Newsletter Vol. 260

Na newsletter desta semana nosso time fuça seus apps de streaming e suas discotecas (físicas) especiais para revelar o que anda nos plays recentes, embalando seus dias. São dicas especialíssimas que revelam os gostos pessoais do grupo e reforçam toda a diversidade apresentada semanalmente em nosso podcast.  


RECENT PLAYS

Por Bruno Leo Ribeiro

DISCO DE LUTO. DISCO DE CURA

Bruce Springsteen – 'Letter To You' review: past and present entwined

O pior do luto é que, em um minuto, estamos aqui e, no outro, não mais. Foi assim que começou minha semana passada. Minha gata Amora partiu. Foram 7 anos em que tive o privilégio de conviver com ela. Ela foi parte da família e nunca será esquecida. Foi muito amada. Partiu para descansar sabendo que estávamos ali. Nunca desistimos dela.

Fiquei uns bons 5 dias sem conseguir ouvir música. Nada parecia ter muito propósito. A gente fica meio que dormente. E é assim com qualquer perda. O luto é um sentimento difícil de entender. Pouco se fala sobre ele. Ninguém sabe realmente o que dizer. Algumas pessoas conseguem.

Em 2020, em plena pandemia, o Bruce Springsteen lançou o disco definitivo de pandemia para mim. Muitos falam em “folklore” da Taylor Swift, mas para mim foi “Letter To You”. Foi, sem dúvida, o disco que mais ouvi enquanto o mundo estava virado de cabeça para baixo.

O primeiro disco junto com a E Street Band desde 2014 é um disco de luto. É um disco de cura. Bruce fala sobre o sentimento de perda como poucas pessoas conseguem.

A primeira banda do Bruce Springsteen, quando ele ainda nem podia dirigir, se chamava The Castiles. Foram ótimos anos com essa banda. Em 2019, George Theiss, companheiro de Bruce nessa primeira banda, acabou falecendo, e Bruce se viu como o último integrante vivo que restou da banda. Com esse sentimento, ele resolveu falar sobre esse luto e fez esse disco perfeito.

Assim como meu texto, o disco começa com a frase “um minuto você está aqui, no outro minuto você se foi”. E é assim que o disco segue, com ótimas músicas, até chegar em “Last Man Standing”, que conta justamente sobre ser o último remanescente dos The Castiles.

A caneta de Bruce Springsteen sempre foi o seu forte. Ele vai lá no sentimento puro e joga na sua cara a verdade. É um ótimo terapeuta.

O disco segue até fechar com “I’ll See You in My Dreams”, que foi a música que ouvi esta semana e talvez tenha começado meu processo de cura. Tem duas frases que ele fala na letra que me pegaram demais: “We’ll meet and live and laugh again” (Vamos nos encontrar e rir de novo) e “For death is not the end. And I’ll see you in my dreams” (Pois a morte não é o fim. Eu vou ver você nos meus sonhos).

São coisas assim que precisamos ouvir para seguir em frente. Obrigado, Amora. Um dia a gente dorme juntinhos de novo. Enquanto isso, eu vou sonhando com você.

Ouça aqui o Letter To You


Por Vinícius Cabral

INCURSÕES ARGENTINAS

Tirando o combate ao anarcocapitalismo, à normalização da venda de órgãos (e bebês) para complementar a renda, ao racismo e à inflação de três dígitos (dentre otras cositas), a Argentina segue nos dando um banho. Culturalmente falando. Por culturalmente precisamos incluir, por óbvio, o futebol. Como o PVC falou muito bem ao final da Copa América (nesta live), a “virada de chave” dos hermanos em relação ao futebol certamente se deu quando começaram a privilegiar uma cultura de futebol. Pois, “no fim da linha”, diz o jornalista, “cultura dá até dinheiro”. Sim.

Os argentinos nunca abandonaram sua cultura em relação ao rock e ao underground. Isso se ressalta sobremaneira nas últimas décadas. Enquanto o mundo ocidental passa por uma carência profunda de ideias nestes nichos, os artistas argentinos apostam em suas tradições cancioneiras e produzem obras muito particulares, ano após ano. Sempre na metade de todo ano, aliás, o portal Indie Hoy destaca os melhores do ano até então. Geralmente nos trazem uma lista de 25, mas esse ano não conseguiram, e nos entregaram os 40 melhores discos argentinos de 2024 até aqui.

Ouvi uns tantos, e fiquei bastante impressionado com o recorte. Há realmente um volume de coisas muito acima da média saindo. Novos artistas (com umas sonoridades bem malucas, como Six Sex e AugusFortnite2008 y Stiffy), artistas consagrados se reinventando, rock, hip hop, pop (muito particular). Há, enfim, de tudo um pouco na lista. De tudo que ouvi, trago inicialmente um recorte, claro, das minhas preferências pessoais.

107 Faunos – Vandalismo Comparado

107 Faunos é uma das veteranas do indie moderno no país, e pioneira do selo Laptra, ao lado dos já famosos Él Mató A Un Policía Motorizado. Aliás, é incrível que os 107 Faunos não tenham surfado mais no hype da Él Mató, porque eles sim são o “real deal” do indie argentino. E mostram isso neste disco curto, mas matador, de 8 faixas e apenas 19 minutos de pura emoção. Eles alternam entre sonoridades meio Flaming Lips/Mercury Rev e loucuras mais tipicamente argentinas, como na maravilhosa Café (com participação do guitarrista da Él Mató, Niño Elefante). Um dos melhores álbuns indie/lofi que iremos ouvir em 2024.

Isla Mujeres – Barato Ideal

A banda de La Plata nos traz outro álbum curtinho (de apenas 19 minutos) mas com cara de clássico instantâneo. O impacto começa com a capa e se estende às canções. Admito que quase larguei a audição nos primeiros 30 segundos de Sed Peligrosa, que entra com um baixo sintetizado puramente recortado dos anos 80. Mas a música toma vergonha na cara e se segue naquela cruza entre Pixies e Spinetta que sempre esperamos do indie argentino. É precisamente isso que as mujeres nos entregam em canções poderosas como Pagando de Más, Disimular e Mala Influencia. Um pequeno clássico instantâneo. Absurdo.

Juan Lopez – Culiado

Há uma tendência no pop argentino hoje responsável por uma sonoridade bem particular e moderna – um lugar comum entre Frank Ocean, Homeshake, Tyler, The Creator e King Krule. Juan Lopez é um dos artistas que melhor representa essa tendência. Talvez melhor do que qualquer outra banda/artista argentino hoje. O rapaz deixa isso bem claro em canções cativantes como SHAKE IT e CIANURO, enquanto revela também um lado mais intimista e confessional em canções como COMO UNA RULETA (essa bastante devedora dos experimentos meio indie/soul confessionais do cânone Frank Ocean). Juan faz o que ele mesmo chama de indie urbano- boa definição, que eu não acharia ruim se colasse. Vale ficar de olho, porque talento o rapaz tem pra dar e emprestar. Empresta pra uma turma aqui no Brasil, Juan?

Fico por aqui com esse pequeno giro de alguns dos destaques argentinos de 2024 até agora. Há muito mais por se desvendar!


Por Márcio Viana

ATENÇÃO PARA O REFRÃO, UAU!

Ynys é um quinteto galês capitaneado por Dylan Hughes, ex-Race Horses and Radio Luxembourg. Entre as características marcantes do grupo, a principal certamente é a capacidade de criar melodias grudentas, seja no idioma local ou em inglês.

Prova disso é o single Shindig, com seu ganchudo e contagiante refrão que pergunta “have i ever told you this before?” e te leva a cantarolar isso por dias inteiros.

O som é um powerpop que por vezes traz ecos de conterrâneos como Badfinger e Super Furry Animals, mas também traz muitos elementos do pop dos anos 80, e não seria estranho encontrá-los em sets e playlists ao lado de artistas daquela década. Pode-se encontrar aqui e ali também referências como Big Star ou Burt Bacharach.

Dosbarth Nos, o título do álbum, significa Alma Noturna, e talvez a síntese do disco seja aquela tira (apócrifa ou não) de Charlie Brown colocando um disco na vitrola e dizendo a uma coleguinha “eu amo lindas melodias me contando coisas terríveis”.

Ouça no Bandcamp:

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Ou aqui


Por Brunno Lopez

DOPAMINA (COM DUAS MINAS)

A Charlotte Wessels já sabia como transformar sua voz em recompensas artísticas quando estava no Delain. Timbre único dentro de uma cena feminina bastante disputada e, frequentemente, até muito parecida.

O que já era um hormônio claro de felicidade se fortifica com Simone Simons, nesse duo que desafia os padrões do estilo e ousa trazer o frescor da modernidade sob madeixas rosas.

‘Dopamine’ oferece exatamente o que sua definição lexical significa: um sentimento de prazer irresistível e motivação para colocar o dedo na cara da segunda-feira – e girar.

Ouça aqui


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana

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