Bob Dylan em estado de redenção

Após trabalhos medianos e pouco inspirados nos anos 80, Bob Dylan encerra a década com maestria em Oh Mercy, sob a batuta de Daniel Lanois.

Os anos 80 não foram muito fáceis para os veteranos de outras décadas. Talvez por conta de uma sonoridade buscada por produtores da época, para encaixar os artistas na onda do momento, talvez apenas pelo sentimento de inadequação perante as novidades, o fato é que vários deles produziram trabalhos medianos e um tanto perdidos esteticamente.

O final da década, no entanto, especialmente o ano de 1989, pareceu ser de reabilitação, se pensarmos em grandes trabalhos de artistas como The Rolling Stones, Tom Petty e Neil Young, com Steel Wheels, Full Moon Fever (cuja história o Bruno Leo contou no Raio-X do Episódio #211 do nosso podcast) e Freedom, respectivamente.

No caso de Bob Dylan, o caminho para a redenção veio com o auxílio do produtor Daniel Lanois, antes fiel escudeiro de Brian Eno e já escolado em trabalhar com artistas “messiânicos”, por assim dizer, pensando em sua experiência com o U2.

Lanois, que havia acabado de produzir o álbum Yellow Moon dos Neville Brothers, levou alguns músicos da banda para gravarem com Dylan, o que trouxe para Oh Mercy, vigésimo sexto álbum do cantor, a unidade sonora que o caracteriza. O próprio produtor botou a mão na massa e tocou em 9 das 10 faixas, com destaque para o Ohmnichord em Shooting Star, que fecha o disco.

Oh Mercy é um disco político, e isso fica claro desde o primeiro acorde em Political World, mas também em Living in A Material World e Everything Is Broken, que lista tudo o que foi quebrado, entre acordos, membros, pessoas e tratados.

Depois de Oh Mercy, Bob Dylan lançou álbuns visto como muito melhores e clássicos. como Time Out of Mind e Modern Times, mas é inegável que este disco foi o ponto de virada para que o bardo não ficasse relegado ao papel de artista relevante apenas em décadas anteriores. A grandeza retomou seu lugar.

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