Newsletter Vol.200

22 de maio de 2023

22 de maio de 2023

Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time destaca lançamentos que têm feito suas cabeças. Neste período, entre dezembro e fevereiro, deixaremos o espaço de lançamentos em aberto para que nossos colaboradores possam trazer pautas livres, caso o ritmo de lançamentos não seja satisfatório. 


LANÇAMENTOS/PAUTA LIVRE

Por Bruno Leo Ribeiro

FAZENDO AS PAZES

Naquela manhã do dia 18 de maio de 2017, não acreditei na notícia da morte do Chris Cornell. Naquele momento entrei em vários sites diferentes pra ter certeza que a notícia era real. Era muita coisa pra processar. A esperança de ser apenas um boato era grande, mas no fim infelizmente aconteceu.

Chorei, sofri e fiquei com os olhos doendo. Não consegui mais trabalhar. Era uma dor que ainda não tinha sentido por um ídolo. Eu que pensava que a dor da perda do Bowie e do Prince em 2016 já eram enormes, mas nada foi igual. Era o meu maior ídolo da vida.

Quando saiu em 1999, o disco Euphoria Morning, o Chris Cornell me ensinou que a dor do luto não precisa ficar mais fácil. Gastamos energia demais tentando superar e fica cada vez pior. Tem que sofrer mesmo. Sentir aquela dor. Na verdade, aprendi que não tem que tentar fazer ficar mais fácil. A gente simplesmente segue no “vamo que vamo!”.

I only love you when I’m down, but one thing for you to keep in mind, you know. That I’m down all the time.“. O trechinho de When I’m Down diz tudo. Eu só te amo quando estou pra baixo, mas lembre-se que estou pra baixo o tempo todo.

E foi assim. Foram 6 anos na base do “vamo que vamo”. Foram 6 anos sem conseguir ouvir a voz dele. Foram 6 anos desacreditando que ele não estava mais aqui. Mas tudo mudou no mês passado.

Visitei o cemitério Hollywood Forever em Los Angeles. Fui andando bem devagar até o local onde está o Chris Cornell. Tentei adiar ao máximo aquele encontro. Me despedi do Johnny Ramone um pouco antes e sabia que o próximo seria o Chris. Cheguei perto do seu local e era tudo muito bonito. Estava sol, céu limpo e a paisagem muito bem cuidada do cemitério compondo aquela visão. Olhei pra baixo e vi seu nome e minha alma saiu de mim por alguns segundos.

Precisei de uns 15 minutos ali parado. Sem falar nada. Só olhando pra plaquinha com o seu nome e alguns presentes de fãs. Algumas palhetas de guitarra, algumas pedrinhas e moedas e um isqueiro. Fiquei ali pensando. Passei raiva, fiquei triste, ri ao mesmo tempo que chorava, fechei os olhos e recebi abraço dos meus filhos e da esposa. Eles me deixaram ali sozinho. Era o tempo que eu precisava.

Foi como encontrar com um amigo de longa data.

Na minha vida como fã de música, foi o momento mais bonito. Foi o momento mais marcante. Muito mais do que qualquer show, foto ou autógrafo que recebi na vida. Era o momento meu e dele. Mas que no fim das contas era sobre mim. Eu precisava dessa despedida. 

Saí de lá mais leve. Praticamente me perdoando e aceitando que aquela dor nunca vai ficar mais fácil, mas senti que na energia daquele momento o Chris falou pra mim, “segue firme e obrigado por vir aqui me ver”. Foi assim que consegui fazer as pazes com a dor. Aceitá-la e deixá-la ali comigo pra sempre.

Agora posso dar play e ouvir a sua voz, que sempre será imortal nos meus ouvidos e no meu coração.

Obrigado, Chris Cornell.


Por Vinícius Cabral

É ISSO AÍ GALERA DO REGGAE

Já que podemos fazer “pauta livre” e já adiantei uma série de lançamentos que têm feito minha cabeça ultimamente, vou aproveitar esse espaço para desenvolver um tema que anda chamando minha atenção a algum tempo. 

Nos longínquos idos de 2014, um meme tomou a internet. Tratava-se de um cara muito engraçado, de cabelo de cuia, atendendo pelo nome de Cleiton Rasta. O rapaz introduzia a canção Cabeça de Gelo e fazia umas intervenções (verdadeiros adlibs) hilárias em cima. “Chama! Chama! Chama!”, “Debochar legal!”, “Olha a pedra!”, “Vai debochando”, “Machuuuuca Regueiro!”, etc, etc. O “clipe” foi derrubado pelo YouTube na época por supostos “atos ilícitos”, mas voltou a aparecer em 2015. E temos; até hoje, o lendário Cleiton Rasta – Cabeça de gelo [480p] no ar para melhorar nossos humores quando precisarmos. “É isso aí galera do reggae. Edvaldo pede Cleiton Rasta. Fazendo a flesta pra galera. Gravando nosso primeiro DVD!”

Acontece que o meme, que eu achei que tinha ficado para a posteridade, seguiu vivo. Na pandemia, Cleiton Rasta começou a viralizar e a fazer lives, sempre com os adlibs marcando seus playbacks. Isso evoluiu para turnês presenciais, que o rapaz segue fazendo. Passou recentemente por BH, e foi aí que eu percebi o fenômeno que se tornou Cleiton Rasta e seu “remix” de Cabeça de Gelo. Pois é. Ao contrário do que o cartaz que ilustra este texto indica, a canção original, Cabeça de Gelo, não é de Cleiton, mas de um compositor de reggae veterano do Ceará, chamado Shalon Israel. O autor original da pérola só lançou a música, com seu nome na autoria e na interpretação, em 2020, talvez motivado pelo impacto renovado do meme. Cleiton, por sua vez, sequer fez propriamente um remix da canção no meme. Fez menos do que isso: deu playback em uma versão acelerada da canção, adicionando ao vivo seus adlibs hilários. Nos memes, às vezes menos é mais. 

As conexões continuam. Este ano o trapper brasileiro Wiu fez uma interpolação da canção, transformando a Cabeça de Gelo em Coração de Gelo, um ragga-trap bem interessante. Wiu inclusive destaca o autor da canção original em uma entrevista, dizendo que Shalon é um baita compositor, e relativamente reconhecido em sua terra. Precisou um cantor moderno popular abrir o bico para que a gente conseguisse hoje provar que Cabeça de Gelo é uma baita canção, e não só um meme. Cleiton Rasta também parece ser uma figura mais complexa do que o meme, mas não cabe nesse texto mais uma reflexão existencial. O que vale dizer agora é que: “esse bicho tá desconsiderando o nêgóo”

Se divirtam. 


Por Márcio Viana

O BLUR NO ESPELHO

Achei engraçado o modo como o Guardian descreveu o novo single do Blur, The Narcissist, que precede o novo álbum do grupo, The Ballad of Darren, a ser lançado em julho. Segundo o tablóide, a faixa é menos discreta do que os singles que a banda lançou em 2012, antes de The Magic Whip, álbum de 2015, e se você fosse forçado sob a mira de uma arma a compará-lo com um single do Blur dos anos 90, provavelmente escolheria Coffee and TV.

Confesso que sou sugestionável e passei a perceber essa semelhança após ouvir (várias vezes) o single. Para além disso, a gente tem aqui um Blur no papel de contador de histórias, no caso uma história que talvez se misture com a própria história da banda e funcione como uma auto-análise em forma de canção.

Sobre o vindouro álbum, a banda lançou um teaser no YouTube para anunciar sua vinda.

The Narcissist, o single, traz uma canção bem assobiável e cantarolável. É um mérito.

Ouça The Narcissist aqui


Por Brunno Lopez

O TERCEIRO ATO DO BLUES TROPICAL 

É outono no Brasil mas o coração está quente com os singles lançados pelo mineiro do blues mais impressionante do país. O volume 3 do Tropical Blues, de Wilson Sideral, realiza um encontro de rara harmonia entre Milton Nascimento e Garry Moore, na icônica canção “Encontros e Despedidas”, com o guitarrista brasileiro encaixando o solo de “Still Got The Blues” na estrutura da música original. 

É absurdamente lindo. O feeling cadenciado do estilo norte-americano em fusão com a poesia brasileira convida os ouvidos a uma experiência surreal.

As notícias do mundo de lá certamente são as melhores pois são contadas na voz do Sideral.

Ouça aqui


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana