17 de Fevereiro de 2019
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time destaca as principais notícias, curiosidades, acontecimentos relevantes e/ou inusitados do mundo da música. Claro que, cada um à sua maneira, e abordando sempre o universo musical de sua predileção.
NOTÍCIAS
Bruno Leo Ribeiro
MISTÉRIO DA CAPA
Na semana passada o Heavy Metal completou 50 anos. Como assim? Bem, o Heavy Metal foi criado com o lançamento do disco de estreia da banda, o clássico Black Sabbath. Mas essa não é uma newsletter sobre clássicos (ainda) então a notícia que saiu por esses dias com relação a esse disco é sobre a moça misteriosa da capa.
Muito se especulou sobre quem seria a moça (bruxa) da assustadora capa do Black Sabbath e ela finalmente, depois de 50 anos, resolveu falar e dizer como que foi a experiência daquele dia de sessão de fotos.
Em uma nova matéria detalhada sobre o aniversário de 50 anos do disco, a Rolling Stone conversou com a mulher, agora identificada como Louisa Livingstone, e com o fotógrafo Keith Macmillan para falarem sobre a criação da capa.
Macmillan falou que encontrou a Louisa Livingstone através de uma agência de modelos de Londres e disse: “Ela era uma modelo fantástica. Ela era muito pequena, mas muito, muito cooperativa. Eu queria alguém pequeno, porque isso dava à paisagem um pouco mais de grandeza. Fazia todo o resto parecer grande.
Livingstone, que diz que tinha 18 ou 19 anos na época, lembra: “Eu tive que acordar às quatro da manhã, ou algo ridiculamente cedo. Estava absolutamente congelante.”
“Lembro-me do Keith correndo com gelo seco, jogando no lago próximo e isso não parecia estar funcionando muito bem, então ele estava usando uma máquina de fumaça. Mas foi apenas uma daquelas manhãs inglesas muito frias.”
Quanto à localização em Mapledurham Watermill, em Oxfordshire, Macmillan diz: “Hoje em dia é muito mais modernizado, embelezado e turístico. Na época era um lugar bastante assustador. A vegetação rasteira era bastante espessa e emaranhada, e tinha uma sensação estranha.”
Apesar de entrar para a história do rock e metal, Livingstone admite que ela não é exatamente a maior fã do Black Sabbath.
Ela diz: “Não é particularmente o meu tipo de música. Quando peguei o álbum, escutei e segui em frente.”
Vinícius Cabral
E O “K-INDIE” ?
Muita treta em 2020 já, né não? Eleições americanas, dólar em alta recorde, Grammy’s, Oscar, etc etc. Eu tô seguindo o plano de ficar quietinho no meu canto, ir aprendendo algo novo todo dia e tentando mudar as coisas dentro do meu campo de ação. Dos acontecimentos recentes, um dos que mais me chamou atenção foi, claramente, a consagração absoluta e inesperada do filme Parasite, do Sul-Coreano Bong Joon-ho. O filme é cinematograficamente impecável (flerta com a linguagem clássica do cinema em uma época de CGI em excesso e filmes da Marvel toda semana) e tem um conteúdo bastante transgressor. Dito isso, um prêmio de “Melhor Filme” na maior premiação cinematográfica da indústria parece no mínimo meio suspeito; será que a mensagem foi realmente assimilada ou estamos vendo mais uma apropriação para filtrar o debate sobre um dos maiores problemas do mundo atualmente (a desigualdade social)? Não dá pra responder isso agora, e também estamos aqui para falar de … música!!
Quem passou mais de 5 minutos no planeta terra nos últimos 20 anos já percebeu claramente que há uma “invasão Sul-Coreana” em curso. O Kpop invade as paradas de sucesso mundiais constantemente com um grupo diferente a cada vez. É fácil lembrar dos grupos mais famosos, como GOT7, Mamamoo, EXO ou BTS, mas a realidade é que a indústria do pop Coreano produz centenas de artistas, todos nivelados esteticamente. Impossível mergulhar nesse universo e fazer uma análise séria do gênero pra qualquer um com mais de 15 anos. Mas como nos mostrou Bong Joon-ho, há muito mais cultura Coreana do que aquilo que aparece no Tumblr ou na Revista Capricho. Há por exemplo uma cena Indie, e é claro que é pra lá que eu vou. Lembrei, imediatamente, de 3rd Line Butterfly, talvez uma das bandas alternativas de Seoul mais repercutidas internacionalmente. Não lançam nada já tem alguns anos, mas isso não me impediu de revisitar seu disco de 2012 Dreamtalk, que tem a belíssima 헤어지는 날 바로 오늘 Breaking of the Day, Today. Claro que há muito mais de onde saiu essa banda, mas isso é assunto para ser desenvolvido com mais calma em outra ocasião. Por ora, basta celebrar a diversidade cultural…tanta coisa boa é produzida em todos os cantos do mundo que às vezes eu sonho em ter uma vida inteira somente dedicada a descobrir coisas novas. Que incrível seria…
Ouça aqui 헤어지는 날 바로 오늘 Breaking of the Day, Today
Márcio Viana
A FORÇA DA GRANA QUE ERGUE E DESTRÓI COISAS BELAS
Capas de discos sempre foram parte da obra. Mesmo em tempos de streaming, a imagem que representa visualmente a ideia de um álbum ou single ainda preserva sua importância como forma de reforçar ideias.
Neste sentido, nada mais icônico do que a capa de um dos grandes álbuns da música brasileira, Clube da Esquina, sem o título e o nome dos artistas, somente dois meninos, um branco e um negro, sentados no chão. Um sério, o outro sorrindo. Por muito tempo, parte do público achava que se tratava de uma foto de infância de Lô Borges e Milton Nascimento. Não era.
Os dois retratados eram Tonho e Cacau, dois meninos do subúrbio de Nova Friburgo, Rio de Janeiro. O compositor Ronaldo Bastos andava pelas ruas da cidade em seu Fusca, acompanhado do fotógrafo pernambucano Cafi (falecido em 2019), quando viram os meninos e decidiram registrar o momento. Tempos depois, Milton Nascimento viu a foto, gostou da ideia e levou consigo, para ilustrar nada menos que o álbum Clube da Esquina, um dos discos mais cultuados, não só no Brasil, mas também no exterior.
Tonho e Cacau passaram 40 anos sem saber da existência deste álbum e de sua participação nele, por meio da presença na capa. A história mudou quando, em 2012, a reportagem do jornal O Estado de Minas conseguiu localizá-los e reuní-los, para uma conversa e sessão de fotos, refazendo o cenário original. Houve então , uma dose de emoção e orgulho por fazerem parte de algo tão grandioso.
Mas a história não parou por aí. Preocupado, Tonho procurou um advogado alguns meses depois e contou a história da capa e de como sentia que deveriam ter procurado a família dele e do amigo para obterem autorização de uso da imagem. Isso, é claro, se transformou desde então em um processo que pede indenização de cerca de 500 mil reais, a título de reparação. Neste momento, o processo está parado e em meio a um empurra-empurra entre os artistas, a gravadora e o compositor Ronaldo Bastos. Muita água ainda deve rolar nessa ponte por onde passa o trem de doido e o trem azul.
De minha parte, acharia justo que os meninos, hoje adultos com mais de 50 anos, recebessem algo por sua participação em um disco tão emblemático. Haveria dignidade em proporem um acordo, que provavelmente seria aceito por um valor até menor do que o da ação.
Alheio a tudo isso, Milton refaz os passos da gravação do álbum em um especial com seis episódios para o Canal Brasil, com participação de músicos que estiveram presentes na gravação e alguns artistas da nova geração, como Criolo e Maria Gadú. Vale muito a pena assistir.
Por aqui, ficamos na torcida de que tudo se acerte, para que a história dos meninos Tonho e Cacau possam ganhar uma recompensa à altura da história do álbum.
Ouça aqui o álbum Clube da Esquina
Brunno Lopez
STAND BY THE TRUTH
Num mundo de primeiras impressões e julgamentos irreversíveis, um clipe gravado em 20 de setembro de 1997 traria uma reflexão inesperada e incrivelmente brilhante dessa banda irretocável do então chamado britpop.
Em “Stand By Me”, o Oasis trouxe uma linguagem que retumba em nosso período atual em que temos predileção por enxergar apenas os lados que nos interessam das histórias em detrimento da real ‘big picture’.
Nunca é tarde para mostrar o quanto é preciso exercitar a sensibilidade e buscar frear qualquer precipitação e juízo de caráter que eventualmente fazemos apenas pela justiça própria.
Como a música mesmo diz: “nobody knows the way it’s gonna be.”
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana