Tudo o que o mundo jura que ama mas não faz ideia que existe

Four0Five Sessions é a versão do Aranda que todo ouvinte sonha encontrar em sua nova banda favorita da vida

bom demais pra ser conhecido

O papel da curadoria musical — se é que ele existe na prática — é apresentar aquilo que não está no radar confortável das plataformas, da propaganda, do dinheiro pesado que entra nas rádios, dos valores em anúncios digitais e das campanhas predatórias em playlists das top-melhores-sabe-se-lá-o-que. Isso também vale para as listas renomadas da cena, que trazem aquele amontoado de artistas que supostamente foram garimpados mesmo que o investimento para as máquinas de extração venham de seus próprios selos, amigos, influências, contatos ou sobrenomes influentes.

O trabalho a seguir seria coberto de ouro se fosse feito por um pseudo-figurão da música atual ou quem sabe alguém completamente desprovido de aparatos para gravar e que, como gesto de nobreza artística, tenha registrado seu trabalho experimental na ânsia de soar revolucionário e agradado à crítica com base no mais absoluto não-faço-a-menor-ideia-do-que-ouvi-mas-preciso-parecer-antenado-então-vou-colocar-isso-aqui-e-lidem-com-isso.

O irmãos Dameon and Gabe Aranda talvez não tenham sido agraciados com a bênção do mainstream ou do pop comum disfarçado de alternativo. Nem mesmo com dois covers de suas músicas autorais feitos pela senhorita Kelly Clarkson foram capazes de catapultar a banda para além de “All I Ever Wanted” e “Whyyawannabringmedown” mas eles seguiram lançando discos que deveriam ter atravessado a fronteira de Oklahoma e surpreendido a crítica preguiçosa, preocupada demais com esforços publicitários do que com tempo em estúdio compondo algo tão sincero quanto dizer Feliz Natal em dezembro.

Four0Five Sessions, lançado discretamente este ano, não foi apreciado por um número considerável de ouvintes e especialistas, mas deveria. O duo amadurece suas raízes do rock pós-2000 e entrega dez faixas que poderiam ser bússulas para bandas que ainda não encontraram o caminho da própria sonoridade. O single do ano está ali, logo na segunda música. ‘Blamin’ You’ é a obsessão dos maiores compositores do mundo, aquele sonho de canetada que grupos procuram por toda a existência de seus projetos. É acessível, é refrescante, tem a plasticidade que o ouvinte do pop pede, tem a leveza hard que o roqueiro tolera, tem os vocais afinadíssimos com drives pontuais que arrastam todo mundo pra cantar junto.

Se a indústria puser seus olhos em “Superficial Girl”, não existiram feats suficientes pra caber num VMA. Todos os produtores, empresários, gravadoras e, claro, artistas, vão exigir gravar esse clássico contemporâneo de groove inevitável, perfeito para alavancar carreiras e garantir cifras para o resto da vida.

“Hooked On You” faz James Brown, Michael Jackson e Paul Gilbert darem as mãos e abraçarem a Terra. Em tempos de marasmo profundo, esse registro aqui nos obriga a lembrar como um sorriso se forma (e que dá pra trocar as lágrimas de desapontamento por transpiração de danças irresistíveis em manhãs de segunda enquanto se prepara o café).

Vai chorar? Tudo bem. “Another Day” e “Now and Forever” estão aí pra mostrar como baladas devem ser feitas e, principalmente, reproduzidas. As melodias capturam seus segredos esquecidos e te fazem confrontá-los enquanto os refrões explodem. É aqui que os quase moribundos solos de guitarra do mundo moderno aparecem, levando reflexão forçada através das cordas.

Depois de 4 discos necessários e desconhecidos, o Aranda apresenta Four0Five Sessions com um pouco de tudo o que o mundo jura que ama mas não faz ideia que existe. Não estão num underground profundo, nem no alternativo revolucionário, tampouco no rock saudosista que vive de reuniões. Eles estão num lugar de autenticidade sem a assinatura da moda e esse pode ser o motivo de quase ninguém estar ouvindo.

Qualquer uma das 10 canções, entre suas variações de estilo, são potenciais trilhas sonoras para qualquer um. Do sonzinho de elevador ao clube lotado, é muito fácil se tornar fã do que eles produzem desde 2009.

Que 2025, quase 2026 seja o ano deles. A nossa parte está sendo feita.


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