Newsletter – Silêncio no Estúdio Vol. 28

03  de Fevereiro  de 2020


Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter dessa semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!


IT’S A CLASSIC

Bruno Leo Ribeiro

3 LADOS DE CADA HISTÓRIA

Quem é o maior guitarrista vivo e porque é o Nuno Bettencourt? Eu amo um homem e esse homem é o Nuno do Extreme. O Extreme, banda conhecida como a banda de um hit só com a maravilhosa “More Than Words”, é muito mais do que isso. Eu sempre gostei muito da banda. O disco Extreme II: Pornograffitti é extremamente funk, com groove, fazendo um hard rock com muita farofa, dessas que você leva pra praia pra comer com frango frito. 

Já o disco em sequência III Sides to Every Story é um clássico. É um disco super bem produzido e plural. Tem Funk, tem Groove e tem muito hard rock pra passar laquê no cabelo. A voz do Gary Cherone (citado pelo meu querido Brunno Lopez na newsletter da semana passada no Van Halen III) tá em alto nível. Talvez essa seja a sua melhor performance na carreira. 

A música Rest in Peace, conta com uma mensagem bacana nesses tempos brutos. A letra nos pede pra fazermos amor e não guerra. É uma música pra acalmar a alma e deixar todo mundo otimista. 

Já “Peacemaker Die” é uma música com mensagem forte sobre o mundo. Podemos ser pretos, brancos ou judeus. Podemos viver num mundo melhor. No meio da música, você ouve o famoso discurso do Martin Luther King, “I have a dream…”. É uma música pra restaurar a fé na humanidade. Além de um solo de guitarra no meio da música que é de chorar de tão bom.

O disco segue em alto nível por todas as músicas, com muita variação de dinâmica e composição e termina com um medley (que deixa o medley final do Abbey Road dos Beatles orgulhoso), com as músicas “Everything Under the Sun: I. Rise ‘N Shine”, “Everything Under the Sun: II. Am I Ever Gonna Change” e “Everything Under the Sun: III. Who Cares?”. Um épico com guitarra, solos, pianos, violoncelos, orquestra e a porra toda. Destaque pra belíssima Rise ‘N Shine que é dessas baladas para se ouvir e amar.

Enfim… é um disco que se deixar eu fico falando por tanto tempo que precisaria de um livro. Mas é só pra tentar provar que o Extreme é muito mais do que More Than Words. Vem comigo!

Ouça esse clássico do Extreme aqui

Vinícius Cabral

A MULHER POR TRÁS DOS CLÁSSICOS

Minha discoteca analógica anda em alta! Dia desses bastou lembrar de um dos meus clássicos preferidos para encontrá-lo esperando em uma das prateleiras do sebo mais especial da cidade: Tapestry, da Carole King. E que clássico! 

Poucos sabem, mas antes de se firmar como compositora e cantora neste disco de 1971, King já era a pelo menos uma década uma das figuras mais requisitadas da indústria musical norte americana. Aos 15 anos já tinha um contrato de compositora com a Paramount e, ao longo dos anos 60 se notabilizou ao, junto com seu então marido Gerry Goffin, compor clássicos absolutos para artistas como The Shirelless, Aretha Franklin e até The Beatles (sim, é da dupla Goffin/King a música Chains, gravada pelo quarteto de Liverpool em Please, Please Me).  Por falar em Beatles, a notoriedade de Carole e seu marido letrista era tamanha, que John Lennon já chegou a dizer que a intenção dos Beatles, em termos de composição, era que a dupla Lennon/McCartney fosse a versão britânica de Goffin/King. Se já era uma compositora reconhecida a este nível, faltava para King ainda aquele “salto” autoral que, para quem trabalha sempre nos bastidores é às vezes um pouco arriscado: colocar sua própria voz nas canções, inclusive revisitando clássicos imortalizados por cânones como Aretha. 

Mas Carole não desaponta na missão. Muito pelo contrário. Apesar de não se considerar uma grande cantora (coisa que talvez não seja, tecnicamente), a emoção de suas interpretações é tão singular que esse Tapestry parece, por vezes, dialogar diretamente com os nossos sentimentos mais recônditos, como em It’s Too Late, clássico que descreve sua separação, justamente, do Gerry Goffin. Esse disco parece, aliás, ter sido definido nos meses que sucedem o divórcio. Carole se muda para Los Angeles com as duas filhas e um gatinho (Telemachus, que aparece no retrato da capa do álbum), e lá compõe o grosso do que irá se tornar o Tapestry. Vê-se também, na icônica capa, Carole trabalhando em uma linda tapeçaria, que adorna a parte interna do LP. É esse clima íntimo/confessional que constrói a obra-prima de King. Com canções novas que se tornam clássicos instantâneos, regravados por Deus e o mundo (So Far Away, You’ve Got a Friend e a já citada It’s Too Late), a artista expõe seu talento único com versos simples, diretos, e cantados com toda emoção do mundo. Não bastassem os novos clássicos, King revisita aqui Will You Love Me Tomorrow  (de 1960) e (You Make Me Feel Like) A Natural Woman (essa interpretada por Aretha em 1967), ambas da antiga parceria com seu ex marido Gerry Goffin. Por falar em parcerias, a cereja no bolo aqui talvez sejam os Backing Vocals e violões que o então aprendiz de King, James Taylor, entrega em diversas faixas. Como se não bastasse a presença de Taylor (que depois irá regravar algumas canções desse disco com enorme sucesso também), Joni Mitchell, que gravava seu próprio clássico Blue no estúdio ao lado, se junta à Carole e Taylor para os backing vocals de Will You Love Me tomorrow

Uma obra fundamental, de uma das maiores compositoras da história.

Ouça Tapestry Aqui

Márcio Viana

EU ENCONTREI A TAL ESSÊNCIA RARA
Quando, no início dos anos 2010, os remanescentes da Legião Urbana Dado Villa Lobos e Marcelo Bonfá reuniram-se com músicos como Bi Ribeiro, baixista dos Paralamas, Fernando Catatau, guitarrista do Cidadão Instigado e um improvável cantor – Wagner Moura, ator – nem todos os presentes no show comemorativo realizado no Espaço das Américas, em São Paulo e transmitido pela MTV Brasil, num tempo em que esta ainda era um canal musical, entenderam a presença daquele senhor pálido empunhando sua guitarra em Ainda é Cedo, da Legião e em sua Damaged Goods, cantada por Dado, muito mais fã do que cantor. 

Acontece, porém, que a presença do tal senhor fazia todo sentido: aquele era Andy Gill, guitarrista e líder do Gang of Four.

Quem ouve a música Corações e Mentes, dos Titãs, presente no disco Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas, pode se admirar com os versos “(…) o teu beijo é tão doce, o teu suor é tal salgado (…) às vezes acho que te amo, às vezes acho que é só sexo” sem saber que eles são uma citação da mesma Damaged Goods.

Pois bem: Entertainment!, o disco de 1979 do Gang of Four influenciou grande parte dos músicos do rock brasileiro surgido na década seguinte, em momentos bastante explícitos como os que citei, mas também em outros. A participação de Andy Gill em Ainda é Cedo não foi por acaso: aquelas harmonias e ruídos presentes na música, conduzida pelo baixo (na gravação por Renato Rocha, no show comemorativo por Bi Ribeiro) são puro Gang of Four. O mesmo pode-se dizer de Selvagem?, faixa-título do álbum de 1986 dos Paralamas do Sucesso.  

Pode ser dito também a respeito de bandas estrangeiras dos anos 2000, como (principalmente) Franz Ferdinand, Bloc Party e mesmo o LCD Soundsystem. Todas elas – e mais algumas dezenas – beberam na fonte aberta em Entertainment! A guitarra de Gill é a guitarra do não-solo, do anti-solo, do ruído. Dito isso, não é estranho dizer que ele influenciou também a geração de Sonic Youth e Pixies e a do Nirvana, por consequência.

Andy Gill morreu no último sábado, 01/02/2020, aos 64 anos. Sua banda, da qual era o único integrante original na atual formação, se mantinha ativa, tendo inclusive se apresentado no Brasil, em 2006 e 2018.

Fica o legado de quem, como diz em uma das músicas do disco, encontrou uma essência rara. E essa essência é que nos mantém de pé.

Ouça Entertainment!

Brunno Lopez

OS ÚLTIMOS FOGOS DE ARTIFÍCIO

Lançado em meio a um turbilhão de ‘diferenças pessoais’ de bastidores, o terceiro álbum do Angra tinha tudo para não repetir o sucesso de seus gloriosos antecessores.

Pra se ter uma ideia, Rafael Bittencourt já dizia que André Matos planejava deixar a banda assim que a turnê de Holy Land tinha terminado. Nesse período, eles testaram pela primeira vez o vocalista Edu Falaschi, do Symbols, mas felizmente nosso querido André desistiu da ideia naquele momento.

Sabe-se que ele estava insatisfeito com a maneira que os empresários da banda estava administrando os lucros da banda e, logo depois, nós sabemos com a história seguiu.

E nesse clima pouco favorável para a criação de um material inspirador, nasceu o FIREWORKS. E olha, ele é excelente, com faixas que até hoje fazem parte de setlist da formação atual.

Com produção de Chris Tsangarides – produtor inglês que já trabalhou com Judas Priest, Yngwie Malmsteen e Gary Moore – e gravado no lendário Abbey Road Studios, temos um grupo mais cru e direto que se desdobra pelas dez faixas. Apesar da brasilidade característica – e sempre presente – eles seguiram em rumos inéditos em certos momentos, mostrando um direcionamento interessante que a banda teria se não tivesse mudado os integrantes mais pra frente.

Provavelmente não teríamos nada parecido com o Rebirth, etc.

De qualquer forma, só pela GENTLE CHANGE, já vale a audição.

Ouça o Fireworks aqui


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana