
Desplastificar a forma como a música é consumida pode salvar o que restou desse oceano musical. E lá está Hayley, tirando as partículas artificiais da boca dos seres marinhos, diariamente incomodados com o despejo incessante de dejetos sonoros embalados em forma de isca.
Seja deixando duas canções inéditas numa rádio de Nashville ou revelando outras 15 num site com estética dourada de anos 2000 — que só poderia ser acessado ao adquirir a nova coloração de sua marca Good Dye Young — a cantora ignora os padrões de lançamento da indústria. Tudo bem, depois tudo isso acabou indo para as famigeradas plataformas, mas sem o formato esperado.
Mesmo em hayleywilliams.net, as faixas estavam dispostas sem uma ordem específica, deixando que o fã escolhesse como seria impactado por elas. Danem-se os processos, o single que vende a ideia maior, o conceito de um álbum completo com a sequência pré-estabelecida, as composições recentes que obrigatoriamente contam a versão atual da artista. Apenas está ali pra ser sentido, se é que ainda é possível se permitir sentir algo nesses tempos.
Com a linguagem de VHS contrastando o período contemporâneo obcecado pela alta definição, a voz do Paramore oferece momentos preciosos de composição, principalmente em “True Believer” quando manda essa violência na caneta:
“They say that Jesus is the way, but then they gave Him a white face
So they don’t have to pray to someone they deem lesser than them”

Em termos de sonoridade, temos um compilado de tudo: experimentais, cativantes, hits. É puramente subjetivo pela ordem que cada uma delas encontra o ouvinte. Se você está em “Brotherly Hate”, que parece uma canção de ninar moderna enquanto discute a relação de dois amigos que não se resolvem e vai para “Love Me Different” que é radiofônica e deliciosa com um raciocínio inteligente sobre ‘ninguém vai me amar como você me amou, mas alguém vai me amar diferente’, vai soar como um salto entre épocas distintas.
Mas se o caminho for de “Glum” para “Whim”, a sensação é de linearidade, você percebe que o coração será machucado com uniformidade. A publicidade oitentista tem uma definição pra esse tipo de experiência: existem mil maneiras de preparar Neston, invente uma.
No fim, o importante é que Hayley continua tendo muito a dizer. E diz.
E isso independe da organização de 1 a 17.
Acaba sendo 10 do mesmo jeito.
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