7 de Julho de 2019
Bom dia, boa tarde, boa noite”, queridos ouvintes (e agora leitores) do Silêncio no Estúdio! É com muito prazer que apresentamos, a partir desta primeira edição, uma newsletter quinzenal para levar notícias, comentários, dicas e um pouco de história sobre diferentes cenas e aspectos da música. Os textos serão sempre colaborativos, assinados pelo nosso time principal, e terão o objetivo de nos aproximar cada vez mais dos ouvintes fiéis, ampliando os canais de debate e divulgação de informação sobre aquela que é nossa paixão comum…a música!
CURTINHAS
Conjunções astrológicas e as tragédias
Com Saturno e Plutão em Capricórnio bagunçando as estruturas e revirando a sorte dos indivíduos, esse primeiro semestre de 2019 mexeu também com o universo da música, com perdas e péssimas notícias, especialmente para o Metal. Recentemente, perdemos precocemente André Mattos, do Angra, dias após gravarmos nosso episódio “O Poder do Power Metal” que, em sinal de máximo respeito, acabou ficando como uma homenagem póstuma ao artista. Pra piorar o cenário, descobre-se, mais ou menos na mesma época, um câncer de Dave Mustaine, outro ídolo (desta vez não do Power Metal, mas do Thrash / Speed Metal) ainda jovem. Se junho trouxe más notícias para o metal em geral, podemos esperar o quê para o restante do ano? Pra quem acredita em astrologia as coisas devem melhorar. Bom, pra quem não acredita, também!
Taylor Swift, direitos e gravadorasA antiga gravadora de Taylor Swift, a Big Machine Label Group, foi recentemente vendida para o empresário Scooter Braun, com todo o seu catálogo e seus direitos. Braun, que gerencia a carreira de Justin Bieber, é acusado de bullying e pode ter envolvimento em ações e investimentos escusos. Parece uma mera treta mal resolvida do mundo do pop, mas o episódio nos faz refletir: qual a autonomia que os “gigantes” da música realmente possuem sobre seus catálogos e obras? Beyoncè, que não é boba nem nada, tem garantido todos os direitos autorais sobre sua obra e, recentemente, negociou o documentário Homecoming com a Netflix pela bagatela de 20 Milhões de Dólares. Além de manter autonomia sobre seu trabalho, a artista não corre os riscos que, infelizmente, atingiram a Taylor Swift neste lamentável episódio. Tomara que as coisas terminem bem para a artista.
Old Town (New) Road(s)
No mês de junho (mês do orgulho LGBT) quem deve ter comemorado bastante é o rapper Lil Nas X. Há 13 (!!!) semanas diretas no Hot 100 da Billboard com o hit Old Town Road, Lil Nas revelou recentemente sua opção sexual em conversa com fãs via Twitter. “Pensei que fosse óbvio”, disse o compositor, comentando uma de suas letras que indicaria, em versos, sua sexualidade. Bom, se não estava totalmente claro, deve ser porque o universo do rap (ainda) é cheio de machismo e preconceito. Bom saber, com um artista gay no topo das paradas, que este cenário logo logo poderá ser revertido.
TOCADOS RECENTEMENTE
Bruno Leo Ribeiro
Meio do ano chegou e já estou naquele momento de escolha dos melhores discos do ano, então acabei ouvindo quase tudo que saiu durante esse primeiro semestre. Dos meus destaques, o primeiro single novo do Korn, chamada “You’ll Never Find Me“. Achei a música bem interessante e não curia nada da banda assim desde o Issues (que fiquei espantado em descobrir que já tem 20 anos!).
Outra coisa que está tocando em loop nas últimas semanas é um disco chamado “Pale Season” do projeto chamado “Thenighttimeproject”. Esse projeto é do ex guitarrista do Katatonia que eu adoro. O Fredrik Norrman é um guitarrista da Suécia que adora esse clima meio melancólico e triste do metal Nórdico. Recomendo demais para os dias tristes e chuvosos.
