20 de Abril de 2020
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time destaca lançamentos que têm feito suas cabeças.
LANÇAMENTOS
Bruno Leo Ribeiro
UM PRA FICAR TRISTE E OUTRO PRA ALEGRAR
Já comentei e indiquei aqui na Newsletter o single Behind the Blood to Katatonia, banda da Suécia que ama fazer música melancólica e triste. Sei que nesse momento de quarentena, ouvir música deprê pode ser uma má ideia, mas eu garanto que a melancolia do Katatonia não vai te deixar pra baixo, vai fazer você refletir.
O disco novo deles chamado “City Burials”, sai essa semana no dia 24. É um dos lançamentos que mais aguardo neste ano. E pra recomendar um outro single desse disco pra aquecer a espera, ouçam música Lacquer aqui. E a banda tá inovando trazendo uma música só com beats e sintetizadores. Nada de guitarra pesada nem bateria, diferente da música Behind the Blood.
E pra alegrar dia, só passando pra relembrar do disco super gostosinho de ouvir da Dua Lipa. O disco como o próprio nome diz, “Future Nostalgia”, é basicamente um disco dance nostálgico feito nos dias de hoje. Não tem nenhuma música com cara de super hit tipo Toxic da Britney, mas é um disco pop bem gostosinho de ouvir pra dar uma animada no dia e te ajudar no humor durante as faxinas em casa. Ouça e dancem com a Dua Lipa. E se cuidem!
Vinícius Cabral
PORRIDGE RADIO – EVERY BAD
“I’m doing well, I’m doing fine / We are ‘ok’, all of the time / Nothing is wrong, everything’s fine / We’re ‘ok’, all of the time / Everything’s fine, Everything’s fine”.
“Estou indo bem, estou indo legal / Nós estamos ‘ok’, o tempo todo / Não tem nada errado, tá tudo certo / Estamos ‘ok’, o tempo todo / Tá tudo certo, tá tudo certo”.
Há algo de muito perturbador na forma em que Dana Margolin, compositora por trás de Porridge Radio, canta esses versos. Chorados, sentidos, gritados. No videoclipe que promove Circling, a canção central deste belo álbum, a angústia em seu rosto não consegue esconder a crueza retórica dos versos. Não se trata sequer de ironia (nem o mais cínico rapper conseguiria fazer ironia com versos assim numa época como a que vivemos). Ao repetir que “está tudo certo”, trata-se mais de um desejo absurdo, uma necessidade íntima, uma projeção – no momento – irreal. Trata-se de um horizonte, e é o horizonte que deságua no refrão de forma lúdica e redentora: “I go inside the sea sometimes” (“Eu às vezes mergulho no mar”).
Se Circling é a principal canção do álbum, cristalizando a face mais angustiada e visceral do Rock Alternativo dos anos 20 (já podemos dizer isso?), ainda há – muito – espaço para outras surpresas neste urgente Every Bad. Na maravilhosa Lilac, Dana Margolin (a essa altura já me conquistando como a próxima grande compositora e letrista do momento) já inicia com uma porrada: “My body is so uncomfortable”. Cenas de incômodo e inadequação, que mais uma vez se dissolvem em um plano quase que imaginativo. Praticamente um ode à harmonização universal dos desconfortos. O refrão que ela traz aqui, se repetindo à exaustão progressivamente e entoado com cada vez mais força, é quase um manifesto. Poesia crua, desejo encarnado: “I want us to be kinder to ourselves and to each other” (“Eu quero que sejamos mais carinhos, entre nós e uns com os outros”). Guardadas as devidas proporções, é quase que a “Imagine” dos nossos tempos. Imagine só … mas não somente imagine. Deseje. Deseje que sejamos melhores. Que esteja, finalmente, tudo bem, de uma vez por todas.
Se nestes dois hinos as letras e o universo sonoro da banda nos transportam para uma sublimação, é em canções como Sweet e Don’t Ask me Twice que o grupo deixa mais evidente sua veia roqueira (importante lembrar que este é apenas o segundo álbum dos jovens de Brighton, Inglaterra). A força destas duas canções concatenam a potência e angústia de sua frontwoman, enquanto explodem na dinâmica loud-quiet-loud tradicional do Rock Alternativo, soando agora renovada e fresca como uma salada orgânica encomendada diretamente do produtor rural.
