Newsletter Silêncio no Estúdio Vol. 193

3 de abril de 2023

3 de abril de 2023

Bom dia, boa tarde boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time fuça seus apps de streaming e suas discotecas (físicas) especiais para revelar o que anda nos plays recentes, embalando seus dias. São dicas especialíssimas que revelam os gostos pessoais do grupo e reforçam toda a diversidade apresentada semanalmente em nosso podcast.  


RECENT PLAYS


Por Bruno Leo Ribeiro

A CURA PARA TUDO

Nada melhor que ter aquele disco que é do coração. Tenho muitos, mas um me pega de um jeito diferente. Diferente por não acreditar que não seja um disco extremamente aclamado. O conceito de subestimado pode ser pessoal, mas com todas as referências e coisas que são lançadas no Brasil, me parece um pecado capital não ter um documentário especial de 10 episódios sobre o disco Toda Cura para Todo Mal do Pato Fu.

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Lembro bem quando esse disco saiu. Eu estava em um loop ouvindo o MTV Ao vivo da banda quase toda semana. A expectativa era grande. Todos aqueles hits no ao vivo estavam muito bem memorizados. Cada detalhe, virada de bateria e até o momento dos gritos da plateia.

Quando o Toda Cura Para Todo Mal veio, ele foi uma cura. Lembro bem que ele saiu logo depois do meu aniversário, em maio daquele ano. Ouvi sem parar. Meu emprego na época estava legal, mas a vida em geral estava estranha. Me sentia sozinho. Ouvir “Agridoce” (uma das melhores canções da história do Rock Nacional na minha humilde opinião) abriu meu coração. Me permitiu ver o mundo de um jeito diferente, sem esperar muita coisa dos outros. E foi em outubro daquele mesmo ano que minha vida mudou. Reencontrei uma ex-namorada num ônibus. Rolou um “oi, sumida”, seguido de flashback e o resto é história. Estamos juntos até hoje. 18 anos depois.

Esse disco me leva para esse lugar de cura. Não à toa pelo título do disco. Me abriu os olhos para uma banda tão incrível. Com tantas nuances. Tantas influências. Tá tudo ali. Mutantes, Super Furry Animals, Pizzicato Five e Odair José. Uma mistura de R.E.M com Clube da Esquina. Pato Fu é demais.

Parando pra pensar, talvez seja a minha banda brasileira favorita. Não sou super fã de conhecer todas as músicas e querer fazer uma tattoo, mas as músicas que escolho ouvir, são as que me emocionam de uma maneira diferente.

“Anormal”, “Sorte e Azar”, “Simplicidade”, “No Aeroporto”, “Tudo” e a ótima “!”, todas me emocionam de alguma maneira diferente e me levam pra um lugar muito bonito. Quando faço minhas próprias músicas eu penso, “o que será que o Pato Fu faria nessa parte?”. É muita nuance, muita leveza, muita simplicidade e muita experimentação. É um amálgama de sons e cores. Com letras do cotidiano, divertidas, com piadas e deboche. Tudo que apenas uma banda brasileira seria capaz de fazer. Uma pena ele ser tão subestimado. Acho que mais pessoas precisam ouvir e terem a cura pros seus próprios contextos. O melhor disco desse ano pra você, pode continuar sendo um disco de 2005.    

Ouça aqui essa obra de arte do Pato Fu


Por Vinícius Cabral

SOBRE MENTES E PONTES

Tenho pensado muito na vida. No que determina seu início, e seu final. Não há muitas respostas. A filosofia e a neurociência podem espernear o quanto for. Não se define, facilmente, o que é a vida, ainda que existam muitas hipóteses a respeito da consciência.

Para meu autor de estudo, o Charles Peirce, a consciência é uma espécie de mente expandida, em um continuum com outras mentes e coisas, conectadas em um processo de formação de sentidos a partir de signos. A neurociência já consegue comprovar a existência física deste continuum. O cérebro é um campo eletromagnético formado por bilhões de neurônios que se conectam a partir dos impulsos energéticos. Se houvesse como plugar nossas cabeças a um sensor, neste momento, seria possível observar como que, mesmo antes de sabermos conscientemente que vamos pegar uma xícara e tomar um gole de café, nosso cérebro já sabe da ação, e já emite os sinais necessários para isto. 

