Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time homenageia a Rita Lee. Ponto.
ESPECIAL RITA LEE
Por Vinícius Cabral
RITA LEE
Só três sílabas. Um dos nomes que mais ouvi na vida.
“Rita Lee lançou disco novo”. “Rita Lee vai tocar no canecão”.Rita Lee lançou um clipe com dois homens se beijando”. “Rita Lee agora está no twitter!”. “Rita Lee xingou policiais e foi presa”. “Putz, a Rita Lee tá no hospital”.
“Rita Lee foi passear”
Porra, Rita Lee! Não tinha como você ficar aqui para sempre? Rita Lee, a mulher, não podia nos deixar sozinhos aqui. A mortalidade é absurda. Eu não estou, de nenhuma maneira, pronto para viver em um mundo que não tem mais Rita Lee.
Mas é isso que dá ser humano, né? Uma hora o corpo vai. Rita Lee certamente só nos deixou em corpo. Segue sendo a artista que marcou pelo menos três gerações de mulheres com sua coragem e talento. E que marcou pelo menos três gerações de homens que tiveram que engoli-la. Porque Rita Lee não nasceu pra ser chaveirinho de macho em banda nenhuma. Rita Lee era todas as bandas. Mesmo os fãs da “fase progressiva” d’Os Mutantes admitem que a banda perdeu a alma com a saída (necessária) de Rita Lee. Arnaldo perdeu sua musa idealizada. Rita Lee era grande demais para ser apenas isso.
Mas é isso que dá ser humano, né? Rita Lee foi humana pra caralho. Foi violentada, mas nunca se calou. Foi rejeitada, e seguiu em frente. Fracassou, mas dobrou a aposta. Quando se estagnou, soube mudar. Soube ser tudo ao mesmo tempo: rockstar, popstar, figura pública, mãe, avó, conselheira, drogada, sóbria, sábia, bruxona, esposa, amante. Corpo fechado, peito aberto. Talento puro, ingênuo. Mas também refinado e clássico.
Rita Lee é grande demais para este texto. É grande demais para qualquer texto. É tão grande, que não cabe na minha cabeça que já dividimos o plano terrestre com ela.
Quem disser que a história do rock brasileiro passa pela Rita Lee está errado. A história do rock brasileiro não passa pela Rita Lee. Ela é a Rita Lee.
Rita Lee. Rita Lee. Rita Lee. Rita Lee. Rita Lee.
“Rita Lee foi passear”
Porra, Rita Lee! Por que foi passear longe de nós?
Por Márcio Viana
RITA LIVRE
Aprendi com Rita Lee que a gente é livre. Não essa liberdade forjada que alguns tresloucados andam propagando como aceitável. Pelo contrário. A Rita sempre exerceu a liberdade, e até por isso tentaram privá-la dela algumas vezes. Gente da mesma estirpe desses que tomam a palavra com um sentido todo seu e sem sentido algum.
Mas enfim, Rita foi livre desde que foi “convidada” a deixar os Mutantes e se tornou maior do que a banda. Formou As Cilibrinas do Éden com outra gigante, Lucinha Turnbull, formou o Tutti Frutti só com gente fera, a começar por Luiz Sérgio Carlini, passando por Lee Marcucci e Franklin Paolillo e tantos outros, incluindo o parceiro de música e vida, Roberto de Carvalho, discreto e passional o bastante para ser dupla e coadjuvante ao mesmo tempo.
Aprendi com Rita também que tem vezes em que o recado deve ser passado na primeira frase da canção. Um belo dia resolvi mudar. Daí pra frente é tudo a história que justifica o porquê de querer mudar. Aprendi que não tem problema algum fazer versão em português de Beatles ou Ramones, que fazer trocadilhos do tipo TVLeezão ou Lita Ree é legal, e que é possível escolher com quem e como falar. Dar entrevista por e-mail, por exemplo, porque chega uma hora em que deve ser um saco ouvir as mesmas perguntas, e por texto dá pra evitar qualquer distorção.
E nessas de dizer que não era de fazer backup (num tweet divertido), um dia descobri algo em comum com ela: numa entrevista, Rita se queixou de já ter feito músicas maravilhosas enquanto sonhava, e não tinha um botão de salvar na mente para não perder aquelas ideias. Sofro muito com isso. E foi numa dessas que aprendi que depois da estrada começa uma grande avenida.
Talvez seja errado dizer que Rita Lee nunca fez concessões, mas a verdade é que ela só fez as concessões que quis fazer.
O fato é que eu aprendi com Rita Lee muita coisa sobre a vida, dentro e fora das canções, e isso sempre vai estar comigo. Vá em paz, Lovely Rita. Love Lee Rita.
Por Brunno Lopez
R I T A
A primeira vez que entrei num estúdio de gravação em toda a minha vida foi pra tocar 6 músicas. Entre faixas nacionais e internacionais, estava aquela que, por sua letra, também seria uma associação futura ao que viria ser minha profissão: Jardins da Babilônia.
Eu não sabia perfeitamente quem era Rita Lee, mas sabia que quem fosse capaz de escrever ‘pegar fogo nunca foi atração de circo’ não poderia ser alguém ordinário.
Naquele momento, especificamente naquela canção, nascia a conexão baqueta/caneta que me acompanhou por muito mais tempo do que eu poderia imaginar.
A gente percebe que um artista é grande quando, mesmo que não seja seu favorito da vida, te inspira no momento que te define. É a faísca inspiracional da qual não se pode defender, só vem e joga no peito as inquietações que se precisa lidar pra transformar talento em expressão.
E Rita não é exatamente isso? O talento com cara, coração e uma assustadora liberdade?Talvez os anseios mais complexos de se juntar num lugar só. E lá estava ela, juntando tudo.
O palhaço continua rindo, o povo continua chorando mas hoje, o show parou. E apesar dos pesares do mundo, hoje, não vamos segurar essa barra.
Só Rita podia.
Por Bruno Leo Ribeiro
EU VI
Um belo domingo de 2001 resolvi prestigiar um show da Rita Lee. Naquele ano, sempre no gramadão da esplanada dos ministérios em Brasília, acontecia um show de graça. Vi Lulu Santos, Marisa Monte e muitos outros. Só faltava você, Rita. E teve.
Esse particularmente viveu sempre na minha memória. Toda vez que me deparei com a imagem ou música da Rita Lee, seja na TV, rádio, vinil, revista ou internet, me lembro desse show. “Eu vi a Rita ao vivo!”. Sempre com esse pensamento orgulhoso de ter praticamente feito uma das coisas que todo mundo diz que o ser humano precisa fazer. Escrever um livro, plantar uma árvore, ter um filho e ver um show da Rita Lee. Com certeza com essas 4 coisas dá pra se sentir bem mais completo.
A vida ficou bem mais chata sem a Rita. Seu deboche, humor, genialidade e carisma eram únicos. Ela está entre os cânones da música no contexto da minha vida. Rita, Bowie, Prince… todos muito versáteis e muito geniais.
Um belo dia ela resolveu mudar e fazer tudo que queria fazer. Principalmente nos emocionar.
Obrigado, por ter existido.
Vinicius Cabral, Brunno Lopez, Márcio Viana e Bruno Leo Ribeiro,