22 de Outubro de 2019
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time fuça seus apps de streaming e suas discotecas (físicas) especiais para revelar o que anda nos plays recentes, embalando seus dias. São dicas especialíssimas que revelam os gostos pessoais do grupo e reforçam toda a diversidade apresentada semanalmente em nosso podcast. Aproveitamos também para trazer recortes de notícias ou situações relevantes do mundo da música.
RECENT PLAYS/NOTÍCIAS
Bruno Leo Ribeiro
PIANO E VOZ AO VIVO
Minha cabeça funciona de uma maneira bem estranha. Passei os últimos dias na Disney, em Orlando, e o que mais ouvi foram as trilhas sonoras da Disney. Desde Procurando Nemo, Cinderella, Star Wars e por aí vai. Mas uma música de trilha da Disney que amo é “Can’t Feel The Love Tonight”, trilha do Rei Leão composta e interpretada genialmente pelo Sir Elton John. Mas o que isso tem a ver com minha cabeça funcionar de um jeito estranho? Bem, falando em Elton John, lembrei de um cover de “Tiny Dancer” excelente do cantor, compositor e pianista chamado Ben Folds. Ele foi um dos fundadores da banda de rock alternativo Ben Folds Five que é um trio que recomendo demais, mas vou indicar mesmo um disco ao vivo dele só com voz e piano.
O disco “Ben Folds Live” de 2002 é incrível. Ele é uma compilação de gravações de alguns shows e tem bastante interação com a plateia. Eu amo esse disco. Eu não sou muito fã de discos ao vivo, prefiro assistir em DVD, mas alguns álbuns estão na minha lista de melhores de todos os tempos (mas isso é uma pauta pra um episódio futuro), então por causa do show do Rei Leão que vi na Disney, lembrei do cover de Tiny Dancer do Elton John que tem nesse disco e fui ouvir. É assim que minha cabeça funciona. Uma coisa conectando com a outra. É assim que a gente cria um universo único de música que a única coisa que importa é se a música te faz bem ou não. Se você gosta ou não. E eu amo Ben Folds e esse disco ao vivo. Recomendo demais pra começar a semana bem, mas cuidado com a música “Brick” que é uma das músicas mais tristes que conheço, que o Ben escreveu sobre a noite que ele e a ex namorada tiveram um aborto espontâneo numa noite triste. Estejam avisados.
Vinícius Cabral
ENQUANTO 2019 VOA…
2019 tá assim: você pisca e “perde” trocentos lançamentos, listas, acontecimentos, notícias. Muito movimento, em uma rapidez supersônica. Neste ritmo, é seguro dizer que, desde que começamos a trazer esses recortes virtuais por aqui, muitos lançamentos tinham já ficado “pra trás” e agora já entramos naquela fase do ano em que retrospectivas chegam pra resumir não apenas o ano (que passa voando), mas a década, que também mal começou e já está acabando. Já é possível notar algumas tendências fundamentais dos últimos 3 anos (ou mais ou menos por aí) que “desaguam” em 2019 com uma potência renovadora. Uma delas, agora bem evidente para mim é: o Rock Alternativo está vivo e pulsante, graças às mulheres.
Começo no meu Recent Plays a ver que o destaque é a minha própria indicada na Newsletter passada, a Angel Olsen. Ao elaborar o “caminho” pra escrever sobre seu último álbum, fui obrigado a recorrer a obras anteriores. (Re) Descubro a potência do Burn Your Fire For No Witness, seu álbum de estreia de 2014, como disse na news anterior, associado diretamente a um tipo de alt-folk (quando digo “a um tipo de alt-folk” estou obviamente duvidando da relevância do “sub-gênero” pós 2010s). O disco é bem mais que isso na verdade e, ouvindo em retrospecto, dá pra notar como a artista já desenhava caminhos mais “artsy”, cheios de camadas e climas. Mas, claro, ainda é Rock, e exatamente aquele me me clica; o “estranho” ou “alternativo”. Angel segue sua carreira com firmeza, passando também pelo perfeito My Woman, de 2016. Um pouco mais “comercial”, maduro, eclético, e fazendo referências a tudo ao mesmo tempo (de Nirvana e Pixies, passando pela mais recente, Deerhunter), o trabalho conta com o single mais famoso da Angel até aqui (que deve ter sido tocado umas 80 vezes aqui em casa só essa semana), o irresistível Shut Up Kiss Me (que também tem um clipe imperdível). Claro que vale destacar o hino Woman, a inacreditável Intern, a deliciosa Heart Shaped Face e a épica Sister, entre outras (sim, o disco é mesmo perfeito!).
Para não ficar apenas na Angel Olsen novamente (haja visto que há muito o que falar sobre a moça), não poderia deixar de lembrar de artistas (também já citadas por mim no SNE) como a Mitski, outra que mantém a chama do Rock mais dissonante e inquieto acesa por alguns anos já. Deixo a recomendação de seu impecável disco de 2016 também, o Puberty 2, e o single inesquecível de Your Best American Girl. Essa é daquelas músicas que, em conjunto com o clipe, definem tão bem a essência da artista que vale por 15 parágrafos de newsletter.
Em tempo: na noite de sábado, 19, Frank Ocean soltou de surpresa um single novo. Já indico aqui por motivos de “porra, é o Frank Ocean, meu Deus do céu”. Para mais informações sobre o artista, apenas aguardem meu texto na próxima newsletter.
Assista aqui o clipe perfeito de Shut Up Kiss Me
Assista aqui Your Best American Girl, da maravilhosa Mitski
Márcio Viana
ENSAIO SOBRE OS CAPRICHOS DA ALMA
Já se vão oito anos desde que o R.E.M. decidiu botar um ponto final em seus mais de 30 anos de carreira com o respeitável Collapse Into Now. Segundo o guitarrista Peter Buck, o vocalista e líder Michael Stipe comentou com ele e com o baixista Mike Mills que eles deveriam considerar uma parada nas atividades da banda, ao que Buck retrucou: “que tal para sempre?”. Stipe devolveu: “soa bem para mim”.
Sobre as razões da separação, o cantor resolveu não se manifestar, dizendo que aquilo não interessava a ninguém. Mas Peter Buck deu a pista: a banda estava cansada do showbusiness.
Faz certo sentido: nestes anos sem a existência da banda, Buck lançou álbuns solo, sem muita repercussão, com alguma colaboração de Mike Mills.
Já Michael Stipe optou pela reclusão. Foram poucas aparições em público. Em uma delas, fez homenagem a David Bowie, cantando algumas músicas do artista. Depois, abrindo uma apresentação de Patti Smith, cantou dois temas inéditos.
Entre estes temas está Your Capricious Soul, música que agora ele lança em versão de estúdio, disponível apenas em seu site. O dinheiro arrecadado com o pagamento por download da música está sendo revertido à Extinction Rebellion, grupo que luta pela causa climática.
Sobre a música, a primeira impressão, além de “por que não colocou no streaming?” é de que falta ali a guitarra arpejada característica de Peter Buck, mas com o passar das audições a gente nota que a ideia ali é não se assemelhar à antiga banda. Sons eletrônicos vão permeando a letra e a voz de Stipe, e é aí que ele mostra que ainda tem lenha para queimar.
No geral a música soa bem, e o sentimento que fica é de esperança que ele lance logo o álbum completo.
Pra não ficar só nesse single do Michael Stipe, no meu recent play também está uma coletânea de não-singles, covers e lados B do Screaming Females, grupo feminino de indie rock com uma carreira bem consistente. Se você nunca ouviu, este Singles Too pode ser um bom começo para se apaixonar pela banda. Minha preferida do álbum é a cover de If it makes you happy, da Sheryl Crow, mas Ancient Civilization também é empolgante.
Assista aqui ao clipe de “Your Capricious Soul”
Brunno Lopez
PLAY DA ENDORFINA
A vida é feita de sonhos impossíveis, fomes incontroláveis e playlists temáticas.
Dentro desta última, sinto-me na obrigação de enaltecer um cover (claro, como poderia ser diferente?) do grupo que quase sempre cito aqui, o Set It Off.
Presente na minha lista de canções de atividade física intensa para transpiração, a música “Problem” é uma garantia de estímulo físico e emocional.
Originalmente gravada pela menina Ariana Grande feat. a mulher com sobrenome de marca de sapato, a Iggy Azalea, a versão dos meninos de Tampa para a já tradicional coletânea Punk Goes Pop Vol. 6, de 2014, é simplesmente perfeita.
Contagiante e energética desde a intro, é um daqueles poucos repeats que eu não tenho o menor medo de enjoar. A forma como eles conseguiram aproveitar os arranjos da canção original e transportando-os para uma interpretação de personalidade impressiona.
É o tipo de punk com elegância e uma exploração de assustador bom gosto nas transições vocais.
Entra tranquilamente na lista de versões que soam brutalmente melhores que as reais oficiais.
Mesmo com o grupo anunciando recentemente a saída do guitarrista e fundador Dan Clermont, a euforia não diminuiu nem um pouco. Eles vem de um excelente disco lançado neste ano e de uma turnê bem sucedida fora dos Estados Unidos.
Mas a melhor show continua acontecendo dentro dos fones de ouvido bluetooth, entre uma série de peito e costas.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana