Newsletter Vol. 221

A newsletter desta semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!


IT’S A CLASSIC

Por Vinícius Cabral

DIAGRAMAS NOVENTISTAS

É preciso começar esse texto com duas constatações. A primeira é que a instituição “banda de irmãs” é fértil e surpreendente. A segunda é que o ano de 1991 não cansa de trazer revelações. Vão passar 50 anos e seguiremos descobrindo e redescobrindo álbuns deste que, pelo visto, é um dos melhores anos da história da música.

Comecei a olhar com atenção para Throwing Muses depois de nossa imersão em The Breeders, que conta com Tanya Donelly em sua primeira formação. Raíssa me perguntou se Throwing Muses, a 1ª banda de Donelly era boa, no que respondi, lacônico: “É. Mas pop demais para o meu gosto”. Voltei com atenção à banda e me arrependi amargamente do veredito apressado. Alguns álbuns mais recentes da banda (pós-1992, depois da saída Donelly) são realmente indie pop demais para o meu gosto, assim como também o é a banda seguinte de Donelly, a Belly. Mas os primeiros discos da Throwing Muses trazem surpresas incríveis, e não podem sequer ser acusados de “pop demais”. Seu EP homônimo de 1986, por exemplo, primeiro trabalho lançado pela banda, chega a ter acentos experimentais.

O problema de Throwing Muses, assim como o de muitas outras bandas dos anos 1990, é a dificuldade que temos para acessar sua imensa discografia. A banda teve diversas fases e formações, e ainda está em atividade. Mas é sua formação original, liderada pelas meias-irmãs Tanya Donelly e Kristin Hersh, que chama mais atenção. É desta fase o espetacular The Real Ramona, que serve como uma espécie de cartão de visitas da banda para quem quiser se aventurar.

O álbum começa com Counting Backwards, hit indie que já entrega as cartas: os vocais das irmãs harmonizando (em conjunto com a guitarra-base de Donelly e a solo de Hersh), uma cozinha ainda carregada de reverbs e climas oitentistas, mas com um clima mais arrojado, que carrega o espírito de 1991. O disco tem canções ambiciosas que acentuam um clima mais espacial e experimental, como Red Shoes e Hook in Her Head, mas guarda a maior pancada para o final. A nona faixa, o single Not to Soon, é uma das melhores canções do indie noventista. Com apenas 3 acordes e uma variação de estrofe-ponte-refrão em cima da base repetida, a música explode nossas cabeças quando Donelly resolve, no refrão, duplicar com sua própria voz o lick de guitarra tocado por Hersh. O resultado é tão charmoso e irresistível que não dá pra parar de ouvir a música. De preferência, acompanhada por seu simples e eficiente videoclipe.

A canção rouba um pouco a cena do disco todo, e mostra que Tanya Donelly tinha uma enorme urgência criativa, talvez ofuscada por Hersh, que assina aqui a maior parte das composições. Em The Breeders, Donelly também atua como coadjuvante, o que explica totalmente o porquê dela ter abandonado a Throwing Muses e montado uma banda específica pra desovar suas composições (a já citada Belly). Sei que essas conexões confundem um pouco nossas cabeças, mas em uma pesquisa sobre a Throwing Muses acabei descobrindo um diagrama (estilo “mapa de metrô”) feito por um maluco mais maluco do que eu, até.

O mapa evidencia relações de diversas bandas dos 1990, de Pixies a L7, passando por Slint e The Amps. Essa é, afinal, outra marca importante desta década: as bandas se reorganizavam e trocavam constantemente de integrantes. Uma mesma musicista poderia, como neste caso, passar por três projetos diferentes no breve intervalo de dois, três anos. Segue o guia para quem quiser se afundar nesta semiose. Eu ainda vou ficar um tempinho orbitando entre The Breeders e Throwing Muses (ou ainda, sobre a Tanya Donelly, minha “Muse” favorita).

Ouça The Real Ramona aqui 


Por Bruno Leo Ribeiro

SONHO DE CRIANÇA

Max & Iggor Cavalera: Morbid Devastation | House of Blues

Descobri a existência do Sepultura com o vinil que meu irmão mais velho tinha do Bestial Devastation. Um lado era com músicas do Sepultura e o outro lado era com o Overdose também de BH.

Eu era fascinado na capa. Mas o som era meio cru demais e não curtia muito não. Mas a banda foi lançando os discos seguintes e meu amor pela banda só aumentou. Veio o Morbid Visions e ali já dava pra sacar os motivos do Sepultura ser diferente das outras bandas de Death/Thrash Metal.

Os irmãos Cavalera acabaram lançando agora em 2023 o Cavalera’s Version desses dois discos e claro que iria rolar uma tour e eles iriam passar aqui por San Francisco na Califórnia. Provavelmente o meu ingresso foi o ingresso 0001. Comprei assim que saiu e fiquei esperando desde fevereiro o show de ontem. E fui lá reviver minhas memórias de criança/adolescente.

Que eu amo o Max e o Iggor, não é nenhum segredo. Pra mim, eles são dois dos maiores brasileiros vivos e eu falei isso pra eles ontem. Mas como assim?

Fui ao show, fiquei bem pertinho do palco e curti demais aquele momento. Ver os irmãos juntos no palco depois que vi o Sepultura na tour do Chaos AD foi sem preço. Depois da saída do Max, vi o Soulfly e o Sepultura inúmeras vezes, mas tava com aquela saudade de ver meus dois ídolos juntos. E ontem chegou meu momento.

As regravações do Morbid Visions e do Bestial Devastation ficaram impecáveis. Até as músicas que eu nem gostava tanto assim ficaram melhores nas novas gravações. E ao vivo foi incrível demais. Depois de tocarem mais de 10 músicas desses dois discos no show, eles terminaram com um super medley com alguns clássicos do auge da banda e pra surpresa de todo mundo no show, o Jello Biafra do Dead Kennedys subiu no palco e eles tocaram Dead Kennedys sem ensaio e ficou ótimo. Foi uma noite mágica, mas claro que ainda poderia melhorar.

Depois de praticamente 35 anos, tive o privilégio de me encontrar com os irmãos. Entrei no ônibus deles e já cheguei falando que era uma honra conhecer dois dos maiores brasileiros vivos. Quando eles viram que eu era brasileiro foi uma farra só. Conversamos, falei da minha vida, agradeci por tudo e tirei uma das fotos mais legais da minha vida. Eles fazendo pose de metaleiro e eu não conseguindo fazer cara de mau por conta da alegria.

Foi uma noite mágica que nunca irei esquecer. Naquele momento, tudo fez sentido. Os posters que colei na parede, os desenhos da logo do Sepultura que desenhei nas carteiras da escola, os discos e cds que comprei. Todo aquele amor foi correspondido. Eles foram maravilhosos comigo. Nunca esquecerei.

Se já amava os irmãos, hoje amo muito mais. Obrigado, Max e Iggor por me receberem no seu cantinho. Nos veremos de novo qualquer dia. Vamo detoná essa porra! <3

Ouça aqui 


Por Márcio Viana

EU SOU DE UMA PORÇÃO QUE NEM PÓ

Krishnanda é um álbum experimental único de Pedro Santos, também conhecido como Pedro Sorongo, músico, percussionista e artista plástico brasileiro.

Gravado em apenas três canais e produzido pelo próprio artista junto com Helcio Milito, Krishnanda impressiona pela qualidade de suas 12 faixas e pela capa, também uma criação sua.

Muitos dos instrumentos de percussão presentes no álbum são criações do próprio Pedro Sorongo, o que traz uma sensação de estarmos presenciando uma obra única. Lançado em 1968 pela CBS, o disco acabou sendo redescoberto no fim da década de 90, com a popularização do mp3, e relançado nos anos 2000 pela Polysom.

As letras de Krishnanda têm um quê de existencialistas e de algum modo indecifráveis, o que não é demérito, claro.

Existe uma nítida influência de discos como Os Afro-Sambas, de Baden Powell, e Coisas, de Moacir Santos na obra de Sorongo, mas ele faz a mistura de um modo personalíssimo e original.

Para conhecer mais sobre o artista, vale uma lida nesta matéria da Revista Trip. Pedro Santos faleceu em 1993, aos 73 anos.

Ouça Krishnanda aqui 


Por Brunno Lopez

O EMO MODERNO COM TEOR VITORIANO NOIR

O universo além de ‘I Write Sins Not Tragedies’ é uma exposição interminável, com obras e obras se alternando para audições emocionadas de fãs clássicos e curiosos quase excêntricos em busca de sonoridades entusiasmadas.

Too Weird To Live, To Rare To Die! é aquele álbum com camadas desafiadoras, estética deslumbrante e melodias dançantes em meio a um mood tão sensual quanto alguma canção do Deftones. Claro, Brandon tem sua própria forma de transformar o casual num dress code refinado sem parecer absurdamente formal. Arte? Arte.

Hits com tanto design que não podem simplesmente mergulhar na programação de rádios desavisadas ou playlists distraídas. Atmosferas que se transformam como o clima em tempos tão pré-apocalípticos como os nossos.

Ouse ir de ‘This is Gospel’ até ‘The End of All Things’ sem segurar na mão de ninguém. E quando passar por ‘Casual Affair’, talvez você queira mais do que a mão ou o braço.

Ouça aqui 


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana

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