Newsletter Silêncio no Estúdio Vol. 195

17 de abril de 2023

17 de abril de 2023

Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time destaca lançamentos que têm feito suas cabeças. Neste período, entre dezembro e abril, deixaremos o espaço de lançamentos em aberto para que nossos colaboradores possam trazer pautas livres, caso o ritmo de lançamentos não seja satisfatório. 


LANÇAMENTOS/PAUTA LIVRE

Por Bruno Leo Ribeiro

AS VÁRIAS ESTAÇÕES

O Metallica é igual a Pizza. Mesmo as ruins são boas. É com esse sentimento que fiquei ao ouvir algumas vezes o novo disco da banda, o 72 Seasons.

Algumas coisas ficaram claras. O James Hetfield focou em falar sobre um assunto. Estar vulnerável. Acho isso importante. Ele é um dos caras mais ouvidos do mundo e quando ele fala sobre saúde mental, recuperação de um vício e vulnerabilidade é gigantesco.

Claro que no Metal temos as bandas que falam sobre nada relevante, mas isso tem mudado. Aquecimento global, sustentabilidade, saúde mental e outros assuntos importantes estão substituindo as batalhas de unicórnios voadores nas florestas que ficam na montanha mágica do Rei imortal.

Ainda bem.

Outra coisa que ficou clara nesse disco é que a banda virou auto referente, mas quem é que precisa do Metallica em pleno 2023 fazendo beat eletrônico. Esse bonde já passou. Agora é hora de se inspirar nos seus discos antigos e criar uma coisa nova. Algumas músicas são rápidas, outras mais progressivas e outras mais arrastadas. Um pouco de tudo que o Metallica já fez. Nada de novo e está tudo bem.

Outro ponto, que mais me incomodou no disco, é o Kirk Hammet que está fazendo Quiet Quitting. Essa moda da Gen Z de fazer apenas o mínimo pra manter o emprego, contaminou nosso mestre do Wah-Wah, que não sabe fazer nada que não seja usando esse efeito. Uma coisa que poderia ser mais contida, fica cada vez mais evidente. Acho que o Kirk quer que o Wah-Wah mude seu nome para Efeito Kirk(™). Talvez seja isso e estamos entendendo tudo errado.

O que o Metallica fez na época do Load, nunca mais vai acontecer. Agora temos alguns temperos de coisas mais modernas nas suas músicas. Acho que o único jeito da banda realmente inovar e chocar todo mundo seria se todas as músicas fossem no mesmo campo criativo da faixa que fecha o disco, a excelente-melhor-música-do-disco, “Inamorata”.

Se for pra escolher apenas uma música pra ouvir nesse disco, dê play nela. Mas vale a pena demais começar na faixa “72 Seasons” e curtir a jornada até chegar lá. 

Confesso que não sabia que precisava de um disco novo do Metallica esse ano, mas me surpreendi. Dei play com preguiça e terminei querendo ir em um show da banda! Ser fã da maior banda de Heavy Metal da história é fácil demais. É como comer pizza no café da manhã. Não tem como dar errado.

Ouça aqui o “72 Seasons


Por Vinícius Cabral

A GUEERSH E A ESSÊNCIA DO INDEPENDENTE

gueersh é uma banda corajosa. Os conheci ano passado na Casa Matriz aqui em BH, em um show despretensioso do projeto Esconderij0, do Wagner Almeida. A banda fluminense antecipou a apresentação de Fábio de Carvalho com a Aldan, e entregou absolutamente tudo. Para um público ridiculamente pequeno, o quinteto do rio tocou por uns 50 minutos músicas longuíssimas, cheias de climas, viradas e melodias muito lindas, espaçadas por arroubos instrumentais inspirados. Antes do show eu tinha ouvido o único lançamento da banda nos streamings, o EP Fogo Amigo, e fiquei esperando algo completamente diferente. A banda se apresentou de outra forma ao vivo, com canções mais robustas e criativas. 

A dissonância entre o EP (bem legal, mas não tão inspirado) e o show me chamou atenção. Pensei: “essa turma tem carta na manga e vem pedrada por aí”. Em parte eu estava certo. Esse Tempo Elástico, o primeiro LP, é realmente mais maduro e coeso do que o primeiro lançamento da banda. Em parte eu estava errado. A banda ainda tem muito mais para oferecer do que conseguiram captar em ambos os lançamentos, apesar deste disco cheio ser interessantíssimo, em diversas camadas. O que diferencia realmente a gueersh, como passei a acompanhar depois do show pelo instagram, é a energia ao vivo. Tanto é que o pessoal saiu, de mala e cuia, em uma turnê pela américa latina. Estão neste momento no sul do país, rumando à Argentina e Uruguai, em uma Parati velha. Fizeram uma modesta vaquinha e estão encarando a estrada, provavelmente trocando tatuagens por hospedagem e vendendo merch para encher o tanque do carro. Parece história de road movie musical. Absolutamente admirável. 

A história é tão incrível, e o quinteto é tão sensacional ao vivo, que dei o play em seu disco com um sorriso no rosto. Não me decepcionei, e as ressalvas servem até como um elogio – só as fiz porque sei que a banda ainda pode muito mais do que o que se ouve em Tempo Elástico. O disco resume um pouco o espírito do grupo, alternando canções mais curtas e indie pop (como A Curtinha e Céu Rosa) com viagens enormes, cheias de etapas e com nítidas referências à cânones como Stereolab e Television (como na fantástica Luz Guia, centerpiece do disco). Certamente a experiência das turnês independentes irá amadurecer o processo composicional do grupo, de quem espero só grandes coisas a partir de agora. A banda de Campos (RJ) está só em seu pontapé inicial, e já desponta como uma daquelas raridades dignas de nota. Em uma era de streamings e caça enlouquecida por likes e plays, essa turma chutou o balde e está encarando o mundo real. Não é nisso, afinal, que o independente deve se basear?

Ouça Tempo Elástico aqui


Por Márcio Viana

VIDAS QUE SEGUEM

Esta semana, o Portugal.The Man lançou o terceiro single de seu vindouro álbum Chris Black Changed My Life que será lançado em 23 de junho. Champ, a faixa, é uma releitura da canção Dying to Live, clássico de 1971 de Edgar Winter, com participação do próprio e do grupo With War, com uma sonoridade repleta de improvisos, naquele clima de jam session.

Em janeiro deste ano, a banda já havia lançado o single Dummy, que a banda oficialmente anunciou como “uma ode ao The Cure” como pista para a sonoridade.

Ainda sobre Champ, a faixa traz Edgar Winter solando livre com seu saxofone ao final, depois de várias mudanças de ritmo e clima durante a música.

Winter, vale lembrar, lançou no ano passado o álbum Brother Johnny, em homenagem a seu irmão e parceiro, o guitarrista Johnny Winter, falecido em 2014. 

Chris Black Changed My Life, por sua vez, é uma homenagem da banda ao diretor e produtor Chris Black, membro honorário do grupo, falecido em 2019.

Ouça Champ aqui


Por Brunno Lopez

AULA DE COMPOSIÇÃO

Floor Elisabeth Maria Jansen provavelmente lançou o álbum mais belo de 2023. Por enquanto, ainda não posso afirmar 100% pois ainda não escutei as 10 faixas (farei isso assim que terminar de escrever este post). Porém, o que posso realmente afirmar com veemência é o absurdo da canção “Daydream”.

Além da interpretação apaixonante e da voz inebriante dessa holandesa que brinca de ser talentosa, preciso destacar a maneira brilhante que a artista encontrou para guiar as transições desta música. A composição consegue transcender a sequência simples dos acordes, trazendo um refrão além do próprio refrão, dando um abraço gigantesco em quem está ouvindo. É impossível não abrir um sorriso quando se escuta “Wake me!”.

Paragon já está automaticamente na lista de melhores desse ano e não é nem um pouco exagerado que Daydream esteja nos singles mais tocados, juntamente com “Somewhere Better”, do Ad Infinitum.

Ouça aqui


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana