Na newsletter desta semana nosso time destaca lançamentos que têm feito suas cabeças. A coluna também permanecerá em aberto para que nossos colaboradores possam trazer pautas livres, caso o ritmo de lançamentos não seja satisfatório.
LANÇAMENTOS/PAUTA LIVRE
Por Vinícius Cabral
ÀS VEZES SE PERDE ALGUMAS COISAS
Eu tenho falado desde 2021 que Spirit Of The Beehive é uma das bandas gringas mais criativas em atividade. Depois do magnífico ENTERTAINMENT/DEATH lançado aquele ano, acho que vários fãs de “música esquisita” como eu ficaram ansiosos pela sequência. Demorou, mas chegou. E não decepciona.
Na verdade este álbum novo da banda, chamado YOU’LL HAVE TO LOOSE SOMETHING, tem tido uma recepção meio ambígua. Superficialmente, por “culpa” do próprio álbum. Enquanto a banda não abre mão de camadas de noise e demais abstrações que, por vezes, “rasgam” as canções com interlúdios malucos, parece haver aqui uma preocupação realmente maior com melodia e estrutura.
Não que isso seja pop, vejam bem. Há alguns reviews dizendo que este álbum apresenta uma conformação mais pop para o grupo. Eu não sei se quem anda escrevendo isso já ouviu música pop, ou se já ouviu Spirit Of The Beehive. Trata-se de uma banda que, mesmo em seu disco com as melodias mais cantaroláveis até hoje (isso eu tenho que admitir), não consegue nos apresentar uma música inteira baseada em repetição – estrofe/refrão, estrofe/refrão, por exemplo.
A ambiguidade de YOU’LL HAVE TO LOOSE SOMETHING reside exatamente nisso; o disco apresenta o conjunto de canções mais cativantes da banda, ao mesmo tempo em que busca as “interferências” estranhas o tempo todo. Fica uma impressão de que não foram “nem lá, nem cá”. Mas, quando nos aprofundamos nas audições, é possível dizer que isso não prejudica o disco, propriamente. Depois de uma primeira metade que parece patinar um pouco, o grupo consegue, afinal, mesclar experimentação e melodia em doses certas a partir da maravilhosa sequência: SOMETHING ENDING, I’VE BEEN EVIL, 1/500 (essa realmente mais “fechadinha”) e DUPLICATE SPOTTED.
Quando se ouve o álbum na ansiedade pela perfeita LET THE VIRGIN DRIVE, 1º single – chegamos a uma das melhores canções do ano, e que “segura” perfeitamente a 1ª metade do álbum, aparentemente pior. Lá pela terceira audição, eu já estava convencido de que o disco não soa propriamente irregular por uma dificuldade de se assumir como pop ou experimental, mas sim porque ele apenas parece irregular em um primeiro contato (na realidade não o é).
Talvez alguns ouvintes, como eu, esperassem por mais loucuras delirantes como I Suck The Devil’s Cock, do álbum anterior. A banda realmente opta por uma conformação mais clara, com menos junções abruptas e canções descaradamente difíceis. Mas isso; 1. não torna o disco pop e, 2. não torna o disco menor. Às vezes, quando se aposta em um caminho, é necessário deixar algumas coisas de lado. E o título do álbum já nos anuncia que toda escolha é, também, uma renúncia: você vai ter que perder algo, porque não se pode ter tudo.
Mas o que se perde neste disco novo da banda americana não é nada que vá tirar o trabalho da lista dos álbuns mais criativos, ousados e divertidos do ano.
Ouça YOU’LL HAVE TO LOOSE SOMETHING aqui
Por Márcio Viana
TRANSFORMANDO CANÇÕES EM OURO
Originalmente um projeto solo de Jacob Slater, ex-Dead Pretties, o Wunderhorse chega ao segundo disco como banda, e entrega Midas como um álbum muito bem executado e deixando claro um trabalho coletivo.
É indie em sua essência, mas tem um potencial imenso para o er… “sucesso”, se é que isso importa.
Andei lendo algumas resenhas sobre o disco, até porque não conhecia o trabalho, e todas acabam por fazer o comparativo entre o primeiro disco, Cub, em que a individualidade é mais evidente, e este, ressaltando o clima de banda. Tem uma energia caótica que soa grunge em alguns momentos, pós-punk em outros, e tem até alguma suavidade, como na balada folk Aeroplane, que encerra o álbum.
