Katy, antes do pop irreversível, era muito mais Perry

One of the Boys e as últimas camadas de atitude natural da cantora californiana antes de mergulhar no mainstream copia e cola

sereníssima a bonita

Katheryn Elizabeth Hudson poderia ter flertado com olhares bem diferentes daqueles que acabaram por venerá-la no futuro, especialmente em 2008. Quem coloca um pouco de atenção em One of the Boys, percebe com tranquilidade que bateria acústica e guitarras são as melhores maquiagens que alguém pode usar para exalar autenticidade.

Se os tentáculos do pop envolveram “I Kissed a Girl” e um pouquinho de “Hot n’ Cold”, o mesmo não pode se dizer das outras 10 canções que sobram. O garimpo severo recompensa quando se ignora completamente os singles sugeridos por fabricantes de sucesso. Como um amontoado bonito de Lados B no fim dos anos 2000, Katy Perry faz valer o peso de suas declarações afirmando que Queen é uma de suas maiores influências — não que existam pistas claras da banda do sr. Freddie ao longo da obra mas, com um pouco de boa vontade, a alma do rock se esconde pelas frestas abertas por Perry e seus produtores da época.

Rockstars morrem um pouco todos os dias e Katy certamente não queria ter seu funeral antes de saborear a volúpia da indústria. É por isso que não escolheu sua performance em “Self Inflicted” para mostrar onde poderia ir com seu som. É por isso que não mostrou sua completa paixão e potencial vocal em “Lost”, balada que bandas californianas adorariam escrever e tocar ao vivo em clubes para 200 pessoas.

Saindo do radar daquilo que a catapultou, fica aquilo que deveria, de fato, tornar alguém relevante. Não que os singles radiofônicos sejam completamente dispensáveis, mas se você compõe algo como “Fingerprints”, não pode escondê-la como faixa que encerra o álbum, como se fosse uma mera música protocolar. Avril Lavigne pagaria pra gravar, os diretores de filmes adolescentes batalhariam para que figurasse como trilha sonora quando os créditos sobem. A Miley Cyrus da versão Hannah Montana roubaria como se fosse um Wrecking Ball energizado.

É irônico que ela diga ‘I chose guitar over ballet’ na faixa que abre o disco e acabe por ignorar a letra ao promover a carreira. Aqui, seu real mundo gira mais rápido que “Roar”, “California Gurls”, “Firework” ou “Last Friday Night”.

Que bom que ela já foi o que queria ser.


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