Episódio #68 – Melhores Discos de 2019

Mais uma vez o nosso time completo com Bruno Leo Ribeiro, Vinícius Cabral, Márcio Viana e Brunno Lopez, escolhem os melhores discos de 2019. Um ano que teve o Rock como grande destaque, eles listam mais de 80 discos que fizeram parte do dia a dia de muita gente nesse ano cheio de turbulências e música boa. Entre os detaques, artistas como Angel Olsen, FKA Twigs, Michael Kiwanuka. The Who, Lana Del Rey, Tool, Jards Macalé, Billi Eilish, City And Color, Baroness, Bayside, Thank You Scientist e muito mais. Separe o papelzinho e anote todas essas dicas desse ano que foi maravilhoso no mundo da música. Ouça, divirta-se e compartilhe.


2019 vai ficar conhecido, pelo menos em nosso pequeno grande círculo de ouvintes, produtores e apoiadores, como o ano que ressuscitou o Rock. Não que ele tenha exatamente morrido – aqui em nossas mesas sempre tivemos a precaução de não “sepultá-lo” de vez, analisando o cenário cultural de forma mais ampla para tentar entender o futuro da linguagem do gênero- mas o ano foi, de fato, um sensacional respiro lotado de guitarras, baterias e vocais nervosos e/ou viscerais. Uma estética visceral para uma época visceral.

Do Metal Progressivo, Contemporâneo (ou Djent?) ao Indie Rock melódico (ou Rock Alternativo?), 2019 trouxe novidades que consolidam movimentos iniciados em meados da década e que, agora, parecem amadurecer com uma rapidez exemplar. Além dos fenômenos, digamos, novos, é flagrante o bom momento do Rock culminando na reunião e no retorno de bandas que marcaram os últimos 20 anos, mas haviam acabado (caso de Rage Against The Machine) ou se encontravam em gigantescos hiatos (como o Tool).

Na esteira disso tudo, vemos um esgotamento das linguagens virtuais, nos modus operandi que parecem, finalmente, apresentar desgastes criativos. O ápice da onda do Trap e a aparente falta de novas ideias por parte dos “Laptop Producers” empurraram o underground mais ousado, crítico e experimental a um papel de destaque no mainstream (ouçam o episódio “O Futuro da Música”).

Enquanto por um lado tudo parece se fundir e se cruzar – o Trap Country de Lil Nas X dominou mais da metade do ano nas paradas- por outro, os diferentes gêneros parecem se conformar em suas formas mais “puras” – vide a precisão paradoxalmente nova e tradicional de bandas como Big Thief, e a própria já citada Tool -. Voltou a ser normal chamarmos os “criadores de conteúdo musical” de compositores. Voltou a ser legal empunhar uma guitarra. Voltou a ser interessante o exercício experimental no Pop, para além das fórmulas que já não funcionam mais. Por menos “criadores de conteúdo” … Por mais criadores!

Se não sabemos exatamente para onde a música vai, podemos ao menos intuir que poderão conviver em um mesmo espaço (e sem o menor tipo de conflito), bandas de Rock e experiências de Laptop conjugadas com apresentações visuais marcantes (100 Gecs, Charli XCX, etc). Toda a experiência da década parece resumir uma trajetória ímpar: se a música foi se virtualizando (nas nuvens dos streamings e nas texturas dreamy “pós-samplers” de Rappers, Roqueiros e, claro de figuras do Pop Mainstream), chegou um momento em que ela precisa, novamente, de plataformas físicas para se propagar e eternizar. Não estranhem se nos próximos anos os merchs, Shows, Listenings e demais experiências presenciais e humanas de difusão ganharem um novo boom.

Quando o mundo se torna incerto, instável e “gasoso” demais, recorreremos à música não apenas para ouvir como soariam os robôs criando melodias e tocando ao vivo (como tem sugerido a Grimes) mas, principalmente, para acessar algo de humano, único e particular.

Seguem abaixo as listas de “Melhores do Ano” do nosso time formado por Bruno Leo, Vinícius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana. São recortes individuais e livres de cada membro do nosso podcast. Ao longo do ano cada um pesquisou, dentre as novidades e lançamentos, aqueles álbuns que mais marcaram suas trajetórias como artistas, profissionais e curadores. A partir daí, foram feitas listas em ordem de ranking, ou não (vai de cada um). Mantemos nos recortes abaixo as vozes únicas e marcantes dos colaboradores, procurando mostrar o que cada um destaca e recomenda como melhores do ano de 2019.


Bruno Leo

2019 foi realmente um ano incrível. Nosso podcast fez 1 ano de vida e muitas coisas lançadas. O rock sempre foi minha zona de conforto. Desde o Rock clássico dos anos 70 até o Metal mais pesado e triste. Com certeza já fico predisposto a gostar das bandas que fazem esse tipo de som, mas aprendi nos meus 38 anos que uma hora você apenas gosta ou não gosta de uma música. Minha lista é pura emoção. Tem coisas na arte de se ouvir música que eu não consigo racionalizar. Se eu sinto alguma coisa, isso é a única coisa que importa. Nem tudo na vida precisa de explicação. A gente apenas entende o que entende. E minha lista é isso. Discos que me emocionaram em 2019 e não estou aqui pra espalhar verdades, estou aqui pra compartilhar emoções. Espero que gostem.

20. Post Malone – Hollywood’s Bleeding

Um belo disco de trap / rock nos mesmo moldes de Beerbongs & Bentleys, mas um pouco mais pop. E acessível. Tem participações de Travis Scott e até do Ozzy. Um disco que mostra que o trap misturado com rock, pode soar extremamente pop.

19. Insomnium – Heart Like a Grave

Insomnium é uma banda de Death Metal Melócido da Finlândia e eles são muito respeitados por lá como uma nova geração de grandes bandas. Muito peso e muita melodia melancólica em homenagem aos dias tristes e frios da Finlândia. Um disco que poderia muito bem ser encaixado dentro do famoso movimento de banda de Death Metal da Suécia.

18. Alcest – Spiritual Instinct

Banda da França que começou tocando Black Metal e com o tempo cansou de ser muito underground e fez alguns discos pra tirar esses estigma. Talvez o melhor trabalho da banda até então. O que trouxe eles para fora do nicho e dando um pouco mais de holofote para esses franceses.

17. In Flames – I, the Mask

Famosa banda do movimento de bandas de Death Metal Melódico, o In Flames teve alguns discos bem abaixo nos últimos anos, mas parece que eles conseguiram colocar a cabeça no lugar e fizeram um disco pesado, mas com um toque “pop”. Não soa tão europeu, mas sim, uma banda de Death Metal dos EUA. Um ótimo disco, talvez pensando no mercado americano.

16. Soilwork – Verkligheten

Depois da saída do baterista Dirk Verbeuren, que hoje está no Megadeth, a banda encontrou o seu caminho. Um disco com excelência que a banda sempre teve. Peso, velocidade, melodias bonitas e um vocalista incrível, um dos melhores do metal contemporâneo, o Speed. Mais uma banda do movimento de bandas de Death Metal da Suécia que sempre gostei.

15. Thenighttimeproject – Pale Season

Parece que a Suécia realmente o país no metal que eu mais me identifico. O Thenighttimeproject é um projeto que começo com ex-membros do Katatonia e tem a mesma vibe de quem já conhece os mestres do metal triste. Mas não é um metal triste tipo, triste, é um metal triste tipo depressão na escuridão e eu to agonia e não sei o que fazer. Esse é o tipo do som que o Thenighttimeproject faz, assim como o Katatonia da Suécia faz com maestria.

14. BIG|BRAVE – A Gaze Among Them

Banda de Montreal de “metal” que fez um disco experimental e sonoro com muita energia. Músicas lentas e melancólicas, mas cheias de ruídos e que incomodam de alguma maneira. É um disco quase meditativo pra quem gosta de metal no geral. Pode se ter um estranhamento no começo, mas no final do disco você pensa, “como que eu não conhecia essa banda antes?”. Bem, talvez porque eles começaram em 2015. Vale conferir.

13. Steve Gunn – The Unseen in Between

O quarto disco do cantor e compositor americano Steve Gunn é ótimo. Voz e violão e muita melodia. É um disco que se sente como uma trilha sonora de uma jornada. Mais um desses artistas do selo Matador que eles acham não sei da onde. Mas ainda bem que eles descobrem pra gente poder ouvir essa preciosidade. Um disco lindo.

12. Harry Styles – Fine Line

Um disco que entrou na minha lista na prorrogação. O Harry Styles veio com um disco pra quebrar totalmente algum resquício de preconceito por ele ter feito parte do One Direction. Sem dúvidas o talento dele se mostra grandioso nesse disco super bom de ouvir. Um disco confortável, pra te jogar pra cima e fazer você se sentir bem. Vale muito conferir. E como sempre digo. O ano só acaba quando termina e o Harry veio no dia 13 de Dezembro pra provar que pra fechar uma lista de melhores discos do ano, você tem que esperar um pouco.

11. Killswitch Engage – Atonement

O Killswitch Engage é muito conhecida por serem os “inventores” do Metalcore como ele é. Riffs pesados, velocidade, versos com vocal rasgado e refrões catchy e grudentos com melodias bonitas e vocais limpos. Não foi diferente do que eles sempre fazer, o que me incomoda um pouco. Mas por ser muito fã da banda, acabei gostando bastante, mas não o suficiente pra entrar no meu top 10. Então fica aqui no limite da lista.

10. Rival Sons – Feral Roots

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Eu já tinha ouvido falar do Rival Sons, mas confesso que nunca tinha parado pra escutar até eles abrirem o show da despedida do Black Sabbath aqui em Helsinki. Achei o som da banda muito legal e desde então acompanho o que eles fazem. E esse ano eles lançaram o ótimo Feral Roots. Muita gente fica falando mal dessa onda de bandas como Greata Van Fleet que faz um som muito anos 70, “imitando” o Led Zepellin, e o Rival Sons, soa meio antigo sim. Mas poxa. Se você pode fazer um rock cru em homenagem a uma das fases mais incríveis do rock, por que não? Destaco a música de abertura “Do Your Worst” que já mostra o tom que o disco vai ter. Adoro também o single “Sugar on the Bone”, que a frase do rock mais usada no mundo que é “Chicks are gettin’ hot on the fire. You want that rock and roll”. As garotas estão ficando quentes no fogo. Você quer aquele rock and roll.”. Aquele bom e velho rock and roll. Bem feijão com arroz, mas aquele feijão com arroz da vovó que você ama e não precisa de mais nada.

9. Sleater Kinney – The Center Won’t Hold

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Depois de 4 anos de espera as maravilhosas roqueiras do Sleater Kinney, Carrie Brownstein e Corin Tucker se juntaram novamente pra fazer um disco incrível. E elas convidaram ninguém menos que a St. Vincent pra produzir o disco. Uma fórmula quase que de super grupo, que muitas vezes no papel dá certo, mas na realidade nem tanto, mas aqui essa fórmula funciona bem demais. Ainda com a baterista Janet Weiss, o disco é muito plural e experimenta demais. Um disco perfeito pra ouvir do começo ao fim sem sentir que o disco tem 11 músicas. É um disco curto que fica um gostinha de quero mais. Uma banda que teve uma pausa grande de 8 anos entre 2006 e 2014. Elas não tem mais nada pra provar pra ninguém, mas o rock feminino tá em alta e as mulheres estão fazendo discos incríveis e você precisa ouvir o The Center Won’t Hold. Destaque pra Hurry On Home e Can I Go On.

8. William Duvall – One Alone

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Depois da trágica morte do vocalista Laney Stanley do Alice in Chains em 2002, ninguém sabia qual seria o futuro do banda, até que em 2006 entrou o ótimo William Duvall fazendo uma dupla de vocal e fazendo guitarra base. O Alice in Chains se reeinventou e continuou em alto nível. O William Duvall nunca realmente foi um substituto na banda, mas sim, um elemento novo, uma nova referência, uma nova mente criativa. Desde que entrou na banda, ele gravou 3 discos com a banda e todos foram excelentes. Agora esse ano ele lançou o seu primeiro disco solo chamado One Alone. Um disco de voz e violão. Um disco simples, mas absurdamente bem composto por músicas belíssimas. Um disco que você coloca pra tocar na primeira música Til The Light Guides Me Home e vai até a última Waiting Out The Breakdown sem você sentir. Quando o disco acaba fica o sentimento, “Nossa, mas já?!”. Sua voz é ótima e sua interpretação é maravilhosas. Um disco pra acalmar o dia e que fez 2019 um pouco mais suportável.

7. Bruce Springsteen – Western Stars

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Quando lançou em Junho de 2019, eu tinha certeza que esse disco entraria na minha lista. Quando um nome de peso como o Bruce Springsteen lança um disco novo, sempre fica esse questionamento, “O que será que ele vai fazer de novo no seu 19° disco de carreira?”. Bem, ele me surpreendeu demais. Ele fez um disco de rock country de muito bom gosto. Músicas que te levam numa cavalgada no faroeste americano, digno de comercial de TV. É um disco que seria uma trilha maravilhosa e perfeita pro jogo Red Dead Redemption 2. Na verdade eu fiz esse teste. Coloquei o Western Stars pra tocar e fui jogar Red Dead e a imersão foi completa. Um disco maravilhoso do nosso famoso “The Boss”. E ele mostra que não é o The Boss atoa. Um disco calmo, que pode ser usado como tranquilizante nesses tempos brutos. Destaco as músicas, “The Wayfarer”, “Sleep Joe’s Café” e “There Goes My Miracle”. A produção do disco tá impecável e quando termina você já quer ouvir tudo de novo. Se você nunca se encantou com a carreira do Bruce, esse disco pode ser uma boa porta de entrada. É um veterano que soube se manter em alto nível, mesmo não precisando provar mais nada pra ninguém. Só mostra que fazer música com verdade é a única coisa que importa. Um disco pra entrar na lista dos melhores discos da carreira dele.

6. Opeth – In Cauda Venenum

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Não é segredo pra ninguém que sou um tiozão do Prog Metal. O Rock e Metal Progressivo, são meus estilos confortáveis de se ouvir. Enquanto o Soft Rock, pra muitos, é essa música que se ouve num cobertor quentinho, o Metal Progressivo é a minha zona de conforto. E dentro dessa zona de conforto não poderia faltar os mestres da Suécia, Opeth. Apesar de o som da banda ter mudado muito nos últimos anos, sendo mais Rock Prog do que Prog Metal, a banda continua fazendo discos incríveis liderados pelo vocalista e guitarrista Mikael Åkerfeldt. Desde o disco Heritage de 2011, a banda parou de fazer o antigo Death Metal progressivo com vocais rasgados e sombrios e assumiu de vez a paixão do Mikeal que é o Rock Clássico dos anos 70. Então se você gosta de Rock Progressivo dos anos 70, o In Cauda Venenum é pra você. O disco peca em algumas coisas, pois me pareceu meio aleatório nas transições de alguns trechos de músicas, mas depois da terceira audição eu consegui entender o sentimento das músicas e entrar de cabeça no disco. Assim que saiu, talvez por eu já ser fã, eu tava com o hype muito alto e me decepcionei um pouco, mas depois de ouvir com calma e tentando diminuir as minhas expectativas, o disco ficou melhor. Cada vez que escuto, acho ele melhor. Talvez o melhor disco da banda nessa nova fase “não metal”, desde o Pale Communion. Coloque pra tocar, e prepare-se pra uma viagem no tempo. Um disco atual, com sonoridade dos anos 70. Uma mistura que é boa demais pra gente ignorar. Ouça “Heart In Hand” em loop. Esteja avisado.

5. Slipknot – We Are Not Your Kind

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Pra quem já foi meio “hater” de Slipknot, ter um disco deles na minha lista é uma prova de como a gente pode mudar de ideia e evoluir. Tudo começou por causa do excelente jogo de Playstation, Guitar Hero, que tinha uma música do Slipknot lá. E eu fiquei, “olha… até que é bom isso hein!”. Que bom que o mundo dá voltas e meu nariz torcido pras bandas de New Metal acabou. Desde então, acompanho a carreira da banda e sempre acabo gostando bastante dos discos, mas no We Are Not Your Kind eles realmente foram pra outro nível. Não que o anterior “.5: The Grey Chapter”, não tenha sido bom, mas acho que a banda alcançou uma maturidade impressionante. É um disco plural e que explora outros jeitos de se fazer metal pesado. Tem músicas agressivas e rápidas como “Unsainted” e a “semi-balada” “A Liar’s Funeral”, que começa lenta e do nada o peso vem e fica brutal. Nem tenho muito o que comentar da produção e da mixagem que foi feita pelo gênio Joe Barresi, que vou falar um pouco mais no primeiro da minha lista. Se você gosta de metal, mas tem preguiça de Slipknot por não ser “true”, escute esse disco e mude de ideia.

4. Baroness – Gold & Grey

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O Baroness é uma banda que sempre ouvi como trilha sonora. É uma banda agradável de rock, com sonoridade meio retrô que sempre foi meio que trilha sonora dos meus dias de trabalho ou andando de volta pra casa. Mas ainda não tinha nenhum disco que eu pensasse, “Nossa! Que disco perfeito!”. Bem, parece que as coisas mudaram não é mesmo? Engraçado que minha relação com o Baroness é tipo dessas bandas que você gosta, mas não corre atrás, não sabe o nome dos integrantes, não sabe como que eles são… apenas escuta e curte. Uma relação puramente musical. Mas ouvindo o disco Gold & Grey, finalmente despertou o meu interesse pela banda. “Meu deus? Quem são eles? De onde vem? Pra onde vão?”. Pesquisando mais sobre a banda descobri quem são os integrantes, quem entrou, quem saiu e quando vou conseguir ver um show deles. Em 2017 o guitarrista Peter Adams saiu da banda e quem entrou em seu lugar foi a excelente Gina Gleason. Ela que tocava guitarra para o Circo de Soleil antes de conseguir essa vaga no Baroness. Depois de ouvir esse disco, voltei a ouvir as coisas anteriores da banda e sim, agora ela me pegou. Muitas vezes a gente precisa de um tempo e as bandas também precisam de um tempo pra chegar num nível emocional de qualidade que você simplesmente se apaixona sem nem saber. E que eles continuem melhorando.

3. Lizzo – Cuz I Love You

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Confesso que a Lizzo foi a grande surpresa pra mim, e pra muita gente também em 2019. Apesar de Cuz I Love You ser o terceiro disco dessa artista sensacional, parece um disco de estreia. Além de indicada nas premiações como artista revelação, o que fez muita gente torcer o nariz por esse ser o terceiro disco, mas a vida é assim. Você vai tentando, faz e faz até chegar a um nível que não podemos mais ignorar. É um prazer pra mim colocar no meu pódio, uma artista que representa muita gente. Com uma voz que entra na alma, com letras debochadas e melodias que grudam na cabeça. Suas músicas são pra agitar, animar o seu dia. A produção nem se fala, a mixagem perfeita. É um disco de R&B, Hip Hop e claro, Rock. A Lizzo é dessas pessoas que você olha e fica com vontade de ser amigo. Ela deve ser muito divertida. Tenho certeza que Cuz I Love You, é um disco que ficou pra historia dessa década e com certeza, ela será mais reconhecida e ainda vai lançar ainda muitos hits como Juice ou a ótima Cuz I Love You. Um disco pra todos os gostos. O importante é se divertir. Vá se divertir com essa mulher maravilhosas.

2. Periphery IV: Hail Stan

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Como já citei falando do Opeth, falar de Metal Progressivo pra mim é fácil, mas falar do Periphery é mais fácil ainda. É uma banda que tem tudo que eu sempre gostei. Peso, progressão, ritmos complexos, agressividade, letras boas, melodias melancólicas e bonitas, um baterista surreal, riffs de guitarra surpreendentes e integrantes que trazem um pouco do seu próprio ponto de vista pra fazer uma banda maravilhosa. Desde o Periphe II eu não me empolgava tanto com um disco deles. É claro que gostava por já ser meio fanboy, mas nada tinha me emocionado por completo. Uma música aqui e ali sempre foram apreciadas nesses dias que a gente coloca uma música em loop e escuta por 3 horas seguidas. Isso não aconteceu com esse disco, porque ele é todo maravilhoso. Começa com uma pedrada de 16 minutos que você até perde o fôlego. Quando escutei a primeira vez, achei que a banda tinha gasto todos os cartuchos na primeira música, mas o disco continua em altíssimo nível. E pra quem acha que o Periphery é apenas uma banda incrível de “Djent”, que faz sucesso dentro de um nicho, não podemos esquecer que esse disco chegou na posição 64 da Billboard Top 200 e em número 1 da Billboard de discos Independentes. Se tudo isso que descrevi, ainda não te despertou a curiosidade pra ouvir o Periphery, bem, eles são uma mistura de tudo que o metal moderno precisa. Então vá de cabeça aberta que o Periphery IV: Hail Stan, vai te fazer bater cabeça, se emocionar e principalmente, apertar o play de novo pra ouvir o disco todo assim que ele terminar.

1.  Tool – Fear Inoculum

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Vou abrir esses texto sendo bem dramático, afirmando que o Fear Inoculum do Tool é o melhor disco de Rock / Metal dos últimos 23 anos. Sim, é isso mesmo que você tá lendo. “Mas Bruno Leo Ribeiro, você não tá exagerando um pouco?”. Bem, 23 anos atrás eu tinha 15 anos e, com essa idade, eu já era assinante da clássica revista Rock Brigade e acompanhava tudo que dava. Quando veio a internet, consegui ouvir tudo que sempre quis. Desde então, acompanho quase tudo que posso dentro dos nichos que me identifico mais. Rock, Rock Progressivo e Metal no geral. E nos últimos 23 anos o disco que me fez sentir o que senti ouvindo o Fear Inoculum, foi o Roots do Sepultura. Engraçado que sempre faço esse paralelo que tudo que foi lançado antes do Roots, eu considero Metal Clássico e tudo que foi lançado depois é Metal Moderno. Então basicamente eu acabei de coroar o Fear Inoculum o melhor disco de Rock / Metal Moderno de todos os tempos. O Tool é uma banda que sempre gostei muito. O Lateralus eu ouvi até cansar, o 10000 Days também. Fiquei horas decorando as quebradas de bateria e tentando tirar os riffs de guitarra. Li sobre teorias da matemática do Tool e tudo que poderia explicar um pouco racionalmente o que sinto emocionalmente com a banda. O Tool me leva para lugares da minha mente que nem sabia que existiam. Eles me dão um conforto musical que sinto com pouquíssimas bandas. Eles fazem um som que eu gostaria de ter inventado. Eles exploram a música de um jeito surpreendente mas sem ser complexo pelo simples prazer de ser complexo. Existe uma razão. Mas essa razão não é explicável. Quando ouvir o single Fear Inoculum, depois de 13 anos sem ouvir nenhum novo material da banda, minha cabeça explodiu. “Eles estão de volta!”. Isso que pensei. Depois de ouvir de novo pensei, “Valeu muito ter esperado esses 13 anos”. Pra quem não sabe, a banda ficou 13 anos sem lançar nada. Todos os fãs ficavam apreensivos com os rumores que eles iam finalmente pro estúdio. Mas a espera veio, veio, veio e finalmente acabou. Quando o disco saiu, escutei sem parar em loop por mais de semanas. Fiquei pelo menos 2 meses ouvindo pelo menos 1 música do disco. Cada semana, uma das músicas era a minha favorita. Pneuma é a melhor. Não, é Invincible. Se bem que 7empest é foda demais. Ahhhh! Eu não consigo decidir. A minha música favorita do disco é a música que to ouvindo naquele momento. E acho que depois de Roots do Sepultura, eu não me emocionava tanto com um disco. Será que agora, 23 anos depois, o Tool criou mais uma divisão temporal? Será que eles vieram pra mudar alguma coisa de novo? Bem, acho que pra mim, 30 de agosto foi o dia que o Tool veio e disse, “O Rock NUNCA VAI MORRER!”. E tenho dito.


Vinicius Cabral

Como não consigo ser sucinto no que diz respeito à listas (e, principalmente, porque 2019 foi o melhor ano da música pra mim desde 2016, pelo menos) não consegui ficar em apenas 10 destaques. A partir de uma lista geral de 20 álbuns que considero os melhores (internacionais) do ano, elenco abaixo os 10 primeiros com destaques e textos, e os demais apenas com comentários sucintos e como recomendação. Importante dizer que, a exemplo do que fiz em nosso podcast em 2018, desta vez sigo a lógica de separar os destaques internacionais dos nacionais. Como atuo no cenário brasileiro também como produtor, agitador e músico, não me sinto à vontade em rankear os discos nacionais, preferindo recomendar destaques que dizem respeito ao meu universo de gostos e afinidades pessoais. Espero que curtam!

20. 100 Gecs- 1000 Gecs

Uma loucura o debut do duo que chocou as jovens cabeças este ano. Em cada música, uns dois ou três gêneros diferentes sendo processados em um “coquetel” de beats e vocoders, digamos, extremos. Vale demais o play, mas tomem cuidado com o volume e já vão avisados: não dá (ainda) pra definir que som é esse.

19. CHAI – Punk

Indie-pop-punk japonês de primeiríssima qualidade, de um quarteto de meninas. CHAI é o tipo de banda que, embora remeta a tanta coisa dos anos 90, soa muito, mas muito atual.

18. Maxo Kream – Brandon Banks

Os beats de Trap mais autênticos, “secos” e “tradicionais” do ano. Brandon Banks traz todo o repertório de memórias (tensas) do Rapper texano, com as melhores e mais enérgicas características do Rap atual. Indispensável.

17. JPEGMAFIA – All My Heroes Are Cornballs 

Inquieto e experimental, Barrington DeVaughn Hendricks, o artista por trás de JPEGMAFIA, nos revela mais elementos de seu arsenal criativo, em uma obra que vai amadurecendo as (já fantásticas) ideias de suas mixtape de estréia (a Veteran, de 2018).

16. Sharon Van Etten – Remind Me Tomorrow

Belo disco de Rock Alternativo, de uma das cantoras-compositoras mais talentosas em atividade. Álbum que bebe da tradição do Punk-Alternativo, do Synth Pop Alternativo (Comeback Kid) e, de quebra, nos revela um universo pessoal e maravilhoso da artista. Destaque para Seventeen, um dos clássicos de 2019.

15. Billie Eilish – When We Fall Asleep, Where do We Go?

Difícil falar do fenômeno Billie em poucas linhas. Me restringirei, pois, à reflexão: se com 17 anos a cantora nos entrega este disco, já tão maduro, o que esperar dela nos anos que se seguem? Vida longa à grande revelação da música em 2019!

14. Denzel Curry – ZUU

Melhor álbum de Hip-Hop internacional do ano (sem dúvidas). Denzel segue extrapolando o gênero em suas performances rasgadas e com influências de Hard Rock e Emo, ao mesmo tempo em que confia nas barras e em letras tradicionais de Rap para narrar sua visão de mundo, seus conflitos e ideias. Em um ano em que o artista fez um cover (já histórico) de Rage Against The Machine, ele ainda nos deixou com um disco redondíssimo, com muito gosto de “quero mais” e hits estratosféricos (Speedboat, Ricky). 

13. slowthai – Nothing Great About Britain

Em meio a uma das maiores crises políticas da história do Reino Unido, o jovem rapper Tyron Kaymone Frampton, identificado com o experimental e ousado grime britânico nos traz um disco inquieto, nervoso, político. Se auto colocando em julgamento, sendo condenado ficcionalmente na forca e exigindo respeito da Rainha, slowthai aproveita e decapita também Boris Johnson em seus shows e no clipe da faixa-título. Um disco confrontacional e indispensável, de inquietação lírica e musical e beats completamente “desconjuntados”.    

12. Charli XCX – Charli

Embora não tão incrível quanto sua mixtape de 2016 (Pop 2), o álbum de estréia da Charli consagra tudo aquilo que venho falando sobre o new pop: crossovers experimentais, uso intenso e ousado do vocoder, beats e paredes underground sob melodias pop à lá Madonna e Britney. Em 2019 Charli se aproxima do estrelato máximo, com um disco que procura consolidar novas ideias estéticas para o desgastado pop mainstream. 

11. (Sandy) Alex G – House of Sugar

House of Sugar tinha tudo para ser meu disco indie preferido do ano, não fosse uma concorrência brabíssima e uma certa “inconsistência artística”, que é o que parece impedir Alex G de alçar vôos maiores. Como “vinhetas”, as canções vão se sucedendo com excelentes melodias e riffs alternativos, e o disco só não decola para o topo, em minha humilde opinião, pois falta um conceito agregador mais coeso. Na verdade, talvez seja essa a característica da obra de Alex: discos curtos e “difusos” que agreguem aleatoriamente grandes canções e nada mais. “Só” isso, hoje em dia, já não é “pouca bosta”.

10. Black Midi – Schlagenheim

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Após viralizar uma apresentação antológica para a rádio KEXP, com um Pocket Show em um hostel finlandês, Black Midi explodiu a cabeça dos fãs de Rock Alternativo, Post Rock e Math Rock, com uma mistura clássica entre os gêneros a um só tempo retrô e absolutamente nova. O que mais chamava atenção na apresentação, logo de cara, era a sensação de que a banda não tinha sequer um álbum pronto ainda (algumas das músicas foram apresentadas como “sem título”), mas já parecia um grupo veterano, cruzando micro-gêneros do alternativo de uma forma inusitada. Meses depois, chega a nós o magnífico Schlagenheim, que confirma a novidade mais marcante para mim de 2019. Com músicos dotadíssimos (observem o baterista), Black Midi desafia os nerds como eu a ficarem buscando referências, enquanto “cagam” solenemente para as mesmas, construindo seu som de uma forma original. Ainda ouviremos, nos próximos anos, muitos discos como este, “centrifugando” o legado de décadas de micro-gêneros do rock  em uma construção nova, autêntica e quase anárquica (no melhor sentido do termo). Destaques para bmbmbm e Ducter, duas das melhores músicas de “rock estranho”  que eu ouço em anos; uma mistura quase precisa entre Talking Heads, Fugazi e Tortoise que poderia, forçando a barra, meio que tentar definir o álbum todo … imperdível!

9. Solange – When I Get Home

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A essa altura do campeonato, é impossível não elencar o disco anterior de Solange, o A Seat At The Table, de 2016, como um dos melhores e mais influentes álbuns da década. Elevando o Soul e o R&B contemporâneo à perfeição com timbres, estruturas e produções absolutamente atuais, Solange cruzou todas as linhas possíveis e conectou diferentes universos da música contemporânea. Há aqui, portanto, uma clara tentação de comparar as obras, o que é hiper injusto com este When I Get Home, mais um disco meticulosamente desenhado por Solange, seus produtores e parceiros. Se não possui o ineditismo contextual e central de A Seat At The Table, superficialmente o álbum novo soa como uma continuação “de luxo”. Cavando mais fundo, porém, podemos ver a artista extrapolando os limites do que é possível fazer em um só disco, com parcerias que vão de de Pharrel Williams a Standing on The Corner e, pasmem (!!), Panda Bear. Esses “riscos” ficam bem claros em canções como Jerrod, Binz e Almeda, todas bastante ousadas. O disco já começa com uma “trupicada” de copia-e-cola de versos da artista (Things I Imagined, no estilo “chopped“, consagrado por remixes de internet) e segue alternando hits Soul como Down With the Clique, Way To the Show, Dreams e Stay Flo com interlúdios e pérolas proto-experimentais como as já citadas. Almeda, com produção de Pharrel e participação de The Dream e Playboi Carti, é para mim a grande música do ano; o beat indecifrável, o refrão “chiclete” e a letra sempre precisa e crítica de Solange, vão permitindo a entrada dos já tradicionais e incríveis adlibs de Carti, enquanto a música se “afunda” nos versos finais inusitados do artista, mudando de tom e se encerrando de forma ao mesmo tempo “líquida” e épica. Só Solange mesmo, com um time pesado como este, para começar a revelar, passo a passo, como as inovações vocais de Playboi Carti podem contribuir para uma nova forma de se compor e produzir canções. Não estou dizendo com isso, no entanto, que o jovem artista rouba a cena. O “evento” Almeda é só mais um índice da visão grandiosa de Solange: em disco, filme (há uma versão audiovisual de meia hora do trabalho) e performances, como na antológica apresentação recentemente veiculada no Jimmy Fallon, Solange se impõe, mais uma vez, como uma das mais completas multiartistas da nossa época. Grande álbum, com peças centrais importantes e marcantes que, certamente, ultrapassam as barreiras temporais de 2019.

8. Helado Negro – This is How You Smile

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Roberto Carlos Lange, mais conhecido como Helado Negro, chega a seu sexto álbum, para muitos, como um luxuoso desconhecido. Não há de fato em sua obra, ofuscada talvez por tantas outras experiências meio indie-drone-experimentais de meados da década, tantas coisas que merecessem um destaque maior. Mas parece ter chegado a hora deste americano, filho de equatorianos, ter o seu destaque. Antecipado pelo magnífico single Running, o disco é impecável. Mostra todo o arsenal de texturas dream pop, conectando-as à tradição de um cancioneiro de rock latino certamente adormecida ou estereotipada por figuras como Devendra Banhart. Seja na beleza de Todo Lo Que Me Falta ou nos synths suaves e espaciais da faixa de abertura, Please Won’t Please, Helado Negro conquista um lugar ainda não ocupado no cenário musical atual: o do compositor capaz de seguir o legado alternativo de grupos como Beach House, Deerhunter, Animal Collective, Grizzly Bear ou até mesmo Bon Iver (que mais uma vez me decepcionou este ano) com traços identitários muito próprios e marcantes. E é numa mistura entre Panda Bear e Charly García que se encontra este Roberto Carlos americano, sussurrando suas letras intimistas em meio a drones de synth precisos (Fantasma Vaga), aludindo ao rock independente espanhol com seus violões (País Nublado), ou simplesmente entregando interlúdios dreamy deliciosos (November 7). Um disco a ser degustado com bastante calma, tempo e carinho, ao contrário do que o clássico imediato Running pode, superficialmente, sugerir.

7. Weyes Blood – Titanic Rising

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Há algo de muito marcante em Titanic Rising. Já víamos há algum tempo, na própria obra da cantora e compositora Natalie Mering, e em toda uma linha do Rock americano (de Mac Demarco aos associados Drugdealer, Homeshake, U.S Girls, etc) todo um flerte com o Pop Folk dos anos 70. Se The Carpenters já era uma banda “madrinha” do Indie (vide a obsessão de Kim Gordon e da sua Sonic Youth com a figura de Karen Carpenter), talvez faltassem acenos a uma parte mais “densa” do cancioneiro americano da época. Curiosamente, esta década abriu o caminho para essa espécie de revival, com inúmeras bandas e artistas buscando inspiração em James Taylor, Carole King, Joni Mitchell, sem contar, claro, no legado mais do que inestimável das sempre lembradas The Beatles e The Beach Boys. Titanic Rising, quarto álbum de estúdio de Weyes Blood, parece mergulhar neste universo dos anos 70 (inevitável não observar a relação vendo seu clipe para Everyday), adicionando às características da composição Rock Pop da época um aspecto cinemático digno de grandes artistas, com grande visão conceitual do todo e um senso estético que se constrói desde a capa e vai desaguar (neste caso literalmente) na visão épica de um espetáculo de fato cinematográfico (vide o clipe de Movies). Weyes não se cansa, em apresentações ao vivo e em entrevistas, de fazer referência à sua paixão pelo cinema, pelas trilhas de filmes e pelo universo imagético-imaginativo proporcionado pelas imagens em movimento. E é por aí que constrói um disco cheio de camadas, violões, orquestrações, baladas inesquecíveis (impossível não lembrar de Joni Mitchel em Wild Time, Something to Believe) e rocks mais diretos e pop (Everyday, Andromeda). Apesar de denso, Titanic Rising é um álbum acessível e agradável. Bom para se ouvir não apenas para traçar as referências tão claras que aponto aqui, mas também para se apreciar o arsenal de uma artista que, apesar de relativamente jovem, já carrega um gigantesco repertório artístico.  

6. Cate Le Bon – Reward

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Para começar a definir essa artista brilhante, tomo emprestadas as palavras de Jeff Tweedy, do Wilco: “é raro hoje em dia as pessoas terem um som específico, mas eu sempre consigo dizer quando é ela tocando guitarra”. De fato, não conseguiria, dentre os discos dessa lista destacar outro que seja tão … específico. Os timbres, tons, a métrica particular, a voz grave atravessada (ou duplicada) por melodias dissonantes de guitarra, enfim; tudo em Cate Le Bon soa diferente, próprio e particular. Talvez seja pela tradição galesa de um estranho e inventivo guitar driven indie que a artista acaba reverenciando, apadrinhada por atos como Gruff Rhys (Super Furry Animals), a quem Cate acompanhou em sua turnê solo de 2007, ou Gorky’s Zygotic Mynci, a banda mais estranha e particular da história do Rock Alternativo. Mas talvez seja mais por seus próprios méritos; Cate Le Bon (nascida Cate Timothy) interpreta essas sonoridades próprias de outras bandas Indie galesas com sua voz e guitarra inconfundíveis. Em Reward, casadas às guitarras, os pianos elaboram de forma magnífica as composições (como vemos no arpeggio absurdo, simples e esquisito de Here It Comes Again, minha faixa preferida do álbum). Do início ao fim, não há faixa que entregue facilmente à que veio. Mesmo no loop da canção de abertura, Miami, não é fácil acostumarmos imediatamente com a forma particular de Cate em “descascar” a canção. Camada por camada, a artista parece ir desnudando a natureza narrativa que constrói, seja pela repetição dos riffs estranhos, seja pelas melodias inesquecíveis que consegue emendar entre as partes melódicas. Cate Le Bon já havia mostrado em seus discos anteriores (este já é seu sexto trabalho) várias das características que exalto aqui, mas talvez sua proposta estética nunca tenha soado tão acabada, coerente e perfeita quanto em Reward, disco que só não coloco como melhor ano ano porque … bom, já já vocês saberão porque!

5. Angel Olsen – All Mirrors

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Após um rompimento traumático durante a turnê de seu álbum My Woman, Angel Olsen resolveu se isolar e voltar às origens lofi para se reconectar consigo mesma e compor seu próximo álbum. Foi para uma cidadezinha no interior de Washington, e saiu de lá com um álbum que ainda não ouvimos. Meses depois, regravou o mesmo disco com arranjos de cordas, produção grandiosa e todo o reverb que poderia existir. Nasceu este All Mirrors, disco gigantesco e inesperado, grandioso e construtivo. Em meados dessa década, com o Burn Your Fire For No Witness, Angel já começa a construir uma base de fãs e uma influência única na cena, representando a recente tradição de cantoras-compositoras indie com a potência de um verdadeiro ícone. Seu disco de 2016, My Woman é impecável lírica e musicalmente, mas também tem hits que acabam projetando ainda mais a jovem artista (Shut Up Kiss Me, Sister, Woman). Ao se reconectar consigo mesma, no processo de isolamento que deu origem a seu álbum mais recente, Angel provavelmente se perdeu mais do que se encontrou, o que é possível observar nos lamentos e na auto reflexão intensa deste maravilhoso All Mirrors (que já no refrão da faixa título anuncia: All Mirrors Are Erasin’ … trata-se mais de um apagar, uma reconstrução, do que de uma “cura”). Musicalmente Olsen acena para a tradição do French Pop com autoridade de veterana, e explora novas sonoridades; na faixa de abertura, Lark, toda a experiência afetiva da artista é processada em uma canção dinâmica de estrutura incomum, melodias fortíssimas e orquestração ousada. A faixa título é quase um Synth Pop, marcada pelo estilo vocal característico da cantora que, desta vez com mais reverb, deixa clara a influência do 60’s Big Band Pop (incluo aí, claramente, Françoise Hardy, Serge Gainsbourg e a tradição do rock francês da época). Too Easy é um deleite, com Synths e uma ponte-refrão irresistível fechando a música. Logo na sequência, New Love Cassette mata nossos corações com um refrão perfeito e um interlúdio com “ataques” de cello dignos, sim, de Gainsbourg no clássico Histoire de Melody Nelson. A setentista Spring abre outros caminhos para o disco, que segue beirando a perfeição pelas faixas seguintes. Embora seja tentador detalhar uma a uma, basta dizer que Impasse e Tonight são duas baladas mais arrastadas que dão uma “emperrada” na metade final do disco, mas isso não distrai ou atrapalha a experiência total, porque ainda temos Summer, Endgame e Chance, encerrando o disco em um nível altíssimo. Se Angel Olsen já era uma artista relativamente consagrada, a partir deste seu All Mirrors é difícil dizer onde ela irá parar (e tomara que não pare!).

4. Big Thief – U.F.O.F.

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Já cansei de declarar o que repetirei aqui, a título de registro histórico: Big Thief é a banda do ano. Não bastasse a química do grupo ao vivo e a magnífica competência com que harmonizam e arranjam as composições de Adrienne Lenker, a banda quebra em 2019 absolutamente todas as expectativas lançando dois álbuns em menos de cinco meses. O primeiro deles, este U.F.O.F., é uma verdadeira obra prima. Em seu terceiro trabalho, fica bem clara uma evolução que permite com que, apenas com violões, guitarras, baixos e baterias (num lineup totalmente clássico) se “preencham” as melodias de Lenker de uma forma absolutamente precisa. Os arranjos simples e pontuais conseguem, a um só tempo, destacar a emoção da frontwoman e compositora, e ainda assim se impor na estrutura das canções. Se o que define musicalmente a banda é essa precisão, rara e incrível, liricamente Lenker parece por alguns instantes (mas só por alguns instantes) se distanciar do universo intimista e autobiográfico dos outros álbuns para mergulhar nos meandros de dilemas afetivos e questionamentos metafísicos com um senso poético que é de dar inveja em qualquer compositor. Da faixa título, é fácil pegar um exemplo claro disso: “there will soon be proof that there is no alien/ just a system of truth and lies and reason/ the language and the law of attraction”. A linguagem e a lei da atração … o poema mais poderoso da grande canção do disco, uma das melhores do ano. U.F.O.F. segue encantando a cada verso, da cacofonia lírica de From (no one can be my man, be my man, be my maaaaan) à potência roqueira de Jenni, e às (já clássicas, folksy, íntimas e perfeitas) Cattails, Orange, Strange (bom, todas as faixas são lindas, de verdade!), cada canção deste disco abre um portal para outros lugares; desconhecidos, mas ao mesmo tempo relativamente familiares. E tudo, sempre, com a destreza de uma banda que consegue, em pleno 2019, te emocionar com o básico, mostrando que a música continua não precisando de nenhum grande aparato tecnológico, digital ou imagético para fascinar os ouvintes mais sensíveis (importante notar, neste sentido, que não há videoclipes para nenhuma canção deste álbum, apenas múltiplas apresentações ao vivo das principais canções da tracklist). Big Thief dominou boa parte do meu ano, e tem figurado com destaque (merecido) em diversas listas de melhores do ano por aí.

3. FKA Twigs – MAGDALENE

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Sim, esta Magdalene é Maria Madalena. A figura bíblica. A prostituta, nas leituras convencionais. A mulher, digna de compaixão e salvação cristã por se entregar aos pecados da carne. Em leituras mais modernas e adequadas, porém, Madalena é um dos amparos mais sólidos de Cristo em sua caminhada. A base, a estrutura, a “mulher por trás do homem”, como veio a se tornar (infelizmente) tão comum. FKA poderia ser isso: a artista incompreendida e rotulada, a “novidade sexy” da indústria, a “namorada do vampiro Pattison”. Felizmente, os tempos são outros, e FKA trucida qualquer rótulo com seu talento único e sua visão artística privilegiada. É cantora, compositora, performer, dançarina. Como Madalena, FKA (ou Tahliah Barnett) são muitas. Desenvolve todos os papéis que deseja, não aqueles que o mundo patriarcal e machista desenhou para ela. E em seu segundo full album, a multiartista já marca seu papel na cena musical com uma autoridade inquestionável. MAGDALENE, além de ser um álbum de afirmação e invenção, é um disco motivado pela dor. Seja a dor física dos seis tumores fibroides que Tahliah retirou de seu útero, do tamanho de frutas  (“apples, cherries, pain …” ela canta no single Home With You), seja a dor psíquica das crises do coração. A dor que move uma arte em estado bruto, desabafando sobre a cultura do espetáculo (na abertura impressionante Thousand Eyes), sobre separações (Sad Day, Fallen Alien), ou sobre a missão feminina que empresta o conceito ao trabalho (Mary Magdalene). Com um time de produtores que inclui a própria FKA, Nicolas Jaar, a trans venezuelana Arca, Skrilexx (!!!) e Jack Antonoff (braço direito também de Lana Del Rey em seu último álbum), MAGDALENE traz os crossovers sonoros mais ricos do ano. Enquanto a pegada eletrônica dos beats flerta com uma espécie de New Pop (que tenho destacado muito aqui) da galera da PC Music e de Charlie XCX (entre outras), as letras intimistas e o clima Kate Bushiano das performances vocais destacam o ineditismo e brilhantismo do álbum. Uma obra diversa, que agrada tantos os ouvintes mais afeitos às tendências contemporâneas (Holy Terrain) quanto aqueles que anseiam por obras mais densas, conceituais, que retomam a potência que somente os grandes álbuns têm: a de nos fazer mergulhar em um universo particular para sair dali transformados, provocados, instigados. Da linda balada que fecha o disco (Cellophane) à perfeição harmônica e composicional de Sad Day, Tahliah nos encanta a cada verso, criando uma das obras definidoras do ano. Uma obra prima que ultrapassará, facilmente, os limites do ano (quiçá da década).

2. Big Thief – Two Hands

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Eu não me lembro de nunca, nos anos recentes ou em tempos mais remotos, ter listado dois álbuns de uma mesma banda em um recorte de “melhores do ano”. Isso porque raramente vemos uma banda fazer algo do tipo; lançar duas obras no intervalo de cinco meses. Em alguns nichos, como no trap, é comum as mixtapes se acumularem. São contextos, é claro, onde o excesso é quase uma metodologia. Não faria sentido para uma banda intimista e pouco prolífica fazer isso apenas pelo hype, ou para se manter nos holofotes. Quando dei meu primeiro play em seu segundo álbum lançado no mesmo ano, após já ter sido completamente fisgado pelo U.F.O.F., soube de cara que se tratava não de estratégia, mas de puro talento e urgência artística. Two Hands não é uma continuação ou complemento do álbum anterior. É um trabalho autônomo e independente, que deve ser elencado e analisado desta maneira diante da discografia da banda. Em seus dois discos anteriores, o Masterpiece, de 2016 e o Capacity, de 2017, o grupo já havia encontrado um equilíbrio perfeito entre os arranjos indie folk sutis e as melodias e letras autobiográficas, nem sempre agradáveis, de Adrienne. Criada em uma seita religiosa isolada, a artista teve uma infância difícil, enfrentando os desafios de ter pais muito jovens e lidando com todo tipo de abuso psicológico e afetivo. Todo esse peso marca profundamente a experiência artística da compositora desenvolvida em lançamentos anteriores. Em petardos como Magnificent Beauty, Mary, ou no single Mother, essas dores e enfrentamentos do passado vem à tona, na construção de uma obra total e visceralmente autoral. Se em U.F.O.F. adrienne parece mergulhar com seus traumas por outras esferas, em Two Hands voltam as imagens mais gráficas do passado que ela processa de forma tão intensa (“And the blood of the man who killed my mother with his hands/ Is in me/ It’s in me/ In my veins” … ela canta gritando em Shoulders). Mas não é só do passado tenso que vive Two Hands. Aqui, assim como em U.F.O.F., entra em operação uma banda rara em atividade … um conjunto perfeito. Para sacramentar está minha tese tão forte, apenas imaginem que este disco foi gravado em um esquema totalmente old school, com os músicos tocando ao vivo e com quase nenhum overdub. Um feito impressionante, que de quebra empresta ao registro fonográfico uma urgência e energia mais direta e roqueira, como fica super evidente nas já clássicas Forgotten Hands, na faixa título e na perfeita Not, que a banda tem tocado ao vivo em praticamente todos os shows recentes. O mais curioso para mim é que, se U.F.O.F. parece mais acabado, ou melhor “definido” em certo sentido, incluindo coesão em termos de conceito e tracklist, Two Hands traz as melhores canções separadamente. É claro que se amarram bem no conjunto, mais enérgico, direto e barulhento, mas não chegam a superar o U.F.O.F. em termos, digamos, absolutos. Ainda assim, sou inclinado, pela enorme potência das canções deste álbum, e pela forma com que ele foi produzido e gravado, ficar com ele reinante em meu pódio, quase invadindo a primeira e mais importante colocação. Não custa repetir: Big Thief é uma banda rara, única, fenomenal. Marca poderosamente a década, e ainda está apenas em seu quarto álbum.

1. Lana Del Rey – Norman Fucking Rockwell!

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Norman Rockwell foi um ilustrador e artista plástico americano. Eternizado pelas 323 capas da revista The Saturday Evening Post e por representações idílicas do cotidiano interiorano estadunidense, consolidou sua influência e importância retratando figuras de poder, como os presidentes  Eisenhower, John Kennedy, Lyndon Johnson e Richard Nixon e a atriz Judy Garland. Indubitavelmente o artista ajudou a construir o conceito do american way of life, hoje já tão decadente. Elizabeth Woolridge Grant, a famosa Lana Del Rey, soube desde o início de sua carreira chafurdar nessa decadência de forma absolutamente brilhante. Mas nem sempre foi reconhecida, ou propriamente admirada, por essa qualidade. Na verdade, quando Lana começou a surgir na cena, no início da década, muita gente (eu incluso) ficou absolutamente perdida, sem saber como categorizar a artista. “Diva Pop”?, “Fenômeno Indie”?, “Regurgito Hollywoodiano” ou simplesmente um pastiche? Uma década depois eu percebo que Lana não era nada disso (embora, em certa medida, seja isso tudo). Trata-se, simplesmente, de uma artista iluminada. Uma compositora rara e brilhante à altura de algumas das referências fundamentais do cancioneiro americano (coloquemos aí, sem dó, James Taylor, Carole KingTodd Rundgren e até mesmo Joni Mitchell). Em Norman Fucking Rockwell! não demora para isso ficar absolutamente transparente. O arranjo de cordas que inicia a primeira faixa (faixa título) anuncia o refrão que dá início ao trabalho, com um “cheirinho” indiscutível de clássico (you’re just a man/ and that’s what you do). Daí em diante, pela primeira vez em sua carreira Lana nos apresenta um conjunto de canções absolutamente impecável, não deixando nenhuma dúvida a respeito de suas motivações: mergulhada no decadente imaginário americano de sucesso e triunfo, Lana é um produto das idealizações impossíveis de uma cultura superficial. Mas não seria ela própria, mais substância do que superfície? Nas três faixas iniciais do disco ela registra melodias inspiradas com veia folk (não devendo nada, de verdade, à uma Joni Mitchell), nos arrebatando com Venice Bitch, um verdadeiro épico de mais de 9 minutos e uma estrutura inesquecível. Dali em diante, flerta com momentos mais pop de sua carreira (Fuck It I Love You, The Greatest e Next Best American Record), enquanto em baladas como Love Song deixa bem claro que não está pra brincadeiras, trazendo uma estrutura melódica que só pode nos lembrar mestres da composição pop como Paul McCartney (acreditem, eu não estou exagerando): estrofe, refrão perfeito, ponte inesquecível e dramática, com progressão decrescente e todas as “tensões” harmônicas que nos trazem arrepios (por falar em pontes e arrepios, impossível não voltar a Venice Bitch, cuja ponte me tira do sério com o falsete que Lana introduz sobre os versos melancólicos: “You’re in the yard, I light the fire/ And as the summer fades away”).  A única canção propriamente upbeat do disco também não é, de forma alguma, um exercício acidental. Trata-se de um cover de Doin’ Time da banda Sublime, uma apologia ambulante ao imaginário ensolarado de Venice Beach. Se musicalmente Lana nos arrebenta de vez, com canções e arranjos perfeitos, liricamente a compositora confronta a masculinidade patriarcal, numa espécie de catálogo de “machos nocivos”: o macho artista (Norman Fucking Rockwell) que não consegue parar de falar de si mesmo; o macho que precisa arrumar briga no bar para reforçar sua masculinidade e desviar de sua incapacidade de se desenvolver emocionalmente; o macho oportunista, que procura sua “vagabunda” apenas quando quer se divertir (sim, ela mesmo se auto intitula a Venice Bitch, cantando em Mariners Apartment Complex: “And who I’ve been is with you on these beaches/ Your Venice bitch, your die-hard, your weakness”). Seja demonstrando frustração pelo papel que exerce neste universo de idealização machista, seja se conciliando com suas próprias dores causadas por estes e outros traumas, Lana Del Rey consegue, de forma absolutamente sincera, gerar empatia até em que não sofre o que ela sofre. A dor e a profundidade com que interpreta os versos da canção final do álbum (“Cause hope is a dangerous thing for a woman like me to have/ Hope is a dangerous thing for a woman with my past”) são capazes de trazer a qualquer alma um pouco mais sensível a percepção muito clara de que os complexos provocados por este mundo patriarcal (seja nos próprios homens, seja em suas companheiras, ocasionais ou permanentes) atingem raízes e criam feridas muito mais profundas que, muitas vezes, só conseguimos acessar (ou tentar curar) através da arte, da beleza, da expiação. Pra finalizar, o que posso dizer é somente isso: bem vinda, Elizabeth Woolridge Grant, ao hall das maiores compositoras e intérpretes de todos os tempos. Norman Fucking Rockwell é um disco que já está na história*.

* E eu escrevo isso no dia em que a revista NME elege Videogames, single da artista de 2011, como a melhor canção da década.

Destaques Nacionais:

Em que pese a dificuldade de não rankear os discos nacionais, este é um exercício necessário, ao menos para mim. Em mais um ano difuso, com muitas tendências conflitantes e demasiadamente “nichadas”, a música brasileira segue seu calvário de não contar, já a algum tempo, com fenômenos pop “agregadores”. Na minha humilde opinião as melhores e mais inovadoras ideias estão aprisionadas em nichos, enquanto os artistas mais populares seguem se alimentando desses nichos sem uma concatenação central que configure qualquer tipo de “cena”, movimento ou potência. Os figurões da MPB seguem em seus castelos de mármore, enquanto os “marginais” desta onda (Jards Macalé, Elza Soares) entregam obras definidoras e representativas de todo um ano de porradaria e tensão. 2019 viu o ápice do Funk 150 BPM, com dezenas de músicas batendo recordes de plays e ganhando os palcos do Lollapalooza (com Kevin o Chris no palco com o Post Malone) enquanto um dos ícones do movimento (o Dj Rennan da Penha) estava preso sem nenhuma prova. Para entendermos a potência do movimento, Ela é do Tipo, hit absoluto do Kevin, foi regravada por ninguém menos do que Drake. Gostem ou não, o Funk brasileiro é hoje a expressão cultural mais influente internacionalmente do país. Além disso vimos também a consolidação internacional de Pablo Vittar, com participação no disco da Charli XCX, e o lançamento de alguns álbuns bem consistentes na cena indie e da cena do rap. Como eu disse, são movimentos que não se cruzam, não se conectam e não apontam uma direção, mas que existem, ainda que isoladamente, com potências múltiplas. Por fim, nesta análise que sempre fazemos dos álbuns, fica novamente uma questão que não quer calar: porque a nossa produção fonográfica é tão tímida? Ao fazermos listas e analisarmos as tendências da música, é impossível não notar que, aqui no Brasil, se custa a lançar álbuns “fechados”, com status de “obra”, enquanto os singles, shows e demais apresentações pontuais seguem sendo o principal veículo para boa parte dos artistas. Segue uma pequena lista de artistas que destaco deste ano tão complexo:
Rincon Sapiência: Como se diz por aí, “lansou as braba” no Mundo Manicongo: Dramas, Danças e Afroreps. Jards Macalé: Em plena forma, com o Trevas. Elza Soares: O que dizer da música Comportamento Geral? Paige: Artista revelação de BH. A Lizzo brasileira? Tantão e os fita: Álbum novo…porrada! Mafius: Revelação indie brasileira. Brescia: Artista promissor da cena mineira, forma com Mafius o duo Agito Apática e lançou dois trabalhos bem legais esse ano. Laso: Belo disco Djent/conceitual chamado Magenta. Fernando Motta e eliminadorzinho: O artista mineiro se junta à banda de SP para um EP bem legal.  Brvnks: Cantora-compositora indie, lançou o disco Morri de Raiva. Pra prestar atenção.  Vandal: Rapper baiano…ousado, promissor. Djonga: Consagrando-se com o disco Ladrão e shows marcantes. Sidoka: O mais interessante da cena Trap BR pra mim! Lançou o brabo Language.


Márcio Viana

Até pouco tempo antes de começar a elaborar a lista, eu achava que não tinha ouvido muita coisa este ano. Aí fui fazendo a seleção, escutando conforme me lembrava e relacionando, aí percebi como a tarefa seria difícil.

Bom, eis o ranking! Do vigésimo ao décimo primeiro não tem realmente ordem de preferência, são coisas que poderiam estar em qualquer posição na lista.

20. Beto Cupertino – A gente vai encontrar sossego

Beto Cupertino, vocalista da banda goiana Violins, lançou em 2019 o disco A Gente Vai Encontrar Sossego. É um álbum mais leve e mais esperançoso do que o primeiro, Tudo Arbitrário. Entre os destaques, Calma Cara, um belo chacoalhão em quem se sente desanimado:

Calma cara, isso é normal / Não se cobre como um super humano / Não há satisfação pra dar / Cada um é seu próprio demônio. Outro bom momento é Dizer adeus é fácil (quando o destino é logo ali). Disco levinho, bom de ouvir passando manteiga no pão numa manhã de domingo enquanto se pensa na vida.

19. Laso – Magenta

Esse disco me impressionou bastante, até por ser a primeira vez que eu ouço algo com o rótulo do djent (ouça nosso episódio #65 sobre o estilo, com participação do próprio Laso). As letras de Mercúrio Retrógrado, com The Ogoin, Fragmentos, com Lucas Guerra, e principalmente nemsemprevaiserassim, com Fábio de Carvalho, que é verdadeiramente uma carta, são incríveis. Disco muito bonito e agradável.

18. Dario Julio e Os Franciscanos – O Menino Velho da Fronteira

Novo projeto de Dary Junior, ex-Terminal Guadalupe, este trabalho começou a ser criado em 2017, e foi projetado para ser um disco de memórias pantaneiras. Radicado em Curitiba, Dary é de Corumbá, no Mato Grosso do Sul, e resolveu escrever um álbum com lembranças da juventude. Nessa receita, tem o som da música popular das que tocavam em rádio AM, a poesia de Manoel de Barros (especialmente em Como Dizia o Poeta) e muita emotividade.

17. Deerhunter – Why Hasn’t Everything Already Disappeared?

Em seu oitavo álbum de estúdio, o Deerhunter canta um mundo distópico. A sonoridade acompanha esse sentimento.

Nem tenho muito o que falar sobre este álbum, apenas que saber da temática faz com que ouçamos o disco com uma impressão diferente. Dá um certo nó na garganta.

16. Angel Olsen – All Mirrors

Um álbum de arranjos grandiosos para letras com uma dose forte de melancolia, algumas (auto) ironias e muita beleza. Algumas delicadas passagens instrumentais permeiam o disco todo.

15. Tool – Fear Innoculum

Sobre este disco, eu prefiro terceirizar a opinião: acredite no que diz Bruno Leo Ribeiro.

Tá, vou falar só uma coisa: é um álbum muito inventivo e inspirador. Faz a gente querer ouvir toda a discografia da banda em sequência.

14. Sharon Van Etten – Remind me Tomorrow

Essa cantora não erra nunca. É impressionante. Em Remind me Tomorrow, ela apronta um conjunto de canções embaladas pelo sintetizador, predominantemente. Um disco de pouco mais de meia hora de música, que nos faz clamar por faixas bônus.

13. Faye Webster – Atlanta Millionaires Club 

Estou fascinado pela descoberta desta jovem cantora, que revisita os anos 1960 e 1970 com muita personalidade. Ela se entrega completamente às canções, que despejam sentimentalismo, sem ser clichê. Minha preferida do álbum é Flowers, com participação do rapper Father. Nesta, ela lembra um pouco o trabalho de Solange em seu álbum mais recente. O começo a capella de Kingston é coisa linda demais.

12. Lana Del Rey – Norman Fucking Rockwell!

Um disco que tem até uma cover de Doin Time do Sublime não tem como ser ruim. E não é nada ruim, pelo contrário! É incrível como Lana é cada vez mais dona do seu próprio trabalho, e faz desta cover uma música sua, sem mexer demais em sua estrutura. California também é incrível, e Hope Is a Dangerous Thing For a Woman Like Me To Have – But I Have It quebra tudo!

11. Bárbara Eugênia – Tuda

Bárbara é livre. Por isso mesmo, nossa entrevistada no episódio #35 apresenta seu arsenal já no começo, com o Bloco Pagu embalando Saudação. Na parceria com Zeca Baleiro no single Bagunça, ela brada “Não sei se é amor, mas arrepia a pele / Você partiu, levou meu disco da Adele / Eu que sonhava tanto, agora já nem durmo / Bagunça, bagunça, bagunça demais“. Em terreno seguro, ela conta ainda com Iara Rennó e Tatá Aeroplano, grandes amigos, para fazer tudo (ou tuda) o que tem vontade. É assim que faz quem é livre.

10. Barão Vermelho – VIVA

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Grata surpresa a reinvenção do Barão. O melhor álbum do grupo desde os anos 90. A banda soube se reinventar, trazendo o cantor Rodrigo Suricato para o lugar de Frejat. Junto com os fundadores Maurício Barros e Guto Goffi, mais o já veterano de banda Fernando Magalhães, Suricato trouxe um arejamento à banda. Ainda que seu timbre vocal lembre um pouco o de Frejat (e às vezes também o de Cazuza), é perceptível que é outra identidade, à altura da grandeza da banda. Por Onde For é ótima pra cantar junto, Eu nunca estou só tem refrão ganchudo, A solidão te engole vivo tem muita riqueza poética. Divertido e profissional, vale a ouvida.

09. Jards Macalé – Besta Fera

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O retorno de Jards Macalé às gravações se deu com a ajuda de uma turma da pesada. Sente só: Romulo Froes, Kiko Dinucci (que também produziu o disco), Juçara Marçal, Ava Rocha, Rodrigo Campos, Tim Bernardes.

A turma é bastante reverente ao mestre, e isso faz diferente. Trevas é incrível, Buraco da Consolação, parceria com Tim Bernardes, emula um Lupicínio moderno, e Valor é uma canção voz/violão autorreferente e autorreverente. Ele merece.

08.  Billie Eilish – When We All Fall Asleep, Where Do We Go?

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Eu conhecia muito pouco da cantora de 17 anos, até que bad guy me chamou a atenção depois que ouvi uma cover (que estranho uma música de 2019 já ter cover) em ritmo de ska, do grupo The Interrupters. O disco todo da cantora tem uma produção mínima, e esse é o grande mérito dela, de conseguir tirar grandes melodias com recursos tão lo-fi. Acho que o futuro lhe será gentil.

07. Nick Cave And The Bad Seeds – Ghosteen

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Nick Cave digere lentamente o luto. Como não poderia deixar de ser. Eu não recomendo a audição deste disco em dias tristes. Mas é necessário ouvir. São onze músicas, que fisicamente se dividem em um disco duplo (8 em um disco, 3 em outro. É completamente diferente de seu antecessor, Skeleton Tree.

Ainda é um disco de luto (Cave perdeu um filho em uma queda acidental de um penhasco, sob efeito de LSD), mas o cantor parece lidar com o caso com uma tranquilidade maior. Ouça a belíssima Waiting for You.

06. Jair Naves – Rente

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Li uma matéria em que Jair Naves dizia esperar que as músicas deste álbum soassem datadas, mas elas infelizmente se mostraram um diagnóstico antecipado dos tempos estranhos que vivemos. Qualquer busca por empatia a essa altura é ingenuidade, canta Naves, um Jair que vale a pena ser ouvido.

Nada é mais humano que a disputa por poder / nada é mais desumano que a disputa por poder, é o que diz a mais virulenta e necessária música do disco, Deus não Compactua.

NÃO TEM FIM!, grita em caixa-alta Jair Naves na mesma canção, para em outro momento do disco afirmar que Tudo Grita. É a vida. É o mundo. Jair Naves, hoje morando em Los Angeles, talvez pela distância física, soube  misturar a calmaria e o desespero em um álbum necessário para os nossos tempos.

05. L’Epee – Diabolique

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Da junção do mentor do Brian Jonestown Massacre, Anton Newcombe, com o duo/casal francês The Liminanas e a atriz Emmanuelle Seigner, surge este supergrupo denominado L’Épée, com o genial álbum Diabolique, gravado no sul da França e em Berlim, permeado por influências cinematográficas, psicodelia e vocais quase atonais. Tem aqui e ali uma influência de Velvet Underground ficando à mostra, mas com muita originalidade, diga-se.

Destaco aqui a faixa Dreams, mas também há bons momentos em Ghost Rider e na divertida faixa de abertura Une Lune Etrange.

04. The Who – WHO 

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Eles esperavam morrer antes de ficarem velhos. Ainda bem que não deu certo.

Bem, a banda não é a mesma, é claro. Os sobreviventes Roger Daltrey e Pete Townshend se viraram como puderam, e surpreendentemente bem: os atuais fiéis escudeiros, Pino Paladino (substituindo o lendário baixista John Entwistle) e Zak Starkey (que apesar de filho de um beatle, se influenciou mais por um membro do Who, o não menos lendário Keith Moon, a quem veio a substituir desde 2006), não fazem nada feio na cozinha do grupo, e o irmão de Pete, Simon Townshend, dá uma bela ajuda nas composições e em algumas bases.

Fato é que este WHO pode muito bem dividir espaço com grandes clássicos do grupo em um Top 10.

Então é isso: dá pra cantar junto e se sentir em uma arena de shows em Street Song, se emocionar em I’ll be back e curtir um blues rock em Ball and Chain, releitura do Who para Guantánamo, lançada por Townshend em 2015.

O rock and roll respira, gira o fio do microfone e faz alavanca com os braços enquanto lança riffs na guitarra.

03. Michael Kiwanuka – Kiwanuka

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Michael Kiwanuka é imenso. E veio para ficar. Nada foi fácil na vida do black man in a white world, e ele sabe disso. A começar pela sua própria identidade, uma vez que executivos de gravadora o sugeriram que arranjasse um nome artístico que garantiria maiores vendas de discos, mas representaria uma negação do músico britânico às suas origens africanas (a família de Kiwanuka é da Uganda).

Este episódio (não vamos amenizar as coisas, é realmente um caso de racismo velado) mexeu com a cabeça do artista, que chegou a pensar em desistir da carreira. Um segundo álbum chamado Night Songs, após seu álbum de estreia, foi descartado.

Mas Kiwanuka não se rendeu. E a recompensa veio com Love & Hate, álbum de 2016, um disco muito aclamado por crítica e público, que trouxe à tona todo o talento de seu autor. Mérito de Danger Mouse e Inflo, renomados produtores, responsáveis por vários dos grandes álbuns da música pop atual.

A dupla repete a dose neste terceiro trabalho, intitulado Kiwanuka, para deixar claro que o artista não vai e nem deve abrir mão de sua origem. É frequente em vários momentos perceber a sonoridade característica do som tirado por Danger Mouse.

Muito se diz que a música cura. Michael Kiwanuka sabe disso, e é através dela que ele se questiona “Are you really giving up? Are you really going to stop right now?”, logo no início da faixa de abertura, You Ain’t The Problem.

