É cada eita atrás de vixe

Em seu décimo terceiro álbum, Songs in The Key of Yikes, o Superchunk parafraseia Stevie Wonder e traz belas melodias para contar coisas terríveis.

A palavra Yikes não tem uma tradução simples: é um tipo de interjeição que significa caramba, ou eita, ou algo que o valha, de modo a expressar um susto ou preocupação diante de alguma situação adversa.

Fazendo uma paráfrase com o clássico Songs in The Key of Life, de Stevie Wonder, o Superchunk chega ao seu décimo terceiro álbum compilando canções no tom do tal eita. Afinal, se há algo que uma banda veterena indie não pode se dar ao luxo, é de passar incólume pela situação do mundo sem ao menos dar algum pitaco.

Quer dizer, até pode, mas não deve ser muito fácil fazer isso e conseguir pregar os olhos à noite, especialmente nos EUA. Resta então plugar os instrumentos e pedais e caprichar nos riffs, e é isso que nos é entregue em Songs in The Key of Yikes.

E nisso, convenhamos, o Superchunk nunca fez feio nem em seus momentos menos inspirados. Só que aqui inspiração é o que não falta, seja pelo amor ou pela dor: o líder Mac McCaughan diz que está tentando se importar menos na auto-explicativa Care Less, perde a esperança em No Hope (cada noite esmagadora leva a outro dia sem fim, ele diz), e vamos por esse caminho com a noção da finitude (Everybody Dies) e procurando qualquer coisa que se sinta em Is It Making You Feel Something?, a faixa de abertura.

Não é a mesma banda: a chegada de Laura King ao posto de baterista, substituindo Jon Wurster, que deixou a banda em 2023, trouxe uma leve mudança na condução das levadas, além de um reforço nos backing vocals. É a mesma banda: se por um lado o Superchunk anda mais amargurado e reflexivo do que de costume, a real é que sonoramente o time continua jogando no seu 4-4-2 bem armado e marcando os três pontos que garantem a classificação.

E é nesse jogo de resultados que termina o disco, com Some Green trazendo conforto com seus belos arpejos e solos, mas ainda questionando se não é obtuso demais ficar transformando podridão em perfume por meio de versos de uma canção.

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