E ainda há muitas outras “fontes” musicais presentes aqui. Na canção de abertura, Born Confused, um violino embala a ponte para o refrão, fazendo referência (imagino que involuntária) a atos galeses como Los Campesinos ou, porque não, Gorky’s Zygotc Mynci. Embora o álbum deslize um pouquinho no meio, com uma ou duas canções muito indie pop tradicionais (Pop Song, Give/Take) não há nada para reclamar deste disco no momento atual. É jovial, poético, potente, imaginativo, nervoso. É tudo que o Rock nunca deveria ter deixado de ser.
É certo dizer, com toda a angústia e sinceridade que a banda expõe aqui, que este álbum é uma das pedras fundamentais de 2020 até agora, e que deve nos acompanhar pelo ano como uma das grandes boas notícias da cena Indie.
Márcio Viana
FIONA APPLE ABRE SUAS ASAS E SOLTA SUAS FERAS. CAIA NA GANDAIA (MAS FIQUE EM CASA)
Fiona Apple entende muito mais do que nós quando o assunto é reclusão. Se hoje estamos quase todos em isolamento, nos defendendo como podemos de um inimigo que não podemos visualizar, a cantora apresenta suas armas, com as quais luta contra seus próprios fantasmas, medos, lembranças ruins e histórias do passado. Oito anos se passaram desde o ótimo The Idler Wheel Is Wiser Than the Driver of the Screw and Whipping Cords Will Serve You More Than Ropes Will Ever Do, que foi aclamado em seu lançamento, ganhando nota 9 em reviews em sites e revistas musicais ao redor de nosso mundo redondinho.
Mas Fiona merecia mais. A gente também, e ela sabia disso. Ainda havia (e haverá) muito a ser dito. E é por isso que Fetch the Bolt Cutters existe. E a musicista constrói este disco do modo mais artístico possível: a maior parte das gravações ocorreu em sua casa em Venice, Califórnia, utilizando inclusive de recursos inusitados: percussão com utensílios de cozinha (ao que parece, Fiona também entende mais de panelaços do que nós), backing vocals de sua irmã, Maude, da atriz Cara Delevingne e também – vejam vocês – uivos e latidos de seus animais de estimação. O piano continua magistral, com seu timbre que é meu preferido de toda a história da música, sem exagero.
E as letras – ah, as letras! – são seu manifesto a respeito de um mundo cruel – sem ser piegas. Ela diz essas coisas sem nenhum floreio: O mal é um esporte de revezamento / Quando quem é queimado / Se vira para passar a tocha, trecho de Relay que dispensa explicações.
Para não passar batido, Fetch the Bolt Cutters é um disco que requer a nossa atenção. Eu não recomendaria a audição junto de outra tarefa. Talvez o mundo tenha se cansado das pessoas que são multitarefas e nos peça um pouco mais de calma e atenção nos detalhes.
Há quem diga que ainda é cedo para ratificar a nota 10 dada pelo Pitchfork ao álbum (veja bem, isto não é corriqueiro: o último review com esta nota foi dado ao My Beautiful Dark Twisted Fantasy, de Kanye West, em 2010), mas eu não acho. Neste ano que começou acabando, a chance de Fetch the Bolt Cutters estar no topo das listas de melhores é imensa. Se mais nenhum disco merecer uma nota máxima em 2020, não será algo a se lamentar. Temos um bom representante.
Ouça Fetch the Bolt Cutters aqui
Brunno Lopez
5 MÚSICAS
Quase sempre discutimos nos episódios do podcast se o futuro da música é lançar álbuns inteiros ou focar apenas em singles promocionais.
Bom, não sei ao certo se o pessoal do Incubus anda escutando a gente, mas aparentemente eles pegaram o melhor dos dois mundos lançaram um EP.
Não esperava ouvir algo deles esse ano e posso dizer que gostei das faixas apresentadas nesse trabalho intitulado de “Trust Fall – Side B”.
O Incubus é aquele tipo de banda que não tem medo de experimentar novas sonoridades. O antecessor a esse material – de nome “8” -já mostrava um direcionamento bem distante do que haviam feito com seus hits “Drive” e “Anna Molly”
Se formos nos ater ao título, esse lançamento pode soar como uma espécie de continuação do EP lançado em 2015 com o nome “Trust Fall – Side A”.
Fato é que, independente dos lados, o Incubus continua na ativa, seja com um disco completo de 12 faixas ou uma canção radiofônica mainstream.
Por enquanto, temos 5 oportunidades de descobrir.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana