A newsletter desta semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!
IT’S A CLASSIC
Por Vinícius Cabral
CELEBRANDO O DESESPERO GERACIONAL
Se TV On The Radio não era sua banda favorita em 2004/2005, você estava vivendo errado. A menos que você estivesse, como boa parte do nosso público, no ensino fundamental, acabando de sair das fraldas (aí tudo bem, ok?).
Quando a banda surgiu em 2003 com o Young Liars EP, foram um fenômeno difícil de ignorar. Não apenas pela apresentação do clássico Staring At The Sun. A versão para a banda de Mr. Grieves, dos Pixies, deixava claro onde eles estavam querendo chegar. Em uma época que ficou marcada pelo indie de guitarrinhas, satisfeito em chupar Television até a medula e dizer que estava “ressuscitando” o (nunca morto) rock, TV On The Radio apresentava uma fórmula diferente; baixos sintetizados com distorção sustentavam o arranjo angelical das vozes de Tunde Adembipe e Kyp Malone; letras densas, guitarras fortes em loops distorcidos (às vezes meio noise, sempre bem Pixies das ideias) e samplers e beats eletrônicos etéreos complementavam o cenário. Era uma banda que realmente modernizava o indie rock.
E modernizava de uma maneira que soa muito atual, 20 anos depois. O último mês foi marcado por comemorações, que envolveram o lançamento da versão de aniversário do álbum, com faixas inéditas e algumas demos remasterizadas. Imperdível para quem já é fã. Para quem não é, eu recomendo que ouçam a versão original do álbum, que é a que linko abaixo. O relançamento bagunçou a tracklist, jogando Staring At The Sun para o final do álbum, e eu simplesmente não acho que isso funcionou. De qualquer maneira, detalhes.
É espetacular ver que a banda soube celebrar bem o marco de sua estreia inesquecível, sem um retorno daqueles melancólicos. Se voltaram (e não estavam a tanto tempo assim fora dos palcos), foi de forma triunfal. A performance abaixo não deixa espaço para dúvidas. TV On The Radio fazia sentido em 2004. Faz até mais, talvez, em 2024. Poucas bandas sobrevivem tão bem à prova do tempo. O desespero geracional cantado pela banda em 2004 é o mesmo de hoje. Só se agravou um pouco.
“Bomb your country / then sit and smile”
É, Estragos Unidos …
Ps- Notem a camiseta de Kyp Malone no vídeo abaixo e tirem suas conclusões.
Enquanto vocês ainda estão aqui: uma das canções bônus do álbum comemorativo saiu como single, e é uma pedrada. Reapropria versos de Bomb Yourself, e comprova tudo o que falei acima. TV On The Radio é uma banda atual. Que a nova turnê nos traga novas canções como esta e, quem sabe, um disco novo.
[bandcamp album=736875574 size=large bgcol=ffffff linkcol=333333 artwork=small transparent=true]
Ouça Desperate Youth, Blood Thirsty Babes aqui
Por Bruno Leo Ribeiro
EM CIMA DO MURO
Há 2 dias, saiu um vídeo super interessante do músico e YouTuber Adam Neely sobre o uso recorrente da frase “Caught in the Middle” (pego no meio) na música Pop nos últimos anos. Ele explora temas como métrica, melodia e muitos outros detalhes que fazem a gente enxergar a música com outra perspectiva. Vale muito a pena assistir! [Assista aqui].
Um dos exemplos que ele cita é a música Trouble, do Coldplay, o que me fez terminar o vídeo com um impulso irresistível: pegar o disco de vinil e colocar o Parachutes, disco de estreia do Coldplay, pra tocar.
Muitos vão dizer, “Coldplay era bom nessa época aí e só”. E tudo bem. Eu respeito a opinião das pessoas mesmo não concordando. Pra mim, o Coldplay seguiu em altíssimo nível até o Viva La Vida. Mas deixa esse papo pra outro dia. Hoje o foco é Parachutes, um disco que abre os anos 2000 com classe e personalidade.
Logo de cara, o álbum trouxe três hinos atemporais: Shiver, Yellow e Trouble. Com uma sonoridade que mistura aquele pós-Britpop com pitadas de indie e um toque melódico de Pop, o Coldplay chegou na cena como um meteoro. E eles já tinham plena consciência disso. Na primeira turnê da banda, foram mais de 130 shows. Desde o começo, eles eram uma banda pronta pra arena, pensada pra levar multidões aos estádios – gostando você de um, dois ou de todos os discos deles.
Agora, pausa para um desabafo: acho meio chato (e até pedante) ficar diminuindo os gostos das pessoas só porque não se gosta do Coldplay. A banda pode não agradar muitos, mas tem muita gente que gosta também. Muita mesmo. Achar uma banda chata, não faz ninguém mais refinado e importante. Se a pessoa acha chato, beleza. Vai ouvir outras coisas.
Mas pra quem está em cima do muro – ou caught in the middle – recomendo dar play no Parachutes. Há 24 anos, um clássico nascia. É um super disco de estreia que moldou o caminho de uma das maiores bandas Pop dos últimos tempos. É onde tudo começou. Pra alguns, infelizmente, onde termina também. O que, pra mim, é uma pena, porque a melhor música da banda (Violet Hill) está no Viva La Vida.
Fica aqui a dica: ouça os quatro primeiros discos do Coldplay com o coração aberto. Mas, comece pelo Parachutes. Prometo que vale a pena.
Beijos no coração!
Por Brunno Lopez
BRING BACK THE POWER TO LOVE
Eu ouço exatamente essa parte aí no título enquanto escrevo. A frase é parte de um refrão retumbante de ‘The Power To Love’, a faixa que abre Hourglass, certamente o melhor disco de melodic hard rock do ano 2000.
A banda? Millenium. O vocalista? Jorn Lande. Aqui, não seria preciso dizer mais nada. Mas quando temos esse norueguês à frente de qualquer projeto, sempre se tem algo a dizer.
Se nessa época, Bon Jovi lançava Crush e reconquistava os Estados Unidos, esse lançamento ficou, evidentemente, ofuscado. Porém, não cabe tentar descobrir as razões da completa invisibilidade dessa obra e sim buscar fazer com que, 20 anos depois, ela seja desfrutada em alto e bom som.
Ao longo das 10 faixas, o grupo explora com elegância todas as facetas que o estilo permite. Irretocável ao extremo, um exagero de bom gosto, uma aula de equilíbrio.
E enquanto toca ‘Superstar’, eu desejo secretamente que eles um dia pudessem chegar perto do que essa expressão significa para tantos comuns que a vivem sem necessariamente entregar algo que justifique.
Como seria o mundo se os palcos fossem ocupados por aquilo que ninguém fazia ideia que existia mas que, após conhecer, percebe que não poderia ter vivido um minuto sem aquilo?
A resposta não está no streaming.
Está nesse link de youtube.
Por Márcio Viana
QUANDO MENOS SE ESPERA, O QUE SERIA JÁ ERA
Superada a história de ou ama ou odeia, ou a rixa boba com a crítica nas décadas passadas, talvez dê para reavaliar alguns discos dos anos 80 com sua real importância (não que em algum momento eu tenha colocado barreiras nisso).
Ouça o que eu digo: não ouça ninguém, lançado em 1988, é o segundo disco dos Engenheiros do Hawaii com a formação que ficou mais famosa, com Humberto Gessinger no baixo e voz, Augusto Licks na guitarra e Carlos Maltz na bateria.
Depois de A Revolta dos Dândis, do qual eu fiz um Raio-X no episódio #78, em que a sonoridade do trio ainda parecia desencontrada, em Ouça… a banda parece ter encontrado um porto seguro. É um disco “de banda”, ao contrário dos que sucederam a ele, mas isso é assunto para algum outro texto.
Mesmo sendo um disco da virada entre os 80 e 90, a sonoridade é mais setentista, cortesia da guitarra de Licks e talvez dos equipamentos do estúdio da RCA (que a aquela altura já estava virando BMG, alocando a banda no selo Plug). Sem muitos efeitos e overdubs, a distorção vinha mais dos amplificadores, o que dava uma coesão para o som. Muito disso também se deve à produção de Luiz Carlos Maluly.
Ainda que tenha tido um megahit como Somos Quem Podemos Ser, não é esta canção que define o disco. O pote de ouro está nos lados B, como Sob o Tapete (a melhor do disco), Desde Quando? e Quem Diria?, além de boas letras que misturam aquela sabedoria de almanaque com pérolas como “eu tenho os meus problemas, você tem os seus, variações de um mesmo tema, ateus procurando Deus” (Variações Sobre um Mesmo Tema) ou “o que seria de nós se não fosse a ilusão, a doce ilusão de conseguir?” (Sob o Tapete).
A capa do disco continua a tendência do anterior, com o uso de engrenagem e estética kitsch, e há que se admitir que não seja algo tão interessante para além do formato de LP.
Enfim, voltando à reflexão inicial, vale ouvir sem pensar muito no contexto de amar ou odiar, é um bom disco.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana