
Quem entra pela primeira vez ou quem frequenta o Centro de Música do Sesc Consolação regularmente podem compartilhar um olhar desatento a respeito da partitura escrita num quadro branco em sua entrada, sem ter noção do tamanho da preciosidade que está testemunhando.
No quadro, uma partitura complexa escrita por Hermeto Pascoal em 2002, numa ocasião em que o músico esteve no local para participar de uma série de ofícinas e apresentações, intitulada Hermetismos Pascoais. Ao final da apresentação, Hermeto pediu que desenhassem um pentagrama (musical, calma) na parede, pois queria deixar uma música inédita para o Sesc. Assim nasceu Brasil que vai, Brasil que vem, que ilustra a entrada do Centro de Música.
É difícil (eu diria impossível) dimensionar e explicar Hermeto, e como disse o Vinícius Cabral em uma conversa recente que tivemos, ele era música total.
Basta observar, não só nesta história relatada, mas também em outra que envolve o Sesc de São Paulo, desta vez o Bom Retiro, que em 2024 recebeu a exposição Ars Sonora, que trazia diversos objetos ilustrados pelas composições de Hermeto, como chapéus, assentos de vasos sanitários, caixas de isopor, pratos e outros itens. Tudo servia à sua música, a tudo sua música servia.
Internado no Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro, Hermeto havia cancelado a apresentação que faria no festival Festival AcessaBH, mas a banda Nave Mãe, que o acompanhava, decidiu manter o show e transmitir a ele por chamada de vídeo. O músico acompanhou o show por 22 minutos e infelizmente faleceu, e coube a seus parceiros anunciarem sua partida e dedicar a ele aquele momento.
Hermeto Pascoal, por sua vez, dedicou seus 89 anos à arte de fazer música, de respirar música e ser música. A nós, fica o legado e o incentivo de ser pelo menos um pouquinho mais musical nos nossos dias.