De forma infinitesimal, e ainda muito misteriosa, estamos conectados por meio destes campos energéticos. É possível que nossas predições, sensações e pensamentos sejam compartilhados, de alguma maneira, antes mesmo da elaboração de respostas conscientes, na formação de brainets que são, a grosso modo, redes neurais que conectam seres em torno de determinadas abstrações – é este o fenômeno que explica, por exemplo, adesão coletiva a uma catarse futebolística, ou a conceitos como pátria, crenças religiosas, entre outras. Por isso tudo, não basta dizer que a vida é um conjunto de atividades motoras autônomas de uma medula neural. Ela é, antes, uma cocriação. Uma força de produção de sentidos e pensamentos compartilháveis. Muito mais pensar, do que meramente pulsar

Mas esta é só uma pobre leitura cientificista de um processo muito maior do que a própria ciência. Que é possível, hoje, comprovar quase tudo aquilo que um dia foi apenas imaginado a respeito de nossas mentes e de nossa existência, ninguém duvida. Mas ainda há perguntas em aberto. E muitas. 

É aí que entra a poesia. 

Pela força da poesia, ou pela força de nossos continuums, me sinto hoje altamente conectado a uma canção gravada a 22 anos atrás. Seus versos expõem o desejo central de muitos de nós hoje: largar tudo, ser contraprodutivo … Chutar o balde para deixar os discos, os livros, os amigos e o vento da estrada baterem em nossa cara. Em conexão com outros momentos, outras mentes e outras pontes, parece que essa canção sempre existiu. Sempre trazendo ternura a momentos onde apenas o desespero parecia caber. 

A ponte

Faz uma semana e meia

Que a estrada abriu

A ponte feita às pressas

E a janela canta

O carro sujo

Esperto concerto

O rádio a roda e o vento

Faz uma

Semana e meia que

Marcamos compromisso

Faço qualquer coisa

Dó pra ver de novo

Teu tom de pele o rosto liso

A brincadeira e os discos

Faz um tempo que eu já penso

Mesmo em me mudar

Largar o meu trabalho

Ser contraprodutiva

Pra ver televisão

Pra ler um livro

Dormir demais

Rever amigos

Faz um frio a noite

Lá na estrada aberta

À frente as férias auto impostas

Automóvel vento

Faz tempo

A quanto tempo 

Ouça A Ponte aqui 


Por Márcio Viana

O SOM DOS NINGUÉNS

Scott McCaughey foi, por um longo tempo, músico de apoio do R.E.M., além de ter diversos projetos paralelos, como o Minus 5. 

Agora, à frente do The No Ones, McCaughey se junta a Peter Buck, titular do grupo de Athens, além de Frode Strømstad e Arne Kjelsrud Mathisen, e lança o segundo álbum da banda, My Best Evil Friend.

Inevitável que o destaque maior seja para Song for George, justamente para ele, o beatle mais discreto, faixa em que o grupo reverencia seu ídolo reproduzindo também o seu estilo na guitarra e nas vocalizações, mas My Best Evil Friend é bem mais do que isso, e produz um powerpop de responsa, em faixas inspiradas como Band With No Head ou We Are Your Band. Há ainda ecos do próprio R.E.M. (em Phil Ochs is Dead, por exemplo), mas tudo é muito original.

O ano está só começando, mas se a gente pode ir antecipando nossas listas de melhores do ano, esse entra no rascunho inicial. Vejamos o quanto vai oscilar. 

Ouça My Best Evil Friend aqui 


Por Brunno Lopez

TROVÃO TROPICAL

Quase não dá pra acreditar que deixei passar uma banda como essas no ano passado, principalmente quando faz o meu tipo de som mais ‘porto seguro’ que existe. A verdade é que às vezes tudo o que precisamos é de algo simples, direto e confortável, e isso é exatamente tudo que esse grupo sueco entrega.

‘New York Nights’ é uma das provas dessa sensação de euforia oitentista, com um refrão que abraça instantaneamente – ação que se repete ao longo do álbum.

Nesse outono quente do Brasil, nada mais conveniente que este Tropical Thunder, do Cruzh.

Ouça aqui


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana

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