The Clearing do Wolf Alice e o eterno retorno aos anos 70

Cíclico, maduro e ousado, The Clearing é a reinvenção sonora do Wolf Alice, com a grandiosidade dos anos 70 e a sensibilidade do indie moderno.

A teoria do mundo cíclico no contexto artístico fala sobre obras e conceitos que exploram a ideia que o tempo e a história não são lineares, mas sim um ciclo contínuo de repetições, renascimentos e retornos. A arte cíclica pode ser inspirada na natureza cíclica de eventos, como as festas populares que se repetem anualmente, ou fenômenos naturais em um ciclo de tempo. Em algumas interpretações artísticas, o ciclo representa o “eterno retorno”, onde eventos e momentos do passado se manifestam novamente no presente, sem um início ou fim absolutos.

Em The Clearing, o tempo linear é rompido, e em vez de uma progressão direta, a arte cíclica apresenta uma estrutura circular, onde a história não é vista como um conjunto de fatos singulares. É um disco que significa uma progressão não linear de uma banda. São passos em direções não esperadas de uma obra de Rock e Pop, com elementos dos anos 70 e aquele tempero de Indie que a banda traz.

Wolf Alice é um quarteto de Londres formado em 2010 e se tornou destaque da cena alternativa no Reino Unido. A banda é formada por Ellie Rowsell (voz e guitarra), Joff Oddie (guitarra), Theo Ellis (baixo) e Joel Amey (bateria). Nos seus 3 discos anteriores, a banda construiu uma reputação da sua capacidade de misturar rock alternativo, shoegaze, indie pop e grunge, com cada álbum marcando uma evolução natural em seu som.

Agora, em The Clearing, a banda expande o seu ciclo e faz uma viagem no tempo até os anos 70, buscando elementos melódicos e conceituais de bandas como Fleetwood Mac, T. Rex e Electric Light Orchestra. Nesse quarto disco, a banda está claramente bem mais madura e corajosa. Enquanto o Blue Weekend de 2021 tem uma convergência musical clara e belíssima, The Clearing expande e a banda vai pra caminhos diversos e mais criativos.

É um disco que se colocou no caldeirão de temperos inspirações como Queen, Kate Bush, Joni Mitchell e até um pouco de krautrock e Steely Dan. São temperos sutis, mas que no contexto em seu todo fazem total sentido e funcionam muito bem. Na montagem do prato dessa receita, temos ironia, irreverência e seriedade como contraste.

O disco abre com “Thorns”, e mostra Ellie Rowsell refletindo sobre expor suas emoções. A música é uma auto reflexão sobre tornar público o privado. Em “Bloom Baby Bloom”, vemos uma explosão de autoconfiança. A voz de Ellie vem pra frente e abraça seu valor pessoal. A música tem um riff de piano excepcional e cheio de energia. 

Já na música “Just Two Girls”, de espírito Joni Mitchelliano, celebra-se a cumplicidade entre amigas. Em “Leaning Against the Wall” e “Passenger Seat”, cheia de harmonias de Fleetwood Mac, são exploradas as tensões do amor e o desejo por alguém, além do peso da dependência emocional e o anseio por envolvimento.

“Bread Butter Tea Sugar”, uma música que é praticamente um ode ao Queen, brinca com a ideia de aceitar o bom e o ruim das coisas. Em “Play It Out”, Ellie Rowsell confronta pensamentos sobre o corpo envelhecendo, expectativas de maternidade e o medo de ser desvalorizada caso não queira ter filhos. 

A música que fecha o disco, chamada “The Sofa”, traz o sentimento de uma balada final com piano delicado, com inspiração clara em Stevie Nicks e no pop sofisticado dos anos 70. A música é sobre encontrar tranquilidade nos pequenos momentos da vida e aceitar onde a vida nos colocou, mesmo que seja afundado no sofá.

The Clearing é um disco de contrastes e versatilidade. Ao mesmo tempo que soa grandioso na dramatização do rock clássico dos anos 70, tem sua delicadeza do Indie atual e moderno. A produção de Greg Kurstin, conhecido por trabalhos com Adele, Charli XCX e Carly Rae Jepsen, traz um som mais polido do Pop sem apagar sua alma, com pianos marcantes e grooves pop modernos. Em cada música, que fica melhor a cada audição, encontramos referências cuidadosamente criadas com visões melódicas criativas e a performance impecável da banda. É um disco que tem que ouvir várias vezes.


Faixas

  1. Thorns – 3:14
  2. Bloom Baby Bloom – 3:47
  3. Just Two Girls – 3:49
  4. Leaning Against the Wall – 4:11
  5. Passenger Seat – 2:52
  6. Play It Out – 4:11
  7. Bread Butter Tea Sugar – 3:28
  8. Safe in the World – 3:31
  9. Midnight Song – 2:50
  10. White Horses – 4:29
  11. The Sofa – 4:26

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