Newsletter – Silêncio no Estúdio Vol. 44

25  de Maio  de 2020


Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. A newsletter desta semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!


IT’S A CLASSIC

Bruno Leo Ribeiro

SEGURA SEU FOGUINHO!
Tem uma banda que nunca digo que sou fã, mas quando escuto eu fico todo fanboy. Já sentiram isso? Eu nunca cito com uma das minhas bandas favoritas. Nunca coloco nenhum disco em listas. Nunca saio falando (tirando agora) dela. Essa banda é nada mais e nada menos do que os Ingleses do Def Leppard. 

Banda de Hard Rock que já flutuou no pop e no farofa e vou indicar um disco farofíssimo pra você. O Pyromania é o terceiro disco da banda e é o primeiro disco com o guitarrista Phil Collen, que pra mim, foi o que realmente mudou a banda. Ele não só entrou, como tomou a frente em várias decisões da banda ali de 1983 até hoje. 

Apesar disso, nesse disco ele basicamente apenas toca guitarra, já que muitas das músicas já estavam prontas quando ele entrou. Ele é a prova que você pode entrar num time andando, se adaptar e ceder no começo e depois tomar a frente com sua competência.

Se sabe que os caras do Def Leppard são dos caras mais queridos do hard rock mundial, provado quando o baterista Rick Allen sofreu um acidente – em 1984 – que ele perde o braço e a banda ficou esperando ele se decidir sem pressão. O que me faz gostar da banda mais ainda, mesmo não sendo fã (isso vai mudar! Eu juro!).

O disco conta com 3 músicas que já valem o disco todo, “Photograph”, “Rock of Ages” e “Foolin'”. Photograph é minha música favorita da banda e por isso o carinho pelo disco. Foolin’ é daquelas baladas de hard rock farofa que deixariam o Bon Jovi com inveja e Rock of Ages é aquela música de arena pra geral cantar junto. É um clássico. Tem que ouvir e deixar você com vontade de sair tocando fogo em tudo, assim como o nome do disco sugere. Mas cuidado! Chame um adulto para brincar com fogo. 

Tenham uma semana maravilhosa. Obrigado por fazerem parte dessa jornada de 70 mil plays que completamos essa semana. <3

Esquente seu fone ao som do Pyromania


Vinícius Cabral

E AGORA QUE A BANDA PASSOU / NADA VAI FICAR*
Hollywood Rock, 1996. Eu era um adolescente, e esperava até tarde a transmissão da MTV com Smashing Pumpkins e Supergrass, algumas das minhas bandas preferidas da época e as únicas que (a princípio) me interessavam na última noite do festival. 

Pra minha surpresa, sobe ao palco antes dos headliners uma banda inesperada, e aparentemente inadequada para uma apresentação tão grande: dois caras e uma mina, apenas … nenhum baterista (tinha certamente uma Drum Machine fazendo as vezes) e músicas absolutamente estranhas cantadas em português. Era o Pato Fu que, como tive orgulho de saber aquela noite, vinha da minha cidade natal. 

O que eu também não sabia, e só fui descobrir nos meses seguintes, é que a banda que pisava naquele palco totalmente desproporcional para o seu tamanho (físico, diga-se) já era praticamente uma veterana. Lançara seu primeiro álbum em 1990 (o revigorante Rotomusic de Liquidificapum), e já havia emplacado pelo menos um grande hit – Sobre o Tempo, do álbum Gol de Quem?, de 1994 – certamente o hit que os credenciou a participar de um evento de tamanha envergadura.

Eu também não sabia, mas passei a ler em alguns destaques de revistas e críticas, que a banda não tinha exatamente um “lugar” preciso para ocupar no cenário do rock brasileiro dos anos 90. Com uma falta de imaginação absolutamente impressionante, o jornalismo musical do país se limitava a compará-los aos Os Mutantes. Verdade seja dita, tirando o fato de ser um trio com dois rapazes e uma garota, e de uma tendência de se apropriar de signos da cultura pop para digeri-los com boa dose de ironia, a comparação era esdrúxula e, como já disse, pouco imaginativa.

A verdade é que Pato Fu nasce da cena bastante criativa – e pouquíssimo difundida – do pós-punk belo horizontino dos anos 90. John, mais conhecido como o marido da Fernanda Takai, veio da banda Sexo Explícito, uma das mais cultuadas e míticas deste momento particular do rock nacional.

Mas o Sexo Explícito estava no passado, e só se revelava no Pato Fu, aqui e ali, em algumas melodias e riffs mais ousados de John. A essa altura do campeonato, em 1996, a banda já era forte e sabia jogar o jogo do universo comercial do rock nacional. 

Eis que poucos anos depois, em 1999 a banda, já reforçada por um baterista (o Xande) lança Isopor; um dos álbuns mais impactantes do final da década. Como um “estranho no ninho” em uma cena totalmente chacoalhada pela invasão pernambucana do Mangue Beat, Pato Fu nos trouxe em Isopor um outro tipo de modernidade, que me fazia sonhar com a grandeza do Rock nacional do novo milênio. Apontavam para Björk e Radiohead, nas impressionantes Isopor (faixa título) e Um Ponto Oito. Aperfeiçoavam perfeitamente a estética “engraçadinha” com texturas modernas, mirando em bandas como Stereolab e Pizzicato Five, como nos hits Made in Japan e Depois. Os riffs do John remetiam ao Britpop de Blur e Super Furry Animals, como em Perdendo Dentes e Prato do Dia. Já Imperfeito apontava para aquele rock unicamente brasileiro, com traços de Jovem Guarda e do Brega, enquanto O Filho Predileto de Rajneesh brincava com French Pop, Pós Punk e Indie.

Tudo em Isopor soava exatamente moderno. Fresco, inovador e sem medo de arriscar. Com a produção “correta” de Dudu Marote e uma mixagem arrojada, Isopor era o disco que colocava – para mim e para tantos outros indies de carteirinha – Pato