Quando a Blondie lançou o Parallel Lines em 1978, era seu terceiro disco e consolidou a banda de post-punk e new wave como um dos grandes nomes do pop da sua época. A influência que a Blondie trouxe para o indie e para o rock alternativo moderno é claríssima ainda nos dias de hoje. A ternura e o sarcasmo musical são sentidos até hoje, e com o Wet Leg não é diferente.
Agora, em seu segundo disco chamado Moisturizer, a banda da Ilha de Wight, na Inglaterra, se consolida como um dos grandes nomes da nova onda do new wave moderno (desculpa, tive que fazer essa brincadeira). É um disco que poderia ser Pixies, que poderia ser The Breeders, e que poderia ser Blondie. Cada uma dessas bandas foi importantíssima em seu contexto inicial, e vejo o Wet Leg como uma das grandes bandas dos contextos dos anos 2020.
A dupla Rhian Teasdale e Hester Chambers são a Kim Deal e a Kim Gordon pra nova geração. Enquanto “mini-divas” da Disney são jogadas nas nossas caras o tempo todo, ainda bem que temos o rock alternativo criando novas frontwomen com atitude, molecagem e acidez. Afinal, as mulheres inventaram o punk. Não foi a Inglaterra. E muito menos o mainstreaming.
Na faixa de abertura, “CPR”, o tom do disco já mostra o seu caminho. A frase “Is this love or suicide?” (isso é amor ou suicídio?) traz o sarcasmo e a irreverência que a gente admira no punk. Os riffs de guitarra e o groove mais lento mostram a maturidade para fazer um rock mais contido sem ter que recorrer a ritmo acelerado pra trazer energia. Mesmo mais arrastada, a energia do disco já começa lá em cima.
Em “Liquidize”, um indie rock direto, com uma melodia deliciosa e arranjos excelentes. Já “Catch These Fists” foi um dos singles do disco e combina riffs que lembram o “novo rock” dos anos 2000. Em “Davina McCall”, uma balada belíssima em homenagem à apresentadora de TV britânica.
“Jennifer’s Body”, uma das minhas favoritas do disco, tem arranjos excelentes que viram um colosso no refrão, preenchendo os seus fones e te levando pra lugares incríveis da emoção. “Mangetout” tem uma coisa da simplicidade do Sonic Youth que cativa quem ama a lendária banda do rock alternativo.
Apesar de estar ali no meio do disco e ser uma faixa de transição, “Pond Song” ainda nos entrega ótimos arranjos de guitarras, com riffs simples e melodia gostosinha. “Pokemon” tem cara, gosto e ritmo de hit. Tem um clima do melhor do Brit Pop. Se tivesse sido lançada em 1995, seria um grande hino junto com Oasis, Blur e Pulp.
Em “Pillow Talk”, mais uma música Sonic Youthniana. Seria uma música perfeita pra ter a Kim Gordon fazendo participação. É a música mais pesada do disco e tem uma dinâmica quase stoner rock, mesmo soando como indie. Continuando com “Don’t Speak”, uma música com temperos de Stereolab e indie dos anos 90. Coisa linda.
E na reta final do disco, temos “11:21”, que é uma música perfeita pra quem gosta de introspecções inspiradas em Fiona Apple. E pra fechar temos “U and Me at Home”, a melhor música do lançamento na minha opinião, que encerra com a ótima frase: “Maybe we could start a band as some kinda joke… well that didn’t quite go to plan.” Talvez poderíamos montar uma banda como uma piada… meio que não foi como planejamos. Uma ode à própria história da banda, que começou como uma farra e tá aqui melhorando o Rock ainda mais.
Moisturizer é rico em texturas, emoções, atitude e vulnerabilidade, mas sem perder o humor ácido, sarcasmo, irreverência e momentos da fúria do punk mesmo com um Pop em sua essência. É mais um desses discos só pra confirmar o que já falo há tempos… as mulheres não só salvaram o rock, como estão levando o rock para outros lugares.
Faixas
- CPR – 2:50
- liquidize – 2:27
- catch these fists – 3:08
- davina mccall – 3:47
- jennifer’s body – 2:26
- mangetout – 3:24
- pond song – 2:58
- pokemon – 3:26
- pillow talk – 2:56
- don’t speak – 3:13
- 11:21 – 3:46
- u and me at home – 4:01
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