Blue Valentine do NMIXX e o Pop que ousa ser diferente em 2025

O NMIXX entrega um disco ousado, complexo e viciante. Como o Pop deveria ser sempre.

Em 2007, a Nokia era líder no mercado de telefones celulares. Em junho de 2007, a Apple lançou o seu primeiro iPhone. A Nokia vendia telefone igual água, com centenas de modelos, designs e tipos. Tudo com botão. Há relatos de que, quando o iPhone foi lançado, o CEO da Nokia comentou que ninguém queria usar telefone sem botão e que ninguém ligava pra tela touchscreen. Corta pra 2011. A Apple passa a Nokia e em 2013 a empresa é vendida pra Microsoft. O resto é história.

Alguém tem que esticar a corda e inovar. Seja em design, literatura ou música. O status quo é seguro e lucrativo. Nunca se tocou tanto pop genérico e familiar em lojas de fast fashion. Só com as playlists de lojas e clínicas odontológicas cheias de pop sem graça, o Spotify já lucra o suficiente pro seu CEO investir em empresas de Inteligência Artificial voltadas pra guerra.

Algumas inovações nem precisam “dar certo” pra que as coisas mudem. Não dá pra medir inovação só com sucesso comercial. O que conta é a ideia que muda o jeito de pensar e o jeito de apreciar o novo. Se 99% das músicas são genéricas e as playlists estão abarrotadas de faixas geradas por IA que copiam essas mesmas músicas genéricas, o gosto musical geral vai murchar. A arte precisa de uns doidos testando coisa nova e ainda bem que o alternativo e o indie fazem isso o tempo todo. Mas fazer isso no pop não é pra todo mundo. O NMIXX, porém, tem coragem de sobra.

Em 2025, o NMIXX fechou sua trilogia Fe₃O₄ com o ótimo FORWARD (resenha aqui) e lançou uma das músicas mais interessantes do ano com a Pabllo Vittar: MEXE, uma mistura de baile funk brasileiro com o mix-pop do grupo. Como se não bastasse, agora em outubro elas lançaram seu disco completíssimo, Blue Valentine.

Clipe de MEXE

É claro que é difícil cravar, em tempo real, que um disco ou movimento vai mudar as coisas. Mas dá pra afirmar que toda inovação abre caminho pra algo bom acontecer. Blue Valentine não é um disco que se ouve uma vez e já se reconhece como um clássico absoluto. É um disco que nos leva a tempos de menos acesso, em que tínhamos menos pressa pra simplesmente pular as faixas.

Blue Valentine é um disco pra se apreciar devagar, se apaixonando a cada nova audição. A sensação é como se uma banda indie resolvesse lançar um disco de mix-pop. Já na primeira música, aos 40 segundos, há uma mudança de tempo. O que parecia simples, de repente se transforma em um flow de rap que desemboca num refrão de arena rock.

Em SPINNIN’ ON IT, a introdução de bateria sequinha poderia ser de uma banda nova como Wet Leg, sem nenhuma surpresa. Aí entra um groove de R&B cheio de camadas vocais, e quando chega o refrão vem uma energia positiva incrível, com detalhes no arranjo de cair o queixo. Em Phoenix, uma introdução jazzística vira um beat moderno e sincopado, com espaço pra belíssima melodia se destacar.

Em Reality Hurts (talvez minha favorita do disco) temos um beat pesado, quase soando como Nine Inch Nails. De repente, esse beat muda, e no segundo verso a batida acelera e a música parece outra, mas continua parte da mesma história. O disco segue com um reggaeton em RICO e, em Game Face, uma melodia completamente criativa e nada previsível. PODIUM experimenta diferentes estruturas e entrega um refrão gigante.

Na sequência, talvez a música mais “ponto de entrada” do disco seja Crush On You. É uma delícia de faixa, daquelas que grudam na cabeça de primeira. Logo depois, temos um super pop rock em ADORE U, que poderia muito bem ser gravada em italiano pela Laura Pausini e ainda assim soar linda. Na reta final, Shape of Love traz uma vibe sexy e o melhor refrão do disco. Em seguida vem a animadíssima OO. Pt. 1 (Baila) e o encerramento com OO. Pt. 2 (Superhero), que até inclui um riff de hard rock nos versos.

A corda da criatividade no pop foi esticada pelo NMIXX e vai continuar sendo. Expandir os gostos e fazer arte experimental dentro do pop é dificílimo de se fazer bem. É algo que ninguém espera, e certamente muitos executivos de gravadora ainda pensam: “ninguém quer ouvir pop inovador”. Mas uma hora as pessoas vão cansar de ouvir o mesmo pop, assim como se cansaram dos telefones com botão.

Espero que esse pop interessante e diferente, presente em tantos discos de K-pop, continue. Gostando ou não, isso está expandindo os gostos e a própria indústria.

Não se mede inovação apenas com sucesso comercial, mas com legado e, nesse sentido, o 2025 do NMIXX já marcou o seu.


Faixas

  1. Blue Valentine – 3:06
  2. SPINNIN’ ON IT – 3:16
  3. Phoenix – 2:44
  4. Reality Hurts – 2:35
  5. RICO – 2:32
  6. Game Face – 2:43
  7. PODIUM – 3:01
  8. Crush On You – 2:39
  9. ADORE U – 2:30
  10. Shape of Love – 2:52
  11. O.O Pt. 1 (Baila) – 3:06
  12. O.O Pt. 2 (Superhero) – 2:56

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