Newsletter Vol. 210

Na newsletter desta semana nosso time fuça seus apps de streaming e suas discotecas (físicas) especiais para revelar o que anda nos plays recentes, embalando seus dias. São dicas especialíssimas que revelam os gostos pessoais do grupo e reforçam toda a diversidade apresentada semanalmente em nosso podcast.  


RECENT PLAYS

Por Bruno Leo Ribeiro

COM SPOILER OU SEM?

Cincinnati Set List for Taylor Swift Eras Tour Including Surprise Song  Prediction – Q102 101.9 WKRQ-FM

Essa semana fiz uma pergunta pra minha filha e a resposta dela explodiu a minha cabeça, me fazendo questionar toda a minha experiência com shows e o que ouvir na semana do evento.

Neste sábado, mais conhecido como anteontem, fui com minha filha no show da Taylor Swift no Levi’s Stadium em Santa Clara na Califória. Toda vez que vou em um show, sempre dou uma conferida no Setlist Fm pra ver quais as músicas que a banda ou artista está tocando nos shows. Monto uma playlist e fico ouvindo durante a semana pra já entrar no clima.

Se eu não conheço tão bem algumas músicas, já vou me familiarizando e se conheço, vou curtindo e fico empolgado com o que está por vir.

Até eu perguntar pra minha filha de 8 anos, “Você quer ouvir as músicas que vão tocar no show? Eu fiz uma playlist”.

Aí ela responde rindo, “Papai! Eu quero que tudo seja surpresa!”. 🤯

Comecei a questionar se meu ritual faz sentido. Será que vale ouvir o máximo possível do artista e o que acontecer aconteceu, ou se preciso me preparar já sabendo o que vai rolar?

Não sei se vou mudar o meu ritual, mas com certeza me fez repensar.

E você? É do time que ouve playlist com o setlist ou gosta da surpresa?


Por Vinícius Cabral

ESTRANHAS

Em Stockholm Syndrome, Joanna Sternberg usa uma doce melodia para narrar um relacionamento abusivo. Por trás do nítido contraste, há uma coerência fundamental, e quase infantil. Joanna relata suas dores e experiências de forma extremamente espontânea, com arranjos simples e solitários (geralmente só ao violão, ou só ao piano) acompanhados de uma performance vocal visceral e autêntica.

Há algo muito forte na voz infantil e esganiçada de Sternberg, que nos remete imediatamente à outra Joanna (a Newsom), ou a Daniel Johnston. Mas a jovem artista impõe ao seu lo-fi folk um universo particular com muita maestria. A começar pelas as ilustrações que compõem a capa e os produtos visuais deste belíssimo disco, I’ve Got Me. Joanna é, afinal, também ilustradora, e dispõe em seu website alguns de seus trabalhos nesta área, incluindo um que deixa bem explícita suas filiações estéticas, como podemos ver a seguir.

Uma belíssima (e particular) representação do mestre que parece inspirar Joanna em seu mergulho em um abismo pessoal de inibição, medo, solidão e inadequação. Sentimentos que a artista digere e regurgita em belas canções, como I’ve Got Me, Mountain High e tantas outras, deste álbum inspirador e brutalmente sincero. A artista é nada menos do que sincera em todas as instâncias, inclusive quando se apresenta na bio de seu site, em Comic Sans:

“Eu realmente quero fazer amizade com cada pessoa que eu conhecer, mas eu entendo que isso pode me fazer parecer estranha ou até assustadora para algumas pessoas”.

Por trás do aparente desespero em se conectar, existe uma jovem artista brilhante, e inevitavelmente solitária. Sternberg, que usa o pronome elas/delas para se auto identificar, parece reconhecer que sua solidão exige com que ela seja muitas. Cantora, compositora, multi-instrumentista, ilustradora. Joanna são muitas. E nenhuma, nos círculos sociais que a isolam e rotulam como “estranha”. A nossa sorte é que, em arte, aquilo que é considerado estranho é, via de regra, o mais interessante. Joanna sabe ser estranhas. E sabe nos conectar a elas de uma forma única, com canções particulares e universais. Estranhas e familiares. Antigas e modernas.

Dito tudo isso, não perca I’ve Got Me. Certamente, um dos álbuns do ano.

Ouça I’ve Got Me aqui 


Por Márcio Viana

SUPERPOWER TRIO ELETRÔNICO

Talvez por preguiça de ficar escolhendo nome, o mais novo supergrupo Lol Tolhurst x Budgie x Jacknife Lee se apresenta assim e já mostra seu cartão de visita: formado por Lol Tolhurst, ex-baterista e tecladista do The Cure, Budgie, ex-baterista de Siouxsie and The Banshees e o produtor Jacknife Lee, que já trabalhou com Killers e R.E.M, o trio lançou seu primeiro single, Los Angeles, que também será o nome do álbum a ser lançado em novembro.

Para os vocais e a letra da música, convidaram James Murphy, do LCD Soundsystem, que escreveu sobre como L.A., vista como lugar de sonhos, pode ser também um pesadelo. Tudo isso, como não poderia deixar de ser em uma banda com 2/3 de bateristas em sua formação, com uma forte camada ritmica e eletrônica, onde as batidas se sobressaem às melodias, apesar de haver bastante espaço para sintetizadores e guitarras, a cargo de Jacknife Lee.

Além de Murphy, a lista de convidados para o álbum inclui Bobby Gillespie, do Primal Scream e The Edge, do U2, entre outros. Se o material for parecido com o primeiro single, é promissor.

Ouça Los Angeles aqui 


Por Brunno Lopez

THIN LINE

Se essa canção tivesse aparecido em qualquer momento do ano passado, minha lista de melhores discos de 2022 teria sido brutalmente alterada. Não existe outra reação possível além de um imediato revisionismo musical pessoal, pois o contato com o timbre de Johan Pedersen questiona julgamentos feitos num passado em que Cold Night For Alligators não aparecia em meu radar.

A banda dinamarquesa não se atém a um single ambicioso e impressionante. Junto dele, o álbum The Hindsight Notes se descortina num espetáculo de atos imprevisíveis, fazendo a memória pensar que é uma viagem de volta ao prog metal tradicional. Só que a viagem tem mais escalas além de tempos quebrados e virtuosismo exibicionista. Ao longo de outras quatorze faixas, podemos ouvir de tudo. E gostar de tudo com aquele deslumbre do tipo: ‘o mundo realmente continuou girando igual após esse som surgir’?

Num momento, estamos entretidos em ‘No Connection’, com sua melodia quase pegajosa e, numa transição que sugere performances de alto volume e abuso de notas de uma guitarra, um saxofone surge rindo das expectativas. E faz sentido. Percebe-se que as camadas escolhidas se preenchem numa coesão natural.

Existem tantos pontos altos nesse material que provavelmente os alpinistas do planeta queiram incluir esse disco como um roteiro obrigatório para suas aventuras.

10/10.

Ouça agora. Já. Nesse Momento. 


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana