Newsletter Vol. 267

A newsletter desta semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!


IT’S A CLASSIC

Por Vinícius Cabral

A GENIALIDADE DA IDIOTICE

Esse texto se inicia praticamente como um retweet (ou re-blue – como chamaremos isso agora?!) do belo texto de Davi Caro para o portal Scream&Yellque você pode ler aqui. Na verdade eu acho esse disco tão absurdo que não poderia me furtar de dar meus 20 centavos.

Começo de onde Davi termina. Ele diz: “…se ‘Chocolate And Cheese’, seja em sua versão original ou expandida, é prova de algo, é de que rir de si mesmo pode ser uma virtude boa; mas uma virtude ótima é saber como, e a hora certa, de falar sério”.

Eu diria mais. Rir de si mesmo, ou o famoso “não se levar à sério”, é bem mais do que a mera performance de um personagem que faz piada de si (o que chamamos hoje de “virar meme”). Não se levar a sério implica um enorme comprometimento e a coragem de dar a cara publicamente a tapa. Dialeticamente, a ação de não se levar a sério inclui em si mesma a necessidade de se levar a sério. Há uma diferença, portanto, entre se fazer de idiota para virar piada, e ser contraditório, sarcástico e, no fundo, se martelar por isso (virando piada meio que involuntariamente). O caso do Ween é, certamente, o segundo.

Trata-se de uma banda que sempre foi encarada como uma união de idiotas. Nada mais equivocado. Claro que as letras perturbadoras, as sátiras descaradas terríveis e o clima “foda-se” que cercava a banda iria justificar o rótulo. O pessoal da Pitchfork, ao comentar a atual edição remasterizada, lembra do clipe de Push Th’ Little Daisies (clássico da banda de seu álbum anterior, Pure Guava) passando em Beavis and Butthead, para o desespero dos dois personagens (realmente) idiotas.

Acontece que, por trás da aparente idiotia, havia em Freeman e Melchiondo um profundo e genuíno mal estar. Em uma das músicas mais controversas deste Chocolate and Cheese, Spinal Meningitis (Got me Down), uma voz infantil implora para não receber a injeção, temendo pela sua vida. Parece apelativo e exploratório, até que começamos a sentir um medo genuíno crescer em nossos sentidos, a partir do arranjo lacônico e imersivo. Melodia e música formam um conjunto aterrorizante.

É neste equilíbrio entre o superficialmente condenável e sentimento genuíno que Ween nos entrega seu melhor álbum. Pérolas acabadíssimas (distantes demais, até, de pastiches) como Freedom of ‘76 (um aceno à Prince?), Baby Bitch (Eliott Smith, antes de Eliott Smith?) e a instrumental A Tear for Eddie parecem anular o efeito cômico que inevitavelmente sempre será associado ao Ween.

O álbum forma um conjunto eclético absolutamente enérgico, carismático e irresistível. Vai do Blues ao Soul, atravessando todas as sonoridades que foram absorvidas pelo Rock Alternativo à altura (em uma síntese que depois seria levada à frente por artistas como Beck, por exemplo).

Ween fez muito com muito pouco, e é injusto que sejam colocados em uma “caixinha” rígida. Este lançamento do Deluxe remasterizado é uma grande oportunidade para mergulharmos a fundo na obra do polêmico (e talentosíssimo) grupo – uma das minhas grandes referências do alternativo dos 90s.

Ouça Chocolate and Cheese aqui 


Por Bruno Leo Ribeiro

MAIS QUENTE QUE O INFERNO

Hotter Than Hell

Nesta quarta-feira (11 de setembro), mais um episódio de Cronologia da Música vai pro ar. Eu e o nosso querido Márcio Viana falamos sobre os contextos musicais de 1974. Já fizemos episódios sobre 1971 (episódio #157) e 1973 (episódio #193). Agora, falando sobre 1974, vários clássicos ficaram esquecidos no meio dos anos 70. Se existe uma comparação entre 71, 73 e 74, eu particularmente acho que 74 acaba sendo um pouco ofuscado.

Um desses clássicos que acabam ficando ofuscados, não só pelos anos 70, mas também pela própria carreira da banda, é Hotter Than Hell, do Kiss. O segundo disco da banda (também o segundo lançado em 1974) mostra que a estreia da banda não foi apenas um golpe de sorte.

Muitas vezes, o primeiro disco de uma banda é o que tem o material mais bem cuidado, porque a banda vem fazendo aquelas músicas há vários anos, gravando demos e divulgando para todo mundo. Quando vem o segundo disco, a banda precisa começar do zero e, geralmente, sem muito tempo para criar, por pressão da gravadora.

Mas o sophomore do Kiss conseguiu manter o nível da banda, criando uma base mais forte para o que viria a ser o disco que catapultaria a banda para o estrelato alguns anos depois: o Kiss Alive.

A primeira parte do disco é primorosa, com “Got to Choose”, “Parasite”, “Goin’ Blind”, “Hotter Than Hell” e “Let Me Go, Rock and Roll” (uma prévia de Rock and Roll All Nite). Na segunda parte do disco, ele me perde um pouquinho, mas “Comin’ Home” e “Watchin’ You” são clássicos absolutos da banda.

Depois que gravamos o episódio de 1974 no domingo (mais conhecido como ontem), esse foi o primeiro disco de 1974 que deu vontade de ouvir. Agora é sua vez de ouvir como aquecimento para o episódio e depois anotar as dicas de mais de 150 discos que citamos por lá.

Bom aquecimento. O Hotter Than Hell vai ajudar nisso aí. 🙂

Ouça aqui 


Por Brunno Lopez

MENTIRAS, POLÊMICAS, ARMAS E ROSAS


O segundo disco da perigosa banda de Los Angeles até pede paciência, mas se engendra por caminhos conflitantes em algumas de suas oito faixas.
Após um debute memorável, o Guns n’ Roses encarava o desafio do segundo álbum e, artisticamente falando, se saiu muito bem, ficando na segunda posição das paradas e ainda levou o Grammy como melhor performance de Hard Rock.

É um clássico tanto positivamente quanto negativamente e é importante colocarmos uma luz sobre esses pontos dúbios.

Do lado bom, temos uma banda que resgata performances ao vivo (só que não eram ao vivo, Steven Adler revela que os efeitos foram colocados em estúdio) e oferece canções acústicas que mostram suas origens de blues e até um pouco de country. Funciona como um bom interlúdio para os épicos Use Your Ilusions que viriam a seguir.

Do lado ruim, as temáticas completamente contestáveis que são abordadas em ‘Use To Love Her’ e principalmente em ‘One in a Million’.

Axl Rose nunca foi um grande exemplo de sabedoria em algumas temáticas e sua própria vida cobrou o preço. Dificilmente ele e a banda iriam para esse lado se Lies fosse lançado em 2024.

Com ‘Patience’ se tornando a balada mais tocada em qualquer roda de amigos ou pizzarias entre um Djavan e um Zé Ramalho, a banda mostrou inteligência na compilação dos materiais que já tinha para se manter em evidência nos anos 90 que se aproximavam.

Ouça aqui 


Por Márcio Viana

TELL ME ALL YOUR THOUGHTS ON GOD

Quando a labareda do grunge já assentou como fumaça e o establishment começou a escolha de bandas com potencial de figurar num cenário pop pós-grunge, o Dishwalla apareceu como alternativa a ser colocada na caixinha “vocal com características parecidas com as do Eddie Vedder e do Chris Cornell”. Some-se a isso a proficiência dos músicos envolvidos e boas sacadas de songwriting, especialmente nos hits Counting Blue Cars e Charlie Brown’s Parents, e temos um produto.

Mas é injusto com a banda, e o destino também não ajudou muito, já que a banda não alcançou tanto sucesso no álbum de estreia, Pet Your Friends, apesar do bom desempenho individual das canções.

O grande lance aqui são os vocais versáteis de J.R. Richards, que oferece muito mais do que – à primeira vista – imitação. É muito notável a incorporação de elementos de fora do rock na interpretação do cantor, e isso faz toda a diferença, junto com riffs espertíssimos ao longo de todo o álbum, já desde a abertura, com Pretty Babies, calma nos versos, enérgica no refrão.

A banda continuou lançando discos e excursionando até 2005, quando se separou, para retornar três anos depois, com uma nova formação, sem Richards, e segue até hoje na ativa desta forma.

No meio da fumaça dos grupos buscando um lugar no Olimpo do rock noventista, talvez seja difícil ver este álbum como um clássico, mas vale dar uma chance.

Ouça Pet Your Friends aqui 


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana

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