Vinicius Cabral (aka Cosmic Muffin)
Bom, depois que eu “matei” o Rock no nosso episódio “O Rock morreu?”, pra minha grata surpresa, discos de Rock Alternativo bem interessantes têm despontado na cena. Nos meus plays recentes, 3 discos em particular me ocupam os ouvidos: Titanic Rising, da Weyes Blood, Remind me Tomorrow, da Sharon Van Etten e Reward, da Cate Le Bon (esse último, uma obra prima irretocável). Boas notícias para os fãs de sons “estranhos” no Rock! Além disso, tenho ouvido bastante o Igor, do Tyler, The Creator, Nothing Great About Britain, do slowthai e esses dias comecei a explorar (ainda de leve) o disco novo da Lizzo, Cuz I Love You, fusão de R&B, Soul, Rap e Pop bem potente.
Brunno Lopez
Ah, logo após me enveredar pelos castelos e batalhas épicas ao som do melhor Power Metal da corte, decidi fazer breves pesquisas manuais de artistas que já curtia uma música ou outra e acabei me deparando com álbuns lançados este ano que são impossíveis de se ignorar.
O primeiro vem de uma banda especialista em criar refrões mais viciantes que chocolate branco (quem disser que é enjoativo provavelmente nunca soube comer a versão white do cacau), o Set it Off. Conheci os jovens da Flórida pelo brilhante disco “Duality”, onde eles já faziam uma espécie de punk/pop com extremo gabarito e energia lá em cima.
Porém, no lançamento de 2019, o “Midnight”, eles reaparecem misturando elementos mais eletrônicos, criando uma atmosfera interessante. Desafio vocês a tentarem não colocar a canção “Midnight Thoughts” como uma das suas novas melhores músicas favoritas da vida. Inclusive, tá tocando enquanto escrevo.
O segundo é de um dos maiores vocalistas de Hard Rock que tive a honra de ver ao vivo: o Jeff Scott Soto. “Origami”, lançado há dois meses atrás, é um álbum energético que traz o frontman mais carismático do planeta em performances como sempre marcantes. Detalhe para o trabalho do baterista brasileiro Edu Cominato, excelente e virtuoso músico com linhas rítmicas intensamente criativas.
Por último, outro projeto também de Hard Rock, o “Restless Spirits”. O álbum homônimo reúne vários vocalistas nas 12 faixas. Meu destaque vai para a incrível “Cause I Know You’re The One”, uma canção catch, com todos os elementos de um Metal Farofa de respeito.
Márcio Viana
Tô ouvindo o novo álbum solo de Beto Cupertino, vocalista da banda goiana Violins. O disco se chama A Gente Vai Encontrar Sossego e está disponível nos streamings. É um álbum mais leve e mais esperançoso do que o primeiro, Tudo Arbitrário. Entre os destaques, “Calma Cara”, um belo chacoalhão em quem se sente desanimado:
Calma cara, isso é normal / Não se cobre como um super humano / Não há satisfação pra dar / Cada um é seu próprio demônio. Outro bom momento é “Dizer adeus é fácil (quando o destino é logo ali)”. Disco levinho, bom de ouvir passando manteiga no pão numa manhã de domingo enquanto se pensa na vida.
IT’S A CLASSIC!
Bruno Leo Ribeiro
Clássico é clássico e vice e versa. Essa frase do famoso jogador Jardel define bem o que sinto quando falo sobre clássicos. Pra mim clássico não é apenas o que é antigo, mas o que eu escuto quando quero me sentir confortável. Tem discos que são lançados atualmente que se tornam clássicos, tipo a minha escolha do melhor disco de 2018 do Alice In Chains, mas pra começar aqui, vou falar de um clássico que andei ouvindo muito esse ano que é o Seventh Son Of Seventh Son do Iron Maiden. Apesar de saber que esse não é o melhor disco do Iron Maiden, é o meu disco favorito. É um disco muito melódico e tem a música mais esquecida do Iron que eu adoraria ouvir ao vivo que se chama “Only The Good Die Young”. É um disco subestimado da banda e com a cara do Adrian Smith. A banda não quis seguir essa linha mais melancólica e melódica, que fez o Adrian sair da banda logo em seguida. Recomendo ouvir o disco do começo até o fim de coração aberto. Um clássico do Metal pra mim.
Vinicius Cabral (aka Cosmic Muffin)
Bom, depois de uma imersão absurda no universo do Britpop, confesso que já estou me preparando, em termos de revival, para uma pauta futura do nosso podcast. Sem matar a surpresa em spoiler, basta indicar dois discos do passado, que tenho ouvido repetidamente. O primeiro é o Loveless, obra prima do My Bloody Valentine. Esse dispensa apresentações. É considerado, por muitos (eu incluso), simplesmente o melhor álbum dos anos 90. Obra prima do chamado Shoegaze, o disco ultrapassa qualquer amarra de gênero, tendo representado o ápice da canção indie pop, imersa em paredes de guitarras distorcidas. Na excelência de um microgênero, uma obra prima eterna e atemporal. Outro disco que tem me ocupado é o clássico You Forgot it in People, da banda canadense Broken Social Scene. Um clássico relativamente recente (de 2002), que tem camadas e camadas a serem desveladas a cada audição. Uma pérola “perdida” no início de uma época ainda pouco “revisitada” por nós.
Brunno Lopez
Quem acompanha o cast sabe que já falamos sobre compositores. Um dos meus favoritos, o Desmond Child, postou no Twitter uma foto com Steven Tyler e Joe Perry falando sobre uma música que escreveu com eles para o Aerosmith. Eu já sabia da parceria deles em músicas como “Angel” e “Dude Looks Like a Lady”, porém, ele estava falando naquele caso da canção que, pra mim, é a melhor do grupo de Boston: “Ain’t That a Bitch”.
Aproveito então pra destacar o disco onde ela está presente, o “Nine Lives”, de 1997.
Márcio Viana
Vou falar aqui de um clássico perdido. O cantor e compositor Leno, famoso nos anos 1960 por ser metade da dupla Leno & Lilian (sucesso na Jovem Guarda), lançou em 1971 o álbum Vida e Obra de Johnny McCartney. Foi uma verdadeira guinada na carreira do antes intérprete de canções inocentes junto com sua parceira de dupla, como “Pobre Menina” e “Devolva-me” (sim, aquela regravada por Adriana Calcanhotto). Leno até já havia iniciado sua carreira-solo ao final dos anos 60, mas com Johnny McCartney ele foi além: produzido por ninguém menos que Raulzito (é, o nosso Raul Seixas), o álbum enfrentou a censura imposta pela ditadura militar, que vetou metade das canções. Na real a própria gravadora CBS ficou incomodada com o álbum e simplesmente não se esforçou para mantê-lo no catálogo. Um tempo depois, Leno soube que a master do disco havia sido destruída.
Tudo mudou em 1994, quando o jornalista e pesquisador Marcelo Fróes encontrou as fitas originais da gravação, o que permitiu que o próprio artista bancasse um lançamento independente. 15 anos depois, em 2009, o álbum ganhou um relançamento pelo selo americano Lion Records. O bacana é notar que as músicas, executadas com o apoio de músicos renomados, como integrantes d’A Bolha, Renato e Seus Blue Caps e Trio Ternura, além do grande Marcos Valle no piano elétrico, carregam diversas referências, como por exemplo “Por que não?”, com riff idêntico ao de “All Right Now” do Free, além de trazer alguns arranjos que depois seriam reaproveitados por Raul em seus discos. “Convite para Ângela” tem muito do que depois se tornou “Sapato 36”. É fácil de se identificar o sarcasmo nas letras que também caracterizou a obra de Raul Seixas. Em “Sr. Imposto de Renda” dá até pra ouvir um “évéribódi” nitidamente raulseixístico. O melhor é que o álbum está disponível para audição nas plataformas de streaming para o deleite de quem ainda não conhece este clássico.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana