
O rompimento dos Secos e Molhados em 1974, após dois discos lançados e um show memorável no Maracanãzinho, que mais tarde seria transformado em álbum ao vivo, foi traumático, mas não deixou de render frutos. Se Ney Matogrosso dava um passo à frente com seu Água do Céu: Pássaro e João Ricardo tentava manter a mesma sonoridade e temática da banda no seu disco solo autointitulado (e conhecido como disco rosa), Gerson Conrad faria sonoramente e textualmente o que parecia ser seu comportamento no trio: o meio-termo.
Responsável por musicar e tornar definitiva como canção Rosa de Hiroshima, poema de Vinicius de Morais presente no primeiro disco dos Secos e Molhados, Conrad uniu-se ao letrista Paulo Mendonça, criando as 14 músicas que fariam parte de seu primeiro disco.
Para interpretar as canções, Gerson Conrad trouxe a cantora e atriz Zezé Motta, com timbre e alcance vocais que permitem uma sensação de continuidade em relação ao trabalho iniciado com Ney, mas também mostram um passo além, e revelam também o papel exercido pelo músico dentro da banda, talvez um pouco ofuscado por conta da predominância de João Ricardo como compositor e do brilho inegável de Ney Matogrosso.
O disco, tanto pela presença de Zezé, quanto pelas composições de Conrad e Mendonça é, inevitávelmente, mais brasileiro, já que dilui a influência portuguesa que predominava o Secos e Molhados pela origem de João Ricardo e das parcerias com o pai, João Apolinário.

Zezé Motta, uma cantora tão gigante quanto Ney Matogrosso, faz toda a diferença em canções como Trem Noturno, e o próprio Conrad tem seus momentos, como em Bons Tempos e Lírios Mortos. É inegavelmente um disco de dupla, e se em algumas vezes serve como forma de continuidade de um legado dos Secos e Molhados, também mostra que havia uma vida musical fora deles.



