
Nascida em Viña del Mar, no Chile, residindo no Rio de Janeiro e cantando em inglês, Megan Duus é a vivência dessa mistura em sua essência. Com seu tempero de música ambiente como base fundamental de seu trabalho de estreia, Megan faz um indie-pop-rock-psicodélico.
A “Regra das 10 Mil Horas”, popularizada por Malcolm Gladwell em seu livro Outliers, sugere que são necessárias aproximadamente 10 mil horas de prática para alcançar a maestria em qualquer área. Nas novas gerações, parece que já se chega à idade adulta com todas essas horas e muito mais.
Ouvir “The Wheel of Fortune”, sabendo que esse é um disco de estreia, nos pega de surpresa com tamanho refinamento e consistência no seu trabalho. É um trabalho que precisa ser escutado e reconhecido onde quer que seja. Não só pelo talento, criatividade ou qualidade, mas, acima de tudo, por ter excelentes músicas.
O álbum foi gravado e produzido em estúdios e home studios no Chile, Brasil e Los Angeles pela própria artista, em parceria com o produtor e instrumentista chileno Leo Mus Waver, que também performa vários instrumentos na produção e assina a engenharia de som junto a Tim Horner, do The Ship Studios, em Los Angeles, Califórnia.

O disco traz uma sensação de conversas pessoais sobre emoções, observações sobre o desconhecido e reflexões sobre sonhos. Seu clima espacial, com excelentes loops de sintetizadores, traz um ar hipnótico que complementa os arranjos de músicas que, só em voz e violão, já seriam ótimas em sua essência.
Há momentos na sonoridade do disco que me levaram a loops de Pink Floyd e Alan Parsons. Mas, fundamentalmente, a música de Megan Duus é extremamente autoral. Tem algo de Radiohead, Lana Del Rey e Tori Amos. Mas toda essa comparação é apenas percepção de nuances em detalhes de linhas melódicas, timbres e arranjos.
O que mais impressiona em The Wheel of Fortune é que, muitas vezes, novos artistas passam três ou quatro discos buscando sua voz, mas, aparentemente, Megan sabe exatamente o que está fazendo. Não tenta emular nada nem se encaixar em trends ou facilidades de playlists quase automáticas que temos por aí. Ela é uma artista que precisa de curadoria, atenção e reconhecimento.
O disco abre com uma introdução de loop que já define bem o seu tom. Em um ambiente aquático, a segunda faixa, Mind Pool, nos leva para sons da natureza e melodias criativas, com dinâmicas de transições inesperadas e belíssimas. Em Losing Myself, uma melancolia dessas que eu particularmente adoro.
A música Monsters traz a sensação de que monstros são, muitas vezes, silenciosos e calmos. Já Death Is Always Around the Corner, o grande destaque do disco para mim, é de uma maturidade incrível. Glow me parece ter alguma influência do Rio de Janeiro em sua essência, com um toque de melodias Fiona Apple.
Daydreaming in a Bathtub é um indie shoegaze, com melodias flutuantes e ótimas mudanças de levada. Já na parte final do disco, Blood Red tem um sentimento de folk moderno, enquanto Golden Bubbles traz um ar de esperança e positividade, apesar do clima mais ambiente. O disco fecha com uma super viagem chamada Father Sun. Para quem gosta de Brian Eno, vai amar.
Na jornada dessa roda da fortuna, Megan Duus nos entrega como prêmio musicalidade, introspecção e criatividade. E quem mais ganha com isso é a música.
Faixas
- Assistance is at Hand
- Mind Pool
- Losing Myself
- Monsters
- Death is Always Around the Corner
- Glow
- Daydreaming in a Bathtub
- Blood Red
- Golden Bubbles
- Father Sun
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