Conheça a sincronia das irmãs Lijadu

Danger, das gêmeas nigerianas The Lijadu Sisters é um disco poderoso, que combina belas harmonias e melodias com letras com forte apelo político e social.

Em 1976, a Nigéria era uma nação ainda jovem em termos de independência (proclamada em 1960), e aos poucos vinha encarando seus problemas e desilusões decorrentes da realidade nada romântica do país e do continente africano.

Em Lagos, cidade da região sudoeste do país, as irmãs gêmeas Kehinde e Taiwo gravavam seu terceiro álbum, Danger, no qual cantam em dueto letras que versam, em inglês e às vezes em iorubá, sobre temas políticos e sociais de maneira bastante sincronizada, reforçando a estética de vozes, personalidade e aparência quase idênticas.

Sob produção de Biddy Wright, que também tocou guitarra, saxofone e bateria no disco, e o acompanhamento do tecladista Johny Shittu e do baixista Ade Jolaoso, as irmãs transmitiam as harmonias e melodias que queriam para os instrumentos cantando todas elas em iorubá e garantindo que os músicos reproduzissem exatamente o que queriam. O mesmo processo em seus demais discos, antes e depois de Danger.

Essa independência entremeada pela lírica afiada, mais do que uma metáfora sobre a situação de seu país, trouxe ao mundo Danger, um disco musicalmente poderosíssimo, que combina a suavidade das vozes, a acidez das letras e uma distorção na guitarra muito diferente do padrão ocidental que se conhece.

Me parece uma bela jogada: engajar por meio da construção de belas canções. Entre elas, Lord Have Mercy, balada de sete minutos que encerra o disco falando sobre infância pobre e precariedade no sistema de saúde pública.

Com um refrão pegajoso, Cashing in desfila um discurso sobre corrupção governamental. É minha preferida do disco.

O rapper americano Nas sampleou Life’s Gone Down Low, nomeada por ele como Life’s Gone Low em sua mixtape de 2006, sem creditar a dupla.

Amebo é uma palavra iorubá que pode ser traduzida como fofoca, mas no caso das irmãs Lijadu, o papo aqui é sobre vigilância (de certo modo, em uma via de mão dupla, elas mandam, sob um andamento de blues lento, o recado aos poderosos: estamos observando vocês).

Por volta de 1980, Kehinde sofreu um acidente doméstico, o que fez com que sua irmã Taiwo se dedicasse a cuidar dela, e a carreira acabou prejudicada. Retornaram para shows esporádicos ao longo das décadas seguintes, até o falecimento de Kehinde em 2019.

Um detalhe que deixei intencionalmente para o final é a informação de que as irmãs Lijadu são primas de segundo grau de um outro ícone da música africana e mundial, Fela Kuti.

Para conhecer mais sobre a fascinante carreira das gêmeas Lijadu, recomendo a leitura da entrevista de 2024 de Taiwo ao site The Quietus.

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