Newsletter Vol. 271

A newsletter desta semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!


IT’S A CLASSIC

Por Vinícius Cabral

JÁ?

Ninguém conseguirá me explicar porquê a Pitchfork resolveu fazer uma lista de melhores álbuns de uma década que só tem, até aqui, quatro míseros anos. Quatro anos. Não completamos nem um ciclo eleitoral, ou de copa de mundo, e esses arrombados estão fazendo uma lista com os 100 álbuns “da década”. Tá faltando audiência? Tão perdendo relevância? Enfim. Esse não é um texto sobre a lista da Pitchfork, que nem linkarei aqui para não tirar sarro com o precioso tempo de vocês.

É um texto que usa a lista como desculpa pra refletir, realmente, sobre a temporalidade na música atual. O #1 da lista é o indiscutível Fetch The Bolt Cutters. Assim como Diamond Jubillee de Cindy Lee neste 2024, assim que o último álbum de Fiona Apple saiu, em 2020, quase todo mundo sabia que se tratava de um clássico. E, sem tergiversar, por um motivo muito simples: ele não soava com nada daquilo que andávamos ouvindo.

Em uma era hiper saturada de pós-produção (mesmo no rock), o álbum de Apple parecia colocar microfones nas tábuas de madeira do chão. Tudo era nítido, colorido e rico harmonicamente, com timbres e sons preenchendo os espaços mais recônditos. E claro, com o melhor conjunto de canções que a artista já conseguiu nos entregar. Mesmo nas experiências mais “tradicionais” como canções pop (I Want You To Love Me, Ladies, Cosmonauts), Apple garantiu capturar nossa atenção de forma absoluta- é impossível ouvir, por exemplo, Shameika, e não abaixar a cabeça, tentando absorver todos os sons e melodias que a canção dispara em nossos sentidos.

Fetch The Bolt Cutters, assim como Diamond Jubilee, é uma experiência. Um exercício de imersão. Quem diria que, nos tempos atuais, marcados pela dispersão e pela superficialidade, canonizaríamos obras amparadas em uma escuta atenta e ativa. Fetch The Bolt Cutters já é, sim, um clássico. Mas a lista da Pitchfork é apenas uma excrescência que marca a decadência da mídia musical ocidental.

Tenho dito.

Ouça Fetch The Bolt Cutters aqui 


Por Bruno Leo Ribeiro

SUPER GRUPO EM ALINHAMENTO

Mad Season - IMDb

Alguns discos de vinil demoro para encontrar. Fico com um disco na minha wishlist por anos. E toda vez que entro em uma loja de vinil e começo a passar de disco em disco, minha lista mental está pronta para processar em segundos o impulso de pegar (quase abraçar) o vinil para levar pra casa. Semana passada, vivi isso com o disco “Above”, do supergrupo “Mad Season”. Mas, afinal, o que foi o Mad Season?

Durante a produção do disco Vitalogy, do Pearl Jam, o guitarrista Mike McCready iniciou um processo de reabilitação em Minneapolis, Minnesota (terra do Prince), onde conheceu John Baker Saunders, que mais tarde se tornaria o baixista do The Walkabouts. Quando os dois se recuperaram e retornaram a Seattle, juntaram-se ao baterista Barrett Martin, do Screaming Trees, e esse trio começou a ensaiar e compor novas músicas.

Para os vocais, Mike McCready convidou seu amigo Layne Staley, vocalista do Alice in Chains. A ideia de Mike era cercar Layne de pessoas sóbrias para ver se isso o inspirava. Com o supergrupo se formando, a banda foi ao Bad Animals Studio, em Seattle, para gravar um disco que incorpora um pouco de tudo. Os mais apressados dirão apenas que é uma mistura de Alice in Chains com Pearl Jam, mas é muito mais do que isso.

O Alice in Chains é uma banda que combina Glam Metal com influências de Black Sabbath, dentro do movimento grunge, enquanto o Pearl Jam é a banda de Classic Rock do grunge. Quando se tem um guitarrista de Classic Rock dos anos 70 (Mike McCready) e um vocalista formado no Glam (Layne Staley), essa fusão se torna evidente, mas o disco vai além disso.

O “Above” traz elementos de jazz, arena rock, rock progressivo e blues. O álbum conta com saxofone e até uma música coescrita com Peter Buck, guitarrista do R.E.M. Além de tudo isso, Mark Lanegan, vocalista do Screaming Trees (com uma voz maravilhosa que infelizmente também perdemos), canta em “I’m Above”, “Long Gone Day”, “Locomotive”, “Black Book of Fear” e “Slip Away”.

O disco foi lançado em 1995, um ano de realinhamento. Foi um disco lançado um ano após a morte do Kurt Cobain, vindo como uma esperança de sobriedade. Mas, muitas coisas ainda estavam por acontecer. O que importa é que, mais uma vez, grandes músicos do movimento de Seattle se uniram para formar um supergrupo e lançar um clássico inesquecível.

A quantidade de supergrupos que deram certo, com integrantes ligados ao movimento de Seattle, é verdadeiramente surreal.

Ouça aqui 


Por Brunno Lopez

NÃO ACREDITE NA VERDADE (MESMO QUE SEJA)


Ainda aproveitando o episódio especial que fizemos com a volta do Oasis, um olhar cuidadoso sobre o Don’t Believe The Truth faz o disco soar com raridade clássica.

Ok, 2005 não era um ano em que o ábum estivesse confortavelmente inserido. Afinal, tínhamos o Black Eyed Peas mandando ‘Don’t Lie’ em todo canto, o Billie Joe Armstrong se preparando pra acordar apenas quando setembro acabasse e o Coldplay já inventava sua vibe de código genético no X&Y.

Porém, assim que ‘Turn Up The Sun’ começa, dá pra perceber que não se tratava de mais do mesmo. Ainda que talvez o mesmo pudesse fazer mais retumbe.

Fato é que, num material em que uma obra tão magnífica quanto ‘The Importance of Being Idle existe’, é impossível ignorar o tamanho do barulho.

Ouça aqui 


Por Márcio Viana

UM AUTOMÁTICO MAIS ANALÓGICO

Engraçado e inevitável comentar que fui procurar alguma resenha antiga sobre Automatic for The People, disco do R.E.M. que completa 32 anos este mês, e o primeiro texto que encontrei foi um da Pitchfork (sempre ela) em que o autor gasta um parágrafo inteiro falando sobre a calvície de Michael Stipe.

Bom, o disco é bem mais do que um cantor calvo cantando sobre as agruras do mundo cercado por belas melodias. Automatic for The People avança uma casa após o sucesso estrondoso de Out of Time, mas é um pouco mais melancólico. Não há uma Shiny Happy People pra dar conta de disfarçar a tristeza de uma Everybody Hurts.

Em contrapartida, dá pra se emocionar não só com essa, mas com a beleza de Nightswimming ou de Sweetness Follows, e dá pra se admirar com a letra de Drive, cheia de bons conselhos aos jovens, num discurso que a seu modo até antecipa aquela máxima do Oasis sobre não colocar sua vida nas mãos de uma banda de rock and roll. Aqui, o R.E.M. cita até Rock Around the Clock pra mostrar que ninguém te indica caminhos, nem te orienta sobre o que fazer.

E ainda há Man on the Moon, ironia que prenuncia a proliferação de teorias da conspiração, além da canção mais próxima do que a banda já vinha fazendo havia alguns anos, Sidewinder Sleeps Tonight.

Automatic for the People veio consolidar a grandeza do R.E.M., e para muitos é o grande clássico da banda. Eu concordo.

Ouça Automatic for the People aqui 


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana

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