Na newsletter desta semana nosso time destaca lançamentos que têm feito suas cabeças. A coluna também permanecerá em aberto para que nossos colaboradores possam trazer pautas livres, caso o ritmo de lançamentos não seja satisfatório.
LANÇAMENTOS/PAUTA LIVRE
Por Vinícius Cabral
O ROCK É O NOVO ROCK PT. 1
Em duas partes, eu vou provar que o rock venceu.
Começo com evidências mais básicas. Três lançamentos de bandas muito novas que seguem o processo de renovar a música de guitarras de forma por vezes básica, por vezes inusitada. Tento, nas breves apresentações, defender meu ponto a partir de elementos encontrados nos álbuns.
feeble little horse – Girl With Fish
O disco de estreia da banda estadunidense seria apenas um clássico indie rock de guitarrinhas, não fosse algo muito simples e marcante: os timbres. As guitarras entupidas de fuzz contrastam com os vocais nítidos (às vezes dobrados) da vocalista Lydia Slocum. É o que se ouve logo na abertura, a sensacional Freak. Com outras canções inesquecíveis, como Steamroller e Tin Man, o disco rejeita os clichês do gênero, buscando sempre uma saída criativa nos arranjos e nas composições. Muitas vezes, a banda desafia as métricas e climas “fáceis”, como em Sweet, que chega a conectar a banda de Pittsburgh com outro projeto recente (e bem impressionante): The Spirit of The Beehive. Mais uma bela surpresa de uma nova leva estadunidense.
Water From Your Eyes – Everyone’s Crushed
Ainda na linha de uma nova leva de bandas estadunidenses, mas mudando agora para Nova Iorque, apresento o duo Water From Your Eyes. Seu disco de estreia, Everyone’s Crushed é um deleite. Começa pela pancada de Barley, a canção-chave do disco, embalada pelos versos cacofônicos entoados por Rachel Brown, a vocalista: “1, 2, 3, 4, I…count…mountains“. A música segue em um clima que por vezes lembra Beck, por vezes Cat Power, mas garante uma potência própria no arranjo, onde sintetizadores se misturam com guitarras em jogos de pitch muito malucos. Uma canção maravilhosa e desafiadora. Como é o disco todo, coroado por dois petardos ao final: a maravilhosa 14, uma espécie de mistura entre Mazzy Star e Mercury Rev, e Buy My Product, canção que brinca com um loop de baixo à lá Kim Gordon para criticar a desgraça do capitalismo tardio. Imperdível.
Mandy, Indiana – i’ve seen a way
Mudamos de continente para falar da banda franco-inglesa Mandy, Indiana. Nomeada a partir de Gary, Indiana, cidade-fantasma símbolo da decadência pós-industrial estadunidense, o grupo faz uma música que condiz com a referência de seu nome. É desesperada, cifrada, simples e saturada a um só tempo. Uma espécie de pós-rock-pós-industrial, surpreendente. Em canções como Drag (Crashed) isso tudo se materializa em um beat frenético, quase de house music, com os vocais em francês pontuando a canção de forma meio rítmica. É impressionante como a mixagem do disco sempre “joga” os vocais para algum canto estranho, como se estivéssemos em um galpão metálico reverberando gritos ao longe. E é um pouco isso o que a banda faz também com a guitarra, na impressionante Iron Maiden. Composta por um solo de guitarra em loop, a canção vai deixando o instrumento se tornar profundamente estridente, até se perder no vazio. Um disco desafiador, e novo.
Na segunda parte desta série eu conto como o rock, não apenas na sonoridade, mas em seus símbolos contraculturais, tem sido relevante para o contexto geral da música independente. Por ora, basta apontar que diversas bandas que partem, literalmente, dos elementos do rock, tem conseguido renová-los, a partir de uma liberdade criativa e de experimentação bastante empolgante. Acompanhemos.
Por Márcio Viana
EU PREFIRO NACIONAL E ODEIO AMÉLIE POULAIN
Besouro Mulher é uma banda paulistana formada por Arthur Merlino (baixo), Bento Pestana (guitarra), Sophia Chablau (voz) e Vitor Park (bateria).
Com canções de títulos pitorescos como Carótida, Pão Francês ou Torresmo (esta uma regravação da parceria de Juliana Perdigão e Arnaldo Antunes), o grupo lança seu primeiro álbum, Volto Amanhã, sequência do EP Depois do Carnaval (2019).
Em suas dez canções, Volto Amanhã entrega alguma diversão em letras bem sacadas, como a da já citada Pão Francês, de onde vem o título deste texto, por exemplo.
Embora tenha a mesma cantora, o som da Besouro Mulher parece bem diferente de seu outro trabalho, Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo. Aqui a parada é mais direta, um pouco menos experimental, embora não dê pra dizer que seja mais pop (e afinal – para continuar no nome de uma das bandas – pra que se perde tanto tempo com explanações sobre o que é pop também, não é mesmo?).
Muita coisa deve rolar até o final do ano, mas a princípio tem um lugarzinho na lista de melhores do ano deste que vos escreve. Vamos acompanhar.
Por Bruno Leo Ribeiro
RE-VISÃO MÓRBIDA
Sexta passada saiu o Morbid Visions (Cavalera Brothers’ Version). O segundo registro do Sepultura lançado originalmente em 1986, fez um barulinho na época e foi fundamental pra banda começar a aparecer no meio, fazer shows pelo Brasil e deixar os gringos com o radar ligado. Foi o último disco com o guitarrista Jairo Guedz, antes da entrada do Andreas Kisser.
O disco em si é com um Sepultura mais satânico e mais Death Metal do que o Sepultura que o mundo aprendeu a curtir. Esse disco acaba ficando escondido no meio de tantos outros excelentes e acho que a ideia de regravar o álbum com a qualidade de hoje em dia é super válida.
Sei que tem gente que é contra e tá tudo bem. Meu ponto de vista é que todo artista tem o direito de dar uma atualizada no seu passado. A gente muda, melhora, troca de ideia e refina os gostos. E quando se trata de um disco que fica esquecido no catálogo, não só por ser diferente, mas por ser muito mal gravado e mixado, porquê não?
A versão nova dessa “revisão mórbida”, deu uma vida nova pra esse disco que nunca foi clássico, nunca foi exaltado pelos fãs e nunca teve seu momento. “Era o disco com o primeiro guitarrista”. Talvez essa é a única referência que as pessoas tem. De ouvir por curiosidade pra ver como era. Quem chegou no Arise, Chaos AD ou Roots, nunca apontou o holofote pra esse disco tão ruinzinho.
Mas agora tá bem gravado, mantendo a estética da voz super cheia de reverb e com uma mixagem que dá pra ouvir sem ficar cansado. Eu adorei. Nunca tinha pensado que ia curtir esse disco de verdade pela primeira vez. Nada como 37 anos de experiência pra melhorar o que talvez tava lá, mas ninguém conseguiu ouvir.
E pra fechar… o Max e o Iggor podem fazer o que quiserem com suas músicas que eu vou passar um super pano. 🙂
Por Brunno Lopez
TODOS NÓS VAMOS MORRER (QUEM SABE TER DINHEIRO TAMBÉM)
Spencer Sutherland pode até não trazer liricamente algo absurdamente novo, mas a sociedade costuma receber com um sorriso no rosto toda narrativa de live and let die que aparece de tempos. em tempos. “Chicken Litlle” é, como dizem no anglicismo irreversível dessa geração, sobre isso.
O que sobressai na verdade é a maneira de composição envolvente, com um vocal digno de musicais assistíveis e composição gostosinha, tal qual café na cama com leite em pó de marca dissolvido em leite de caixinha igualmente caro.
Misturado à temática de viver o que se quer independente do julgamento das pessoas, o chantilly saboroso dessa bebida atende pelo nome de Meghan Trainor e, claro, deixa tudo isso ainda mais irresistível.
Se vamos ou não ficar ricos no fim de tudo – ou morrer no caminho – talvez o melhor a se fazer é tentar nos cercar de trilhas sonoras nesse processo. Essa é uma daquelas canções que a gente gosta de ter nos favorites para atravessar essa jornada de sobrevivência e geração de capital.
Ouça aqui
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana