Na newsletter desta semana nosso time fuça seus apps de streaming e suas discotecas (físicas) especiais para revelar o que anda nos plays recentes, embalando seus dias. São dicas especialíssimas que revelam os gostos pessoais do grupo e reforçam toda a diversidade apresentada semanalmente em nosso podcast.
RECENT PLAYS
Por Bruno Leo Ribeiro
AMIGO DO FANTASMA
Sou um verdadeiro apaixonado por capas de discos. Nos anos 90 e 2000, foi um sofrimento ver tantas capas feias nas bandas de metal que eu ouvia. Ao entrar em lojas de discos, a parede de CDs lado a lado parecia uma promoção de uma única banda: tudo era muito parecido. A estética é cafona, exageradamente fantasiosa, e sem personalidade. O que bandas como Iron Maiden aprimoraram visualmente, outras copiavam com bem menos verba e criatividade.
Na minha tese de conclusão do curso de Comunicação, explorei o poder de venda das capas de discos e usei a semiótica do Pink Floyd como exemplo. A pesquisa provou, com estudos e análises, que sim, uma capa bem-feita pode ajudar a vender um álbum. Minha resistência com o metal em algum momento talvez tenha a ver com essa estética antiquada que muitas bandas mantêm. Estamos a menos de dois meses de 2025 e ainda tem bandas usando ilustrações de batalhas medievais e demônios em tronos infernais. Bora evoluir, né?
Ainda bem que o mundo das artes e da música tem evoluído, e sinto (tirando a fonte do meu próprio instinto) que o talento dos criativos, ilustradores e fotógrafos é mais abundante agora do que no passado. As novas gerações de criativos são incríveis, trazendo uma estética renovada, ousada e inspiradora para as capas de discos. Com tanta coisa bonita surgindo, é quase impossível acompanhar tudo, mas felizmente há curadores que nos ajudam a descobrir novos artistas que viralizam nas redes e renovam a arte musical.
Foi nesse contexto que resolvi ouvir o disco “Friend of a Phantom”, da banda dinamarquesa de metal atmosférico Vola. Que capa linda! Vi anúncios sobre um show deles em Helsinque na primeira semana de novembro (infelizmente não fui porque foi no mesmo dia do Dream Theater) e fiquei com a imagem na cabeça: uma pintura de uma pessoa cercada por pássaros ao redor da cabeça, numa composição fluida e hipnotizante.
Assim que o álbum foi lançado, no dia 1º de novembro, dei play e não me arrependi. Talvez tenha sido a melhor surpresa musical do ano pra mim. Com um som atmosférico, melodias marcantes e peso e dinâmicas na medida certa, o Vola soa como se o Katatonia tivesse um “filhote” com o TesseracT, com toques dos sintetizadores do CHVRCHES. Adorei. Desde o lançamento, Friend of a Phantom está em loop na minha cabeça, e finalmente consegui comprar o vinil, que só foi lançado uma semana depois. É uma peça belíssima.
Felizmente hoje em dia podemos ter uma prévia de um álbum antes de ir pra loja de disco e levar eles pra casa. Nos velhos tempos, a gente se guiava pelas capas, torcendo para acertar. Se a compra não fosse boa, ouvíamos o disco até aprender a gostar. O Vola chegou até mim através de sua capa deslumbrante. Depois li algumas recomendações e a cada audição, a banda cresce mais para mim. Já recomendei aos amigos e agora recomendo pra vocês. E como toda arte merece crédito, a ilustração da capa do Vola é do artista Aykut Aydoğdu. Vale a pena conferir seu trabalho no Instagram: @aykutmaykut. É coisa fina demais!
Por Vinícius Cabral
OS LASTROS DE 2024
Estamos em pleno 2024. Chegou a hora de substituirmos a ideia de rastro por lastro. Os ecos fantasmagóricos de um passado “onde tudo era melhor” precisam dar espaço às contradições e desafios do presente. Nunca estivemos tão empobrecidos e apartados do senso de comunidade. Ao mesmo tempo, nunca tivemos tantas comunidades espalhadas por aí, desejosas por substituir as relações virtuais por relações de carne e osso. Não sabemos o que assistir ou ouvir, mas nunca tivemos tanto acesso à bandas e filmes. E por aí vai.
Chega 2024, e a impressão generalizada de que se trata de um ano “menor”, dentre os últimos, em termos de lançamentos de qualidade. Será que é isso mesmo, ou nós é que já não aguentamos perseguir 200 lançamentos por ano compulsivamente e precisamos de filtros? Não é pra isso que estamos aqui escrevendo pra vocês semanalmente? Para oferecer uma curadoria? Semana passada resolvi abrir uma “janela” para os lançamentos de K-Pop do ano. Abri rapidamente e fechei. Já ouvi uns 5 discos do gênero que me animaram muito, e minha cabeça não sustentará mais do que isso. Há inúmeros influenciadores e jornalistas por aí que já cobrem o pop coreano. Deixo com eles essa responsa.
Da minha parte posso afirmar que, até aqui, o ano tem sido inesquecível. Qualitativamente, uma vez que tudo que escrevi até aqui tem sido para explicar que não dá mais pra ficar apostando corrida de quem ouve mais discos. Para o rock alternativo é um ano que promete solidificar uma tendência. A tendência do lastro. As coisas possuem materialidade. Os artistas possuem carreiras. As músicas transcendem os limites do seu player favorito. E isso está claro por mil aspectos, e em diversos álbuns, de diversos artistas. Esta coluna não é para destacar UM play recente. Mas alguns.
Dia 1º de novembro meu querido Phil Elverum lançou seu novo disco como Mount Eerie, depois de alguns anos de sumiço. Artistas possuem carreiras. E a de Elverum precisa ser acompanhada. Mas o ano todo fomos agraciados como muitas carreiras novas. Muitas novidades, inovações e algumas pequenas tragédias;
Las Ligas Menores acabou. Ou melhor, sua líder, Anabella Cartolano expulsou todo mundo da banda para ficar com o nome. As Fin Del Mundo, depois de uma turnê pelo Brasil, lançaram um álbum novo (para mim, decepcionante). Muitos discos foda na Argentina, como os de 107 Faunos e Juan Lopez. No Brasil também, como o novo da Oruã, o novo do Bonifrate, e a estreia da banda Aquiles, de BH, da Paira, e da Varanda, de Juiz de Fora. Na gringa, segue-se um fluxo enorme; Helado Negro, Kim Gordon, Mannequin Pussy, Vampire Weekend, Cindy Lee, Jessica Pratt, Mabe Fratti, MJ Lenderman, Nilüfer Yanya, Fontaines D.C, Being Dead, Dummy, Chat Pile, etc, etc.
É coisa demais, e nem é só isso. Para dar uma organizada nas ideias e preparando o terreno para o nosso momento dos “Melhores do Ano”, fiz uma playlist. Ouçam com moderação.
Por Márcio Viana
VALE A PENA
É curiosa a jornada do Pullovers. Foram muitos anos (uns dez) na cena tentando fazer a banda acontecer em discos como Pullovers Can’t Play Covers, Riding Lessons, Carniça, até que resolveram lançar um registro todo em português, o grande Tudo que Eu Sempre Sonhei, de 2009. Aí a banda se separou no ano seguinte, com os integrantes fazendo alguns outros trabalhos, sem o mesmo destaque.
Em 2013, alguém muito descolado na TV Globo pegou uma faixa deste álbum, O Amor Verdadeiro Não Tem Vista Para o Mar, e botou na trilha da novela Além do Horizonte, e causou algum burburinho e procura pela banda, que naquele momento não existia. Nos últimos anos, a faixa-título viralizou no Tik Tok, sabe-se lá o porquê.
Demorou mais dez anos depois da novela para que se reunissem, já que agora bandas conseguem existir até virtualmente, e lançaram alguns singles, que agora integram junto com outras faixas o novo álbum, Vida Vale a Pena?
É a mesma banda, e eles assumem isso na faixa Mais do Mesmo (que não é cover da Legião), mas também não é a mesma banda, porque tem uma crueza que 15 anos de hiato proporcionam.
Puro suco de existencialismo em dez faixas. Não é o disco do ano, mas sim, vale a pena. A vida e a audição do disco.
Por Brunno Lopez
POSTALGIA
A Suécia é o país que mais trata bem o ouvido das pessoas. O Adecence é mais uma prova dessa máxima incontestável. Por lá, ninguém gasta dinheiro com guarda-chuva pois é absolutamente delicioso receber tempestades de hits e se deixar molhar com tanta originalidade viciante.
Neste disco de nome contrário à nostalgia, é até quase incoerente venerar um futuro quando se escreve mergulhado até os ombros nos anos 80. Bem, se o Ghost chegou até aqui assim, esses rapazes de Falköping também podem.
É até perceptível alguma semelhança entre a atmosfera das canções com o projeto de Tobias Forge, e está tudo bem. Os frutos do Eurovision fazem as pessoas serem mais saudáveis musicalmente.
E o melhor de tudo, bem aqui, no finalzinho de 2024.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana