
É muito comum, e por vezes cômodo, que a imprensa musical jogue todos os jovens artistas com algum parentesco famoso no balaio dos nepobabies, expressão que vem ganhando destaque nos últimos tempos.
Mas há que se separar o joio do trigo no meio desse balaio. Basta que nos lembremos de nomes como Jeff Buckley, que em sua curta – e encerrada tragicamente – carreira acabou por ter até mais destaque que o pai ausente Tim, ou Jakob Dylan, que apesar do sobrenome, não emulou muito a sonoridade do velho Bob. Ou, em outra modalidade, o demitido/recontratado baterista do The Who, Zak Starkey, que além de tudo procurou adotar mais o estilo do padrinho Keith Moon do que do pai, Ringo Starr.
Agora, quase uma década após a partida de David Bowie, a filha do cantor, Alexandria Zahra Jones, 24 anos, estreia no mundo da música com o álbum Xandri, sem se valer da alcunha e do legado do pai famoso, optando por usar o nome Lexi Jones.
Precedido por alguns singles e pelas pistas de que viria algum trabalho autoral a partir do perfil da artista no Instagram, Xandri é um álbum de 12 faixas que – com algum esforço – pode até lembrar a fase de Berlim de Bowie em algumas poucas texturas, mas traz em si muita originalidade e personalidade em faixas como In the Almost, Let me Go e Along the Road, a faixa de abertura.
Com algumas harmonias fora do padrão aqui e ali, o disco também não arrisca muito, mas parece honesto em suas intenções. A capa do disco também foi criada pela própria artista, representando dois rostos com expresões antagônicas, lutando para se separarem.
O nome Xandri, além de ser uma abreviação do nome da artista (assim como Lexi também é), tem um outro significado, que vem do grego e significa “defensor da humanidade”, o que pode ser um sinal da busca por uma persona para si, como era de praxe na obra do pai. Desde que seja de uma forma original, nada de errado nisso.
Parece inevitável à artista, e imagino que ela saiba disso, lidar com comparações e citações a Bowie o tempo todo (e mesmo este texto fez isso, não pude escapar), mas aos nossos ouvidos, é muito possível dar play nas doze faixas sem fazer esta associação, e mesmo assim ter uma audição agradável. Recomendo a experiência.
Para quem tinha a opção de usar o nome artístico famoso adotado pelo pai ou simplesmente viver da herança, talvez Lexi tenha optado pelo mais difícil, mas também o mais prazeroso: construir seu próprio legado.
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