinha as masters de verdade.”
É uma mistura de blefe culposo, conexões com o crime e a malandragem de um produtor que conhecia seu artista bem demais. A capa foi alterada, o álbum foi lançado e ninguém jamais esqueceu essa história.
Décadas depois, “Rebel Yell” continua relevante. Foi regravado por Children of Bodom, HIM, Drowning Pool, Scooter e dezenas de outras bandas. Apareceu em videogames como Metal Gear Solid V, GTA San Andreas e WWE 2K16. E não podemos esquecer da inspiração nos cabelos do nosso Supla e também da querida Ana Maria Braga.
Nem todo segundo álbum precisa ser um desastre. Às vezes, com a equipe certa, a atitude certa e uma dose generosa de caos, um artista pode não apenas escapar da maldição, mas criar algo que define uma era inteira.
“Rebel Yell” é a prova viva de que correr riscos vale a pena. Seja na música, na produção ou na chantagem bem intencionada. Quarenta e dois anos depois, ainda dá para ouvir aquele grito rebelde tão alto quanto em 1983.
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