O disco todo é maravilhoso, mas destaco ainda Piano Joint e sua introdução e Living in Denial.

Michael Kiwanuka não vai desistir. Que sorte a nossa.

02. Jorge Mautner – Não Há Abismo em Que o Brasil Caiba

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Por um longo período do ano este foi para mim o número 1. Tá no pódio escorando o pé no degrau de cima, certamente. Tudo porque o disco faz um mapeamento ora esperançoso, ora perplexo de tudo o que há neste Brasil num ano em que eles venceram e o sinal está fechado pra nós, diria outro poeta.

Por isso, Mautner recorre a heróis do passado e do presente, e nos agracia com canções que falam de Marielle Franco e Anderson Gomes, Dona Catulina, Joaquim Nabuco e José Bonifácio.

No álbum e nos shows, Mautner é acompanhado pela banda Tono, liderada por Bem Gil, que é bastante reverente ao mestre.

Ainda bem que Jorge Mautner existe.

01. Elza Soares – Planeta Fome

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Planeta Fome é o disco punk que 2019 precisava. Pra não deixar dúvida, começa com Libertação, passa por Comportamento Geral e Pequena Memória para um Tempo Sem Memória, ambas de Gonzaguinha, até desembocar em Não Recomendado, onde levanta a bandeira da diversidade sexual, citando magistralmente Geni e o Zepelim e Comida.

Isso para não falar do maior destaque do álbum, Não tá mais de graça, com as rimas de Rafael Mike, que remete diretamente a A Carne, música de Seu Jorge, Marcelo Yuka e Ulisses. Os versos atualizados vão direto no cerne da violência no Brasil e nos inocentes que morrem todos os dias devido à incapacidade governamental de fazer o seu papel.

O alcance vocal não é mais o mesmo, mas Elza está afiadíssima. E é o que importa.


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É um pouco difícil não ser clubista neste momento histórico do metal. É complicado esconder o ufanismo quando se trata dessa banda alemã que deveria ser a maior da história de todos os tempos do mundo e tão bem sucedida quanto Iron Maiden e demais grupos dessa prateleira.Uma reunião épica, de três gerações, que obrigou fãs produtores de intrigas entre os membros a se abraçarem. E pra não dizer que é apenas uma viagem no tempo, Pumpkins United, a canção nova, sela essa nova fase provando que é possível todos ali criarem materiais incríveis juntos.Claro, não é completamente perfeito pelas ausências de Uli Kush e Roland Grapow, mas isso não torna este álbum menos espetacular.

09. Inglorious – Ride To Nowhere

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Se o rock mostrou que não está morto, o Hard Rock então nunca esteve tão orgulhoso de sua saúde. Isso é notoriamente percebido neste viciante e poderoso álbum dos britânicos do INGLORIOUS. E, pra não fugir às mazelas da cena, o material saiu em meio a mudanças drásticas na formação, uma vez que os dois guitarristas e o baixista abandonaram a banda logo depois do lançamento alegando que o grupo tinha se transformado num projeto pessoal do vocalista Nathan James.A verdade é que toda a turbulência contribuiu positivamente pois podemos ouvir uma banda madura que consegue se manter soando característica dentro do estilo mas ao mesmo tempo explorando a própria personalidade nas músicas.É energético, direto e intenso, destacando bem todos os instrumentos e não ficando apenas dependente da excelente voz de Nathan.Apesar de se chamar Ride To Nowhere, o álbum sabe exatamente pra onde está indo. E eu espero que vocês estejam acompanhando esse trilha de música boa.

08. O.A.R – The Mighty

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Os primeiros toques de ‘Knocking at your door’ já abraçam o ouvinte para dez faixas extremamente bem produzidas e com variações bastante inspiradas de estilos.Desde 1996, essa banda de Rockville, Maryland, explora as nuances prolíferas do rock alternativo com grande propriedade. Em The Mighty, todas essas passagens ficam ainda mais claras, pois eles passeiam entre reggae, indie, ballad e amarram tudo isso com pitadas de pop rock.A impressão que temos é que a voz de Mark Roberge combina com todos os ritmos e aqui, especialmente, ela está em sua melhor forma, levando as boas composições do grupo a um álbum muito fácil de escutar e de viciar.A última música do disco, “Nentucket Is Gone”, é minha sugestão de play para a vida.

07. Viana – Forever Free

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Melodic Hard Rock pulsando em 2019 com um vocal poderoso e brilhante num projeto idealizado por um guitarrista, compositor e produtor italiano?Si!Stefano Viana começou essa jornada em 2017, mas foi dois anos depois que ele conseguiu reunir o suprassumo do hard no irretocável Forever Free. Desafio qualquer um a passar ileso da performance angelical de Bryan Cole, um vocalista melodioso e altamente preciso que te leva pra viajar em influências setentistas e oitentistas, mas com o frescor de nossa época.

Mais um álbum onde passar a música pra frente é passar vergonha.

06. Restless Spirits – Restless Spirits

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Este projeto é uma das razões para o cometa abortar sua missão de destruir a Terra nesse ano. Se formos para um observatório estelar, certamente enxergaríamos o guitarrista Tony Hernando segurando o meteoro com seu disco Restless Spirits. Uma reunião belíssima de músicos competentes para criar, mais uma vez, Hard Rock.Todas as faixas tem a sua importância mas vou destacar a obra-prima que se encontra na faixa número quatro do álbum: “‘Cause I Know You’re The One”. É aqui que o mundo descobre a voz de um certo cantor croata talentosíssimo, Dino Jelusic.Uma construção equilibrada, altamente catchy e, por ter tanto potencial de repeat, perigosamente enjoável. Tente não ouvir muito, mas advirto que é uma tarefa muito difícil. Se o gênero de Hard Rock um dia conseguir ser genial depois dos anos 80, o resultado está bem aqui.

05. The Darkness – Easter Is Cancelled

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O Hard Rock não tem fim? Ao que parece, em 2019, não. E justamente com essa banda que surgiu levantando essa bandeira numa época em que o estilo estava enterrado, lá pelos anos 2000.19 anos depois, Easter Is Cancelled surge fazendo os ouvidos se lembrarem do que nunca deveriam esquecer. “Heart Explodes” é um explosivo inevitável de uma banda que evoluiu lindamente para conseguir alcançar o cume da composição envolvente em “Live Till I Die”.Segundo a banda, esse álbum tem a intenção de mostrar qual o papel do músico na cultura bárbara do mundo atual.Espero que os ouvintes também saibam quais são os seus papéis também.

04. Set It Off – Midnight

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Evoluir num estilo nem sempre é uma jornada fácil. E o Set it Off nunca teve muito medo disso, mesmo lá no começo quando entoavam o bom e velho post punk rock. Mas era perceptível que existia personalidade no grupo desde 2008.Valendo-se de elementos teatrais like Panic! At The Disco, eles foram moldando o som até atingir o lançamento “Midnight”. E, apesar de considerar que o disco mais maduro e consistente deles seja o Duality, de 2014, aqui eles conseguiram a difícil missão de reunir tudo o que fizeram numa só obra. Tem o punk, tem o pop (bastante) mas principalmente, tem as composições estimulantes que são uma marca do jovem grupo americano.Eles sabem escrever melodias viciantes sem parecer que usaram fórmulas. Isso pode ser comprovado em duas faixas: “Midnight Thoughs” e “I Want You (Gone)”.

03. Thank You Scientist – Terraformer

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Essa é a banda mais impressionante que já ouvi na vida. Tudo que eles fazem é único e imprevisível. Carros se gabam por ir de 0 a 100 no menor tempo possível. Eles vão de prog ao fuzz. Em Terraformer, eles nos levam para tempos quebrados, melodias distorcidas e virtuosismo meticulosamente bem distribuído. É um dos poucos grupos que conseguem fazer cada membro da banda brilhar de maneira uniforme. A estrela continua sendo a música que fazem, o destaque é sempre a união de contribuições individuais.O Thank You Scientist continua sendo o tipo de artista que é impossível de explicar ou colocar numa prateleira de gêneros musicais pois eles vivem saltando de uma pra outra sem qualquer obrigação de soar sob um rótulo só.A única coisa que não pula são as faixas, obrigatórias em sequência de audição e experiência.Mas, pra não dizer que não deixei uma indicação, apreciem as transições de “Everyday Ghosts”. Você não terminará a canção do mesmo jeito que começou.

02. City And Colour- A Pill Of Loneliness

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O nome pode até tentar dizer tudo mas quando você começa a ouvir, percebe que é muito além de uma pílula da solidão.Dallas Green sabe como transformar introspecção em arte e lágrimas como ninguém. A forma como sua voz emociona é surpreendente. Em suas melancólicas 11 faixas, o músico passeia por sentimentos inevitáveis de nossos dias e, se não te faz refletir, certamente vai te fazer chorar.“Living In Lighting” é uma das coisas mais lindamente tristes do ano.

01. Bayside – Interrobang

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Engraçado perceber que uma banda que conheci esse ano já esteja no primeiro lugar do pódio. Na verdade, o errado foi eu não ter sido apresentado a ela antes, pois o trabalho do Bayside é impressionante.Quando o single “Prayers” tocou a primeira vez no shuffle do streaming eu soube imediatamente que estava diante não apenas da melhor música de 2019, mas do melhor álbum.Isso se comprovou com o restante das canções e posso dizer apenas que estamos diante de um álbum de rock convincente com estruturas de músicas imprevisíveis, que, combinadas com sua força lírica, são absolutamente refrescantes dentro do gênero. É o disco que toda banda gostaria de ter feito.Quando nos deparamos com algo que não conseguimos descrever numa simples expressão, precisamos criar uma forma nova de fazer isso. Nada poderia ser mais perfeito do que um álbum com o nome Interrobang. Uma junção de interrogação e exclamação. Esse é o sentimento que fica ao dar play no Bayside.


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