Newsletter Vol. 243

A newsletter desta semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!


IT’S A CLASSIC

Por Vinícius Cabral

O GRITO DE JAMES

James Blake mudou pelo menos duas vezes a história da música moderna (e tem tudo para mudar uma terceira). A primeira vez foi com este clássico absurdo de 2011, o disco de estreia homônimo que virou o mundo de cabeça pra baixo. James inaugurou neste disco uma avenida de sintetizadores e vocoders encapsulados em estruturas musicais não usuais (quase experimentais em diversos momentos), criando uma marca que seria sistematicamente copiada posteriormente.

O que nos leva à segunda vez (em que Blake mudou a história da música moderna); como produtor e compositor, ajudou a construir obras de gigantes do pop em processo de “experimentação” (apropriação, pura e simples?), de Beyoncé à Rosalía. Aqui, pensem Pray You Catch Me, que abre Lemonade, de Beyoncé. A música é inteira James Blake, que assina a produção do álbum e deixa vestígios de sua identidade por toda a obra. Outro trabalho que Blake batiza genialmente é o amado Blonde, de Frank Ocean. Suas teclas inconfundíveis espalham-se por canções antológicas do disco, como Solo.

Mais de uma década depois de sua estreia e já consagradíssimo, James Blake hoje se dá ao trabalho de criticar o modelo nefasto dos streamings, e agir em torno de alternativas. Daí o artista poderia ajudar a mudar a cena musical novamente. Ele já criou um perfil, em parceria com uma plataforma chamada Vault, que funciona em modelo de assinatura. De todas as possibilidades atualmente sendo especuladas para substituir o esquema de pirâmide dos streamings, o modelo de assinaturas parece ser realmente o vencedor. Mas isso é algo que ainda temos que observar com atenção (qualquer coisa a gente vai falando).

Quanto à sua obra prima de 2011, há pouco a dizer que ainda não tenha sido explorado por aí. Minha maior contribuição pode ser lembrar o quanto essas músicas são estranhas, principalmente em suas performances ao vivo, onde apenas synth, bateria e uma SP-404 fazem o trabalho – como nesta apresentação espetacular de 2011. Outra recomendação importante, principalmente para quem já conhece o trabalho, é que corram para a versão deluxe presente nos principais streamings. Nela há um segundo disco, que é basicamente o EP anterior de Blake, com direito até a um cover de Joni Mitchell (A Case Of You).

James Blake (2011) é um clássico muito recente. Mas já pode ser considerado um clássico. Um dos principais álbuns da década passada, que muita gente subestimou, inclusive eu mesmo (infelizmente).

Ouça James Blake aqui 


Por Bruno Leo Ribeiro

DORMINDO COM FANTASMAS

Amazon.com: Sleeping With Ghosts: CDs & Vinyl

No dia 24 de março, mais conhecido como ontem, o Sleeping With Ghosts do Placebo completou 21 aninhos e mereceu um textinho meu aqui na nossa Newsletter.

Esse clássico absoluto, apresenta várias músicas com base no tema dos relacionamentos. Relacionamentos que terminam mal, como na música “The Bitter End”, minha favorita da banda. Lutas de poder em relacionamentos como em “Special Needs” ou a ideia de que algumas pessoas são destinados a serem almas gêmeas eternas como na música Sleeping With Ghosts.

Brian Molko, vocalista e guitarrista da banda disse à revista Kerrang! na época: “Estou olhando para trás para o que aconteceu na minha última década emocional, tentando entender isso. Tentando exorcizar os fantasmas e demônios de relacionamentos passados. É o velho clichê de ser terapêutico, mas funciona para mim dessa forma.”. E funciona pra gente também, Brian. Pode ter certeza.

Quando uma música ou um disco tem verdades, mesmo que seja auto-biográficas, passam uma verdade que alguma daquelas coisas vai nos conectar. É o famoso, “Essa música é minha!”. Nessa época, que parece outra vida, essas músicas se conectaram comigo e não tenho como não me emocionar com esse disco.

O disco é cheio de referências. O Brian Molko é fã declarado do Sonic Youth e faz referência às letras do álbum Sister de 1987 na música “Plasticine”. Na letra ele diz, “A beleza reside dentro dos olhos de outro sonho jovem” e e uma referência direta do trecho “A beleza reside nos olhos do sonho de outro” de “Beauty Lies in the Eye” do Sonic Youth.

Além de Pristine, o disco ainda tem o outro clássico máximo chamado “This Picture”, que foi inspirada num relacionamento sadomasoquista onde o James Dean (sim, o famoso ator) tinha fetiche particular onde gostava de ter cigarros apagados em seu peito. Na letra, a expressão “garota cinzeiro” é usada para se referir a uma mulher que usa seu parceiro como um “cinzeiro emocional”; “queimaduras de cigarro no meu peito”, e por aí vai. Musicão!

O Placebo tem um som muito peculiar. É uma mistura de rock alternativo, post-punk, glam rock e até metal. É Bowie com The Clash, Sonic Youth e Smashing Pumpkins com pitadas de metal em alguns momentos. Eu adoro.

Taque play nessa lenda.

Ouça aqui


Por Márcio Viana

SUBO NOS TELHADOS DO MUNDO

O segundo disco do cantor e compositor Guilherme Lamounier (1950-2018), autointitulado, lançado em 1973, é considerado uma obra-prima da psicodelia brasileira, e isso não é nem de longe um exagero. A começar pela capa, que traz uma caricatura do cantor em um fundo rosa e imagens lisérgicas, numa pintura de Adelson do Prado.

Some-se a isso a presença do saudoso guitar-hero Lanny Gordin, entre outros bambas, como Wagner Tiso e Oberdan Magalhães, e temos realmente um clássico do gênero.

Talvez mais conhecido por produções mais pop, como Enrosca, que virou sucesso com Fábio Jr (e posteriormente Sandy e Júnior), aqui o artista entrega letras bem mais profundas, como Os Telhados do Mundo e Será que eu pus um grilo na sua cabeça?. Em Liberdade, Lamounier manda uma letra em inglês que não faria feio em qualquer álbum de rock psicodélico britânico ou estadunidense da época, especialmente pelo belo riff.

Por razões não muito explicáveis, o cantor permaneceu no ostracismo após seu terceiro disco, lançando apenas um compacto em 1982, sem muito destaque.

Lamounier faleceu em 07 de agosto de 2018, aos 67 anos, devido a uma pneumonia.

O selo português Mad About Records relançou o disco em 2021, mas as cópias físicas já estão esgotadas.

Ouça no Bandcamp:

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Ou:

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Por Brunno Lopez

SELVAGEM ERA O INDIE DE 2013…


…ao menos no título de uma canção, digamos assim.
A verdade é que o Royal Teeth mostrou que tinha uma bagagem de respeito para impressionar o mundo para além do hit ‘Wild’. Claro, o fato da música estar na trilha sonora do FIFA 13 tornou-a muito poderosa, porém, quando os ouvidos curiosos iam até Glow, é bem provável que sorrisos abrissem imediatamente.

Era a voz de Louisiana fazendo o indie pop ganhar cores vibrantes que atraiu a todos. Além de fãs, foram marcas, comerciais, eventos, American Idol’s da vida e todo daquele pacote que as bandas em seu debute em estúdio sonham.

Teve até a típica saída de integrantes logo após a estreia, como foi o caso do tecladista Andrew Poe e o guitarrista Steve Billeaud. O cenário do sucesso sempre faz suas vítimas precoces e isso mostra que o material realmente tinha tanta força que nem todos os músicos conseguiram suportar.

Por mais que o grupo tenha se desfeito cinco anos mais tarde, Glow é um daqueles álbums que justificam a existência deles para o planeta.

Ouça aqui 


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana

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