
Envelhecer é libertador. Gostar de um gênero musical específico e esperar que toda banda que entra pra esse meio siga as cartilhas do manual de instrução de como a banda deve soar é uma bobagem. Hoje não ligo mais. Quer misturar Hardcore com Shoegaze e Pop? Vai com tudo.
Quando o artista fura sua bolha, complica ainda mais a percepção das pessoas. Parece que é proibido ganhar dinheiro. Se as pessoas soubessem o quanto as bandas andam perdendo com selos, gravadoras e turnês, ninguém iria usar essa crítica do famoso “sell out”. O “se vender” é uma ideia particularmente hipotética. Não dá pra saber se vai fazer sucesso por inúmeros motivos.
O primeiro disco do Turnstile que ouvi foi o Glow On de 2021. Meu primeiro contato foi pelos elogios. Depois que o disco começou a chamar mais atenção, comecei a ver críticas. O que mais li foram críticas falando que a banda era de Hardcore, mas não soava como Hardcore. A produção era polida demais. Os timbres de guitarra eram “metal” demais e que a atitude e letras das músicas não seguiam as cartilhas do gênero.
Mas foi exatamente por todos esses motivos e mais alguns que adorei o Glow On. Agora, em 2025, eles lançam seu quarto disco de estúdio chamado Never Enough.
Pegando todos esses elementos criticados do disco anterior, a banda expandiu ainda mais. Adicionou um toque de Post-Rock, Shoegaze, Synth Rock e Indie Pop. Dá pra imaginar uma mistura de Bad Brains (gosto) com Black Sabbath (amo) e The Police (amo). O que tem de errado nisso?
Em 2022, um dos cofundadores da banda, o Brady Ebert, saiu logo depois do lançamento de Glow On. Desde 2023, a guitarrista Meg Mills assumiu a guitarra nas turnês e, agora, em 2025, ela foi oficializada na banda. A expansão aconteceu mesmo com esses elementos novos de Synth Rock e Indie. É um disco que tem a cara da música atual.
Hoje temos tanto acesso a diferentes bandas e estilos que ficar parado esperando que novas bandas façam exatamente o que bandas de grande legado fizeram é muito limitador. Se libertar é poder gostar de vários momentos, de várias músicas, de vários estilos, de inúmeros artistas diferentes. Essa é a beleza da música moderna. Existem os nichos, existem as misturas e existem as bolhas estourando.
Apesar da modernidade, os anos 80 são a nostalgia atual. Colocar esse temperinho de fundo com peso e melodias bem feitas é o que me cativou em Never Enough. É um disco extremamente divertido de se ouvir. Tem música para todas as vibes. Se você está numa vibe Synth Pop, nada melhor que ouvir o começo de Never Enough, que abre o disco. Depois, a música se transforma num peso de guitarras distorcidas e depois se complementa com contrastes de melodias praticamente retiradas de reggaes clássicos.
Em sequência, Sole é pesada e cheia de energia. Uma música perfeita pra rodinha de show. Se isso aqui não é bem recebido pela cena de Hardcore, eu não tenho nem ideia de como agradar essa galera. Depois temos a excelente I Care, que tem uma vibe The Police com French Pop. Em Dreaming, um Hardcore com ska e reggaeton. Em Light Design, uma vibe meio Deftones. Dull vem cheia de camadas de Groove Metal e em Sunshower, mais um Hardcore acelerado.
Look Out For Me é talvez um dos grandes destaques do disco. Uma jornada de guitarras, sons, timbres e efeitos e um refrão explosivo. Em Seein’ Stars, mais uma música que poderia ser de New Wave com timbres dos anos 80. Em Birds, um synth misterioso que se transforma em um punk pra bater cabeça. Em Slowdive, riffs inspirados no Tony Iommi do Black Sabbath e um groove dançante. Fechando o disco, temos Time Is Happening, um Pop Punk delicioso, e o disco termina com Magic Man, uma música espacial e cheia de clima, mas com uma melodia super interessante de voz.

Talvez eu tenha sido influenciado por ter ouvido esse disco em loop durante o fim de semana, mas eu achei esse álbum mais divertido e mais legal de ouvir do que o anterior Glow On. Claro que a fórmula que fez a banda furar a bolha e chegar em mais pessoas está ali, mas adorei as novas misturas e sentimentos. É um disco pra ouvir sem se importar com gêneros musicais ou seus movimentos.
Eu não sou daquelas pessoas que dão uma marretada na mesa e acusam alguém de ter traído o movimento. Isso é uma bobagem que eu talvez fizesse quando tinha 15 anos de idade. Hoje somos todos adultos e devemos nos comportar como tal. Gostar de Metal, Rock, Indie, Pop, K-Pop, Djent, Jazz, Soul, Blues e Rock Alternativo só me prepara melhor pra música atual.
Eu não aguentaria viver parado no tempo ouvindo pela milésima vez aquele disco que aprendi a gostar em 1991. Ainda bem que a música muda e a gente também. Parabéns, Turnstile, pelo excelente disco.
Faixas
- Never Enough – 4:47
- Sole – 3:25
- I Care – 3:53
- Dreaming – 2:36
- Light Design – 2:10
- Dull – 2:19
- Sunshower – 3:40
- Look Out for Me – 6:44
- Ceiling – 1:13
- Seein’ Stars – 3:07
- Birds – 2:22
- Slowdive – 3:33
- Time Is Happening – 2:07
- Magic Man – 3:14
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