Newsletter Vol. 204

Na newsletter desta semana nosso time destaca lançamentos que têm feito suas cabeças. Neste período, entre dezembro e fevereiro, deixaremos o espaço de lançamentos em aberto para que nossos colaboradores possam trazer pautas livres, caso o ritmo de lançamentos não seja satisfatório. 


LANÇAMENTOS

Por Vinícius Cabral

“ANDAM DIZENDO QUE TUÊ É O DEMÔNIO”

Em 2018 eu achava que vivíamos o pico do pico da onda do trap. Eu não achei que o gênero tinha fôlego, e a real é que, no eixo do ocidente, não tinha mesmo. Desde então não se viu nada propriamente criativo vindo do gênero nos EUA, por exemplo. Estou errado? Provavelmente não. Trata-se de um país arrasado pela miséria e pelo fentanyl.

Aqui embaixo do Equador, porém, o trap vai bem, obrigado. Claro que é onda de jovem crackudo de Tiktok. Claro que todas as músicas são praticamente indistinguíveis umas das outras nas primeiras audições. Claro que as letras geralmente são podres. Claro que … (insira aqui sua irritação particular com o gênero). Apesar disso tudo, na América Latina, especificamente, ainda existe muita força criativa dedicada ao gênero. Na Argentina, artistas como Trueno e NEO misturam trap com elementos elementos regionais. NEO chegou a lançar quase um subgênero (o Neo Pistea), ao cruzar reggaeton, trap, punk e hip hop em uma mistura inspirada (ouça o resultado no single TIKI)

No Brasil a coisa também ainda muito boa. Recentemente me sentei com Clara & seus amigos crackudos e usuários de vape e liberei meu celular, dizendo: “me mostrem aí o trap Brasil hoje!”. Foi aí que descobri alguns novos artistas muito bons, como Yunk Vino, WIU e Kant. Fomos também nos últimos hits de alguns veteranos. Orochi, Sidoka e … Matuê. Para minha surpresa, foi esse quem mais me pegou. Eu ainda sou da turma “antiga”, que viu Raffa Moreira se tornar (e se auto proclamar insistentemente como) o grande pioneiro do trap no Brasil, e comprar suas brigas. Uma das principais delas era com Matuê. Mas o garoto, cearense-californiano, não tinha exatamente falta de talento, como Raffa fazia questão de provocar. Pelo contrário.

É certo que os primeiros singles do “Tuê” chão chatíssimos. Mas em seu primeiro álbum cheio, o Máquina do Tempo, de 2020, o trapper abriu sua caixa de ferramentas. O disco é muito bom, e conta com clássicos instantâneos, como Gorilla Roxo e 777-666 (essa com um beat mais ousado e uma baita letra). É desta última que veio o verso que fica fazendo ping-pong na minha mente de forma ininterrupta: “Mas que se foda, tendo droga e buceta eu só quero viver disso”. Lendário.

Mas não para por aí. Recentemente Matuê lançou um dos singles mais legais de trap do ano, o Conexões de Máfia, com um clipe-super-produção e feat. do americano, consagradíssimo, Rich The Kid. A canção tem um refrão marcante e um universo bem próprio. Parece que Matuê se afasta cada fez mais de sua notáveis influências (a principal, talvez, Lil Uzi Vert, com seu “universo roxo”) e deixa a própria marca no gênero.

O trap vive de forma autônoma e criativa no Brasil e em praticamente toda a América Latina. Como eu sempre digo, “o que era velho no norte, se torna novo no sul”, parafraseando o brilhante Fred 04. Cabeça erguida e 808 alto na caixa! Sempre.

Ouça Conexões de Máfia aqui


Por Márcio Viana

TROVAS EM DÓ

Archy Marshall é um artista com assinatura. À frente do King Krule e cercado de bons músicos, entrega ótimos timbres como embalagens para seus lamentos ante o peso do mundo (peso este que ele já revela, resignado, na abertura, com Flimsier).

As músicas de Space Heavy, quarto disco do King Krule são, em sua maioria, compostas e executadas na tonalidade de dó maior, o que contrapõe esta angústia a uma sensação que soa mais como revolta. Não é um disco triste em sua essência, é um disco rebelde.

Mas não se deixe enganar pelo heavy do título. O álbum tem seus momentos de leveza, em alternância com algum tormento, como no sax meio desesperado (cortesia de lIgnacio Salvadores) de That’s my Life, That’s Yours.

E assim o álbum vai se apresentando, com mais manifestações de inquietação, como na canção de título engraçado Hamburgerphobia, em que Marshall manda a frase “nosso amor é apenas um estado de fuga”, enquanto constrói seu relato de descrença na raça humana.

Ainda há espaço para mais alguma suavidade, com a presença da cantora Raveena em Seagirl.

Se não é exatamente uma obra-prima (até porque pouca coisa tem sido ultimamente), Space Heavy é, pelo menos, bastante agradável aos ouvidos.

Ouça Space Heavy aqui


Por Bruno Leo Ribeiro

“SEIS” VÃO TER QUE CONFERIR

hennemusic: Extreme stream new album Six

O Extreme é uma das minhas bandas do coração. Aquela farofeira funkeada me pega demais. Sou muito admirador da voz do Gary Cherone e principalmente as guitarras, solos e harmonias do Nuno Bettencourt. Minha relação com a banda é muito carinhosa. Fui fascinado com Hole Hearted por meses assim que saiu o segundo disco da banda. Quando saiu o 3 Sides To Every Story, ouvia aquele medley final em loop.

Logo depois a banda não me emocionou mais tanto com o 4º álbum, mas quando a banda voltou de um hiato com o Saudades do Rock, todo aquele sentimento voltou e não foi diferente com o SIX.

Depois de lançarem o primeiro single e o solo do Nuno praticamente derrubar a internet, queria saber o que mais estava por vir. E não me decepcionei (tanto) com o disco. É um disco legal. Honesto. Cheio de riffs e algumas baladas. Nada de diferente do que a banda já fez, mas parece que algumas músicas foram apenas para preencher espaços.

O último terço do disco é bem fraco. Ainda não pegou. Talvez em alguns anos eu me acostume, mas ainda não to afim de insistir. Mas os 2/3 iniciais do disco são maravilhosos. Eu adorei. E foi puro clubismo. E não é pra menos. Vou conseguir ver um show deles em agosto e tenho que estar com as músicas novas decoradas pra curtir aquele show particular que a banda vai fazer pra mim e mais 999 fãs que estarão em San Francisco naquela noite comigo.

Ouça aqui


Por Brunno Lopez

NÃO É NESTON, MAS TEM 1001 MANEIRAS DE OUVIR

Na verdade não tem necessariamente 1001 maneiras de escutar este que é o novo disco do Art Nation, mais uma sensação de hits sueca – até porque não existe este número todo de canções no álbum – porém, há uma faixa com este nome e foi assim que resolvi nomear o título desse texto de lançamentos relevantes.

Inception é o quarto da banda que já construiu uma reputação bastante concreta no universo do AOR. Além de ‘1001’, um distinto hard rock melódico de contágio imediato, o grupo ousou fazer nas outras 10 faixas variações bem interessantes dentro desse cenário, porém, SEM NENHUMA BALADA. Ora, esse tipo de atitude é rara e até contestável para todo e qualquer amante de um metal farofa de respeito. Excluir um sonzinho lento e introspectivo desse gênero é quase como tirar a borda recheada de uma pizza de mais de R$100,00.

Por mais hediondo que pareça, ao ir passeando pelo álbum, a ausência não é notada de forma tão substancial, mostrando que coragem é um atributo muito comum na Suécia.

Assim como a vitamina matinal do cereal capaz de oferecer milhares maneiras de preparo, o vocalista Alexander Strandell liga o liquidificador na máxima velocidade e mistura todos os ingredientes possíveis criando um delicioso disco que dará a energia que você precisa para encarar mais um semana fria de inverno.

(Sim, eu sei que eram 1000 maneiras de se preparar Neston. 1001 eram as utilidades de BOMBRIL. Enfim, ainda que a publicidade brasileira dos anos 90 tenha propositalmente confundido um pouco o objetivo de divulgação deste post, o fato é que o Art Nation tem em mãos um material digno de anúncio em horário nobre)

Ouça aqui


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana