
Pra quem não conhece, o disco Nebraska do Bruce Springsteen, de 1982, é feito apenas com voz, violão e gaita. O Bruce abriu mão das grandes produções e entregou um retrato cru dos Estados Unidos esquecidos. Uma viagem noturna por estradas vazias, bares decadentes e vidas marcadas por desespero e esperança.
Esse disco é uma jornada onde saímos da nossa bolha da cidade e vamos viver a vida dos comuns e dos esquecidos, com a voz rouca e apaixonada do Bruce como trilha sonora. Tudo isso acompanhado por acordes que contam histórias mais profundas do que o oceano. É uma experiência transcendental.
Mesmo sendo um disco absolutamente perfeito, existia a curiosidade dos fãs pelas versões com banda. Era uma lenda que todo mundo já estava conformado de que nunca ouviríamos. Mas não é que o homem deu uma entrevista pra Rolling Stone e disse que não se lembrava se tinha essas versões gravadas? Um pouco depois, ele mandou uma mensagem confirmando que olhou nos arquivos e que essas gravações existiam, mas não era o disco completo. Não tem problema, Bruce. Manda isso pro ar!
Agora, oficialmente, essas versões finalmente chegam ao mundo como parte de um novo box set. No disco Electric Nebraska, temos versões com a E Street Band (Max Weinberg, Garry Tallent, Danny Federici, Roy Bittan e Stevie Van Zandt), em arranjos que Bruce descreve como “punk rockabilly”, tocados em formato power trio. Ele disse em entrevista: “jogamos fora os teclados e tocamos basicamente como um trio”.

Imaginem as faixas clássicas como Atlantic City, State Trooper e Highway Patrolman nessas novas (antigas) versões. O resultado provavelmente não vai substituir as originais, mas vai mostrar o quanto esse disco poderia ter seguido outro caminho. É como se existissem dois universos paralelos: o silêncio do quarto ou o barulho da estrada.
É curioso pensar como o The Boss, tantas vezes reticente em abrir seus arquivos, decidiu jogar esse material pro mundo agora, perto do lançamento (24 de outubro) do filme biográfico Springsteen: Deliver Me from Nowhere. O filme, estrelado por Jeremy Allen White, mostra justamente a época do Nebraska, um dos momentos mais turbulentos da vida dele (tô com medo desse filme, confesso).
Dos outtakes inéditos, já tivemos a chance de ouvir uma versão completamente diferente de Born in the U.S.A., que soa como uma música que o Bon Jovi adoraria fazer. Gostei. É outra música, mas isso prova como uma canção pode tomar vários caminhos. Pra quem gosta de pensar em composição e produção, é ótimo pra tentarmos fazer a engenharia reversa e entender como poucos acordes e uma melodia podem virar outra coisa.
O Nebraska original soa como uma confissão sussurrada. O Electric Nebraska provavelmente vai transformar essa confissão em uma garagem barulhenta e lotada. Um emociona pela fragilidade, o outro deve emocionar pela força bruta.
Como toda mitologia, a música não é feita só de sons, mas também de silêncios, versões, fantasmas e da eterna curiosidade de quem quer ouvir. Eu não vejo a hora de redescobrir o Nebraska de outra maneira. E você?
Lançamento 17 de outubro.
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