O disco foi gravado ao vivo no Pachyderm Studio em Minnesota, mesmo local onde nasceu In Utero do Nirvana. E isso explica muita coisa.
Por Brunno Lopez
PASSARINHA
O voo de hoje vem de Goiânia, com um timbre poderoso e suave ao mesmo tempo, transformando poesias em canções em pleno 2024.
E além do título que nos sugere asas, a cantora Melina traz também outras seis canções em seu primeiro EP, o Meu Lar, mostrando que a MPB dos nossos dias pode ser tão encantadora quanto os clássicos da cena.
Na faixa inicial, ela conta com a participação de ninguém menos que Milton Guedes, figura marcante em trabalhos com artistas como Lulu Santos e Roberto Carlos. Mas independente dessa parceria, a goiana tem luz própria e transita com graciosidade nas temáticas de leveza que o álbum oferece.
São mais de 20 anos dentro da música, com singles autorais independentes que pavimentaram o caminho até esse trabalho.
Eu desafio alguém não abrir um sorriso ao ouvir ‘Esquece’, um groove contagiante que traz Melina ao lado de Hugo Vitti, num dueto adorável e instrumentalização primorosa.
Quem estiver na capital de Goiás no próximo dia 18 de setembro, considere ir ao Teatro SESC Centro e acompanhar o lançamento oficial do EP. Afinal, o mundo precisa de novas percepções, novos ares, novos artistas que tenham autonomia e longevidade pra oferecerem seus próprios clássicos.
Que o Meu Lar seja o de vocês também.
Ouça aqui
Por Bruno Leo Ribeiro
ROMANCE
Conheci realmente o Fontaines D.C. com o lançamento do Skinty Fia de 2022. Foi um dos discos de que mais gostei naquele ano. Foi um álbum que me conquistou pela molecagem e pela expansão musical. Pareceu-me mais uma dessas bandas geracionais que entram na lista das que estão moldando uma nova geração e que serão referenciadas em alguns anos, junto com, por exemplo, Black Midi, IDLES e Turnstile.
O disco recém-lançado, chamado Romance (saiu no dia 23 de agosto), não me pegou muito. Apesar de ter algumas ótimas músicas, senti que a molecagem deu lugar a algo mais etéreo e mais “Arctic Monkeys” do disco The Car.
E tá tudo bem. Nem todos os discos das bandas que eu gosto me agradam, e isso é completamente normal. É um disco que, racionalmente, eu daria uma nota 7,5 ou até 8, mas, pessoalmente, fico com uma nota 6,5. Porém, notas são apenas opiniões de uma pessoa e um recorte de um momento.
Talvez em outro contexto, se eu fosse fã de bandas como Arctic Monkeys (ok, vocês descobriram que eu não sou fã deles), eu gostaria mais deste disco. Mas posso destacar as músicas “Sundowner”, “Here’s the Thing”, “Desire” e “Favourite”. Essas quatro eu realmente gostei, mas o resto do disco me passou batido. Nada realmente me pegou. Senti falta de uma melodia mais inspiradora, algo que me despertasse mais emoção.
Não estou aqui fazendo uma crítica para ninguém ouvir o disco. Tenho certeza de que várias pessoas vão adorar. Muitos sites deram 10 de 10 e toda a repercussão do disco está sendo positiva, mas acho importante trazer um outro ponto de vista puramente emocional sobre um disco que provavelmente não escutarei em 10 anos, embora a banda, com certeza, eu ainda escute daqui a 10 anos.
Algumas experimentações são interessantes. Na música “Starbuster”, parece um loop com um flow quase de rap que lembra Beastie Boys. As camadas são interessantes, mas achei meio repetitivo. Em “In the Modern World” há algo meio PJ Harvey do Rid of Me, mas a decisão de produção com muito reverb me incomodou.
Mas não vou ficar aqui justificando música por música o motivo de não ter gostado de tudo. É melhor você dar play e provar que estou errado. No fundo eu sei que estou errado, mas nesse momento, talvez que não tenha entendido este disco.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana