Na newsletter desta semana nosso time fuça seus apps de streaming e suas discotecas (físicas) especiais para revelar o que anda nos plays recentes, embalando seus dias. São dicas especialíssimas que revelam os gostos pessoais do grupo e reforçam toda a diversidade apresentada semanalmente em nosso podcast.
RECENT PLAYS
Por Bruno Leo Ribeiro
NÃO DÁ PRA VIVER SÓ DE CHOCOLATE
Imagine uma vida em que só existisse chocolate para comer. As variações de gosto dentro desse mundo seriam bastante limitadas. Haveria um pouco de chocolate amargo, chocolate branco e outras variações, mas, no fim das contas, aquele chocolate com amêndoas torradas em caramelo com certeza acabaria sendo o favorito. E se de repente outros sabores fossem introduzidos ao mundo? O governo provavelmente gastaria uma fortuna em campanhas publicitárias com slogans como ‘coma mais arroz’. Tudo isso como uma estratégia pra ir acostumando o paladar da Chocolatelândia pra um dia as pessoas gostarem de brócolis e ruibarbo.
Com a música, acontece algo bem parecido. Caso o nosso gosto seja moldado apenas pelo Fantástico e pelo Jornal Nacional. Tudo é chocolate. As playlists prontas baseadas no hype musical do momento são chocolate. Um disco retrô que soa como os anos 80 é chocolate. As trilhas sonoras das lojas de fast fashion são chocolate. Os mesmos headliners de sempre no maior festival de música do Brasil. Mais chocolate.
Não estou dizendo que chocolate é ruim, muito pelo contrário. Mas dá para viver só de chocolate? Eu pensava que sim, mas eu mudei. Meu gosto foi moldado pela MTV e pelo rádio. Havia uma curadoria para o sucesso. Tirando alguns programas de nicho, como Clássicos MTV, Lado B e Fúria Metal, todo o resto era chocolate. Ainda bem que na vida a gente enjoa de certos sabores e começamos a buscar o diferente. E foi assim que esses nichos expandiram meu gosto musical.
Quando resolvi aprender o que era Jazz, foi como provar coentro pela primeira vez (sou time coentro!). No início, precisei entender o que aquele novo sabor trazia pra carne moída que só com alho e sal já estava bom. A adição do coentro expandiu meu paladar. O Jazz, o prog rock, o avant-garde e outros gêneros musicais fora do mainstream foram os ‘não chocolates’ que eu fui experimentando, aprendendo a apreciar e eventualmente amando. Ter essas novas referências e gostos diferentes até me faz valorizar mais o chocolate depois do almoço — aquela música de conforto que a gente sempre amou. O famoso cobertor quentinho.
Tá mas onde eu quero chegar?
Goerdie Greep, vocalista e guitarrista da banda inglesa black midi (que agora está em hiato por tempo indeterminado) acabou de lançar um disco solo chamado “The New Sound”, e eu tenho ouvido ele em loop desde o lançamento, no dia 4 de outubro. É como se o álbum fosse uma mistura de todos os sabores que fui conhecendo ao longo da vida. Tem um pouco de Frank Zappa, samba, musical da Broadway, jazz, baião, fusion, rock, Mr. Bungle, Steely Dan, J-Rock e muito mais. Uma receita quase aleatória de sabores que funcionou perfeitamente pra mim.
Na primeira audição, fiquei com uma sensação de estranhamento. Mas na segunda, comecei a entender o que estava acontecendo. A cada vez que escuto, compreendo um pouco mais e gosto um pouco mais. Essa mistura de sabores torna as partes de ‘chocolate’ do disco ainda melhores.
Expandir o gosto musical não significa ter um gosto ‘melhor’, mas abre novas possibilidades. É como ter mais referências. Imagine entrar nas redes sociais e não entender um meme? Precisamos de contexto e repertório para nos sentirmos mais conectados ao mundo. É assim que nos conectamos com a arte. Por meio de referências e repertório. Se nos deixarmos levar apenas pelo que a indústria quer, voltaremos pra Chocolatelândia. E, para mim, uma vida assim perde totalmente a graça.
Por Vinícius Cabral
MUITO BOM. NOTA 5
Para a estupefação geral, vou começar esse texto parafraseando Anthony Fantano. Ele disse que, em seu novo álbum, Romance, o quinteto irlandês Fontaines D.C “apresenta o melhor conjunto de canções que a banda já produziu até aqui”. Logo, nota 5. A nota, claro, é da incoerência do Fantano. Para mim é mais alta, mas eu não fico distribuindo nota porque não sou professor (nem otário).
Dito isso, vamos ao disco, que realmente tem o melhor conjunto de canções da banda até aqui. E desfila um enorme catálogo de referências, intencionais ou não. Vai do Madchester ao Massive Attack no destaque absoluto Starbuster– um dos hinos de 2024. Também explora uma gama sonora bastante ligada ao que se convencionou chamar de Britpop; lembra bastante Oasis em Bug e, curiosamente, acena a um Blur, tanto musical quanto liricamente, ainda na canção antecedente, a maravilhosa In The Modern World (algo próximo de End Of a Century ou The Universal, da banda londrina).
Mas não para por aí. Ainda há espaço no álbum para uma espécie de neo-grunge, com Here’s The Thing, e canções dinâmicas (com explosões no refrão) como Desire e Sundowner. O disco é todo muito bom, mas ainda reserva para o último instante a cereja do bolo. Favourite fecha o disco da forma mais fofa o possível. A canção feelgood fundamental do ano. Acena para um pós-punk, mas o reveste de charme contemporâneo de forma muito competente.
E isso é também digno de nota; com tantas referências “retrô”, vocês devem pensar que trata-se de mais um copia-e-cola pós-moderno. Mas não é. E a própria banda explica isso ao comentar que não dão a mínima para a reunião do Oasis: “estamos tão presos em nostalgia”, comenta o baixista da banda, Conor Deegan III, “que esquecemos de fazer coisas novas”. Acrescenta que, ao fazer o novo disco, “estávamos olhando para o futuro”. Se olhar para o futuro é trazer novas camadas e interpretações a linguagens que sempre nos tocaram, me parece um caminho interessante.
No fim das contas. Excelente disco. Nota 2, vai…
Por Márcio Viana
O ROCK AND ROLL FERE, MAS É MUITO DIVERTIDO
Acho que a grande coisa a se falar sobre o duo Being Dead, de Austin, Texas, é que sua principal característica e ponto forte é não se levarem a sério.
Em seu segundo disco, EELS, Falcon Bitch e Shmoofy (eu avisei que eles não se levavam a sério) mandam canções nada lineares e não muito possíveis de serem encaixadas em uma vertente do rock. Eles são o que são, e é o que basta.
Pra dar uma organizada, a dupla chamou o produtor John Congleton, ganhador do Grammy (se é que essa informação importa aqui), mas eles também acabaram por dar uma produzida adicional. O som do Being Dead por vezes soa sessentista, mas tem toques de new wave e alternativo.
Me conquistou desde a abertura, com Godzilla Rises, mas a que viciou mesmo foi a singela Rock n’ Roll Hurts. Acho que vai estar na minha lista de melhores do ano (tá chegando).
A saber: no disco e nos shows, o duo vira trio, com a participação ativa da baixista Nicole Roman-Johnston, que contribui inclusive com suas risadas na já citada Rock n’ Roll Hurts.
Ouça no Bandcamp:
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Por Brunno Lopez
PAUSA PRA DESCANSO
Essa semana o Brunno Lopez está descansando, mas mandou pra gente algumas pérolas musicais que ele achou em uma feirinha. Semana que vem ele está de volta.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana