NOTÍCIAS & VARIEDADES
Por Vinícius Cabral
NO AZUL MAIS LINDO, EU VOU MORAR
É a primeira vez que falo publicamente sobre este assunto. A dor máxima que um casal pode viver, me chacoalhou o ano de 2023 (e todas as atividades ao redor dele, afinal). No passado mês de maio de 2023, eu e Bárbara perdemos um filho. Ian Monteiro Cabral tinha 11 semanas quando descobrimos uma condição rara, incompatível com a vida. Uma acrania, que inevitavelmente iria evoluir para anencefalia. Semanas depois, seguindo uma odisséia dolorosa de descobertas, tivemos ainda outro diagnóstico. O de trissomia do cromossomo 18 (conhecida como Síndrome de Edwards). Somaram-se duas condições raras, cujo prognóstico era inevitável: morte uterina, ou parto seguido de morte quase imediata.
Mesmo diante do quadro devastador e inevitável, ainda não podíamos simplesmente ter entrado em um hospital para fazer a interrupção da gravidez de forma segura. O aborto é proibido no Brasil, com três exceções legais que tecnicamente não se enquadravam no nosso caso. E só muito, mas muito tecnicamente. Todos os especialistas sabiam que não haviam chances daquele bebê sobreviver. Ainda assim, interrupção da gravidez propriamente dita, somente com um alvará judicial. E foi o caminho que perseguimos, durante longuíssimos três meses. Estudamos a fundo as condições (virei quase um especialista em embriologia), montamos um argumento e, com o trabalho fundamental do Bruno, meu cunhado e brilhante advogado, entramos com uma liminar judicial.
Foi a primeira vez que precisamos transformar nossa tragédia privada em assunto público. E, por sorte, ou competência na construção do caso, obtivemos a decisão favorável de um juiz em apenas 5 dias. Uma bênção, para quem já tinha sofrido tanto, e em silêncio, com um luto antecipado. Nada poderia nos preparar, porém, para a odisséia do parto. Foram mais de 40 horas de profunda dor, pela necessidade do parto natural. Qualquer intervenção cirúrgica poderia botar o útero da minha amada esposa em risco, e isso era algo que não podíamos deixar acontecer. Entramos em um vórtex de dor, tristeza e alívio. Contrações, dor excruciante, remédios e técnicas medievais de indução do parto. Depois de um caleidoscópio ensandecido de experiências, Ian veio ao mundo, já morto, às 14:51 do dia 26 de maio de 2023.
Não há como descrever direito a história a partir daí. A realidade, crua e desnuda, é insuportável. Ninguém sobreviveria a ela sem produzir signos para transmutar uma tristeza tão profunda e fundamental. Fizemos nossos rituais. Bárbara fez uma cartinha, eu fiz uma música. Fotografamos diversos momentos de forma sensível e abstrata. Em família, choramos muito, e ainda estamos chorando. Nosso bebê, que dolorosamente constatei que já apresentava as minhas feições, precisou ter certidão de óbito registrada, e ser cremado. No dia 7 de junho, busquei suas cinzas na funerária.
Ian Monteiro Cabral. Não conseguiu estar entre nós, mas entrou em nossas vidas para nos transformar. Agora é um anjinho, que embala as canções doídas e potentes que tenho escrito, e que nos guia em direção a outro tipo de humanidade. Uma nova experiência de vida. De lidar com o absurdo da loteria genética e toda a dor que ela nos trouxe, através de poesia, canto e texto. De encarar a escuridão da perda como uma travessia para um lugar de amor incondicional, sendo semeado diariamente pelo casal cada vez mais forte, e sua filha já crescida, cada vez mais linda e independente.
Teria sido impossível sem a música. Além das canções que Ian me trouxe, pesquei uma série de outras canções para construir uma playlist longa para o parto. Foram 8 horas de músicas que permeiam minha história de vida com a Bárbara. No link abaixo, concentrei as mais significativas para apresentar aos queridos amigos e leitores uma narrativa. De amor, dor profunda, e transmutação. A lista começa com o flutuar no espaço, e termina com uma morada celeste. No azul, na lua, no sol. Os elementos mais fundamentais da vida na Terra devem ter carregado Ian para um passeio infinito. E nós, que ficamos para trás, precisamos deixá-lo ir. Deixá-lo se perder na infinitude e desprender da matéria. Tão frágil e perene.
Obrigado a todos pelo carinho de ler este texto até o final.
Ouça a playlist “No azul mais lindo, eu vou morar” aqui
Por Márcio Viana
TESOUROS PARA A JUVENTUDE
Quer ver este humilde pesquisador que vos escreve abrir um sorriso de canto a canto? Mostre a ele uma fonte de pesquisa rica em informações musicais. Principalmente se tiver entrevistas.
Foi por meio de sites como os do Arquivo Nacional, da Biblioteca Nacional ou do Arquivo Público do Estado de São Paulo que eu produzi alguns roteiros de episódios do podcast, principalmente os que continham os arquivos da censura praticada durante o período da ditadura militar. Também tenho de agradecer às almas iluminadas que disponibilizaram online edições da Rolling Stone brasileira que circulou no Brasil como jornal nos anos 70 e também a página que disponibiliza edições da revista Bizz. Concorde-se ou não com a linha editorial, há ali muitas entrevistas e textos importantíssimos.
Tenho agora a grata satisfação de saber que estão publicadas no site da Biblioteca Nacional todas as edições do tablóide O Pasquim, icônica publicação de contracultura e resistência ao regime ditatorial brasileiro. Por esta resistência, passam muitas entrevistas épicas com artistas como Chico Buarque, Caetano Veloso e outros. De cara, destaco aqui uma entrevista com Raul Seixas em início de carreira-solo, que eu já conhecia do livro Raul Seixas por Ele Mesmo, da editora Martin Claret (com direito ao cantor inventando a lorota de que conheceu Paulo Coelho ao presenciarem juntos a aparição de um disco voador), e essa entrevista conjunta de Rita Lee e Tim Maia.
Vale devorar este conteúdo. Só procurar na busca o nome de algum dos seus artistas preferidos e caprichar no sorriso.
Por Bruno Leo Ribeiro
SHOW DEMAIS?
Shows, preços, ingressos, filas, caos, choro, desespero e alegria. Tudo isso acontece quando um artista gigante vai fazer um show, seja no Brasil, seja no exterior. Pra conseguir um par de ingressos pro show da Taylor Swift aqui na Califórnia, tive que fazer um pré-cadastro de fã verificado pra tentar ser sorteado. Se você tivesse comprado algum produto no site oficial da Taylor, você teria mais chance de ser sorteado. Consegui entrar no sorteio e foram 2 horas na fila online pra conseguir comprar apenas o que deu pra comprar.
Amo ir em show, mas tudo tem um limite. Não iria cometer uma loucura ou gastar o que não preciso pra ver um show. Hoje, 1 mês e pouco antes do show aqui no Levi’s Stadium, tem gente vendendo ingresso no mesmo setor que eu consegui por 100 dólares, por 1500 dólares.
Aí eu pergunto. Pra que isso tudo? É o sentimento de dizer que foi? Qual é o limite da loucura de um fã? Eu gosto da Taylor, brinco que sou Swiftie por conta de ser engraçado um cara de 42 anos que cresceu ouvindo Death Metal gostar e ter todos os discos dela aqui em casa. Mas eu quero é me divertir. Ter um tempo maravilhoso com a minha filha de 8 anos no estádio. Cantar aquelas músicas e viver aquele momento.
Mas parece que as coisas perderam a mão. Teve gente falando que quando a Beyoncé for pro Brasil, não será tão caótico quanto a Taylor porque ele é artista de nicho (a gargalhada que eu dei lendo isso). As pessoas vivem nas suas bolhas e não tem ideia do que estão falando.
A verdade é que vejo mais gente reclamando que tá tendo tanto show que tá na hora de parar. Ninguém tem dinheiro pra isso tudo. Ou será que os ingressos estão caros demais? Na verdade, se cobra caro e fica por isso mesmo. As pessoas vão. Se for festival então, nem se fala. O Instagram agradece.
Nessas horas a gente fica com preguiça e com vontade de gostar apenas de artistas menores. Ir em show num clube. Sem estresse de ingressos. Valores melhores e shows que você consegue ir perto sem ter que pagar mil reais a mais no pacote “VIP”, que apenas te coloca na frente da fila pra entrar no estádio pra ficar mais perto.
Mas sendo enorme ou sendo pequeno, show é show. A gente faz o que pode pra conseguir ir.
Por Brunno Lopez
DECORAÇÃO DE CORAÇÃO
Olhar o passado é algo doloroso quando ele sequer chegou a ser o seu presente. Ou se foi, foi apenas um pouquinho. Um gostinho bem breve que a vida nos oferece só pra não passarmos vontade. Um ‘na volta a gente compra’ só que não tem volta, nem dinheiro suficiente pra adquirir. É um barato, mas é caro.
É assim que encaro, quase que diariamente, as peças montadas de algo que um dia acreditei que seria a linha vertical da minha existência. A música que faria através dos tambores que começaram numa RMV verde, com ferragens de plástico e se transformaram num Odery off white personalizada de Accident Of Birth.
Os estádios se transformaram em pubs intimistas em que a atenção se divide entre as canções de outras bandas com a busca por entretenimento de oportunidade. Ouvidos e olhos não foram capazes de prestar tanta atenção ao que se movia num palco com luzes insuficientes e sem nenhum retorno bom o bastante.
Ninguém parece saber quando se está pronto para colocar sonhos no trem e se despedir sem poder ir junto, pois não tem espaço, nem passagem, nem lugar. Em algum momento, nos tornamos apenas ajustes dentro de um cotidiano arrastado, com porções menores daquilo que pensávamos ter nascido pra experienciar.
As baquetas deixaram bolhas, partiram-se em covers de bom gosto e, numa noite incomum, até foram parar nas mãos de desconhecidos que dificilmente guardaram como decoração. Hoje estão intactas, sem as lascas de chimbal e crash que já foram Orion e Octagon até se tornarem Sabian e Soultone.
Quisera estar nesse mesmo lugar escrevendo sobre como fui capaz de dar algumas voltas ao mundo atrás de uma DW carregada de Paiste’s por todos os lados. Parece que é sempre tarde demais cada vez mais cedo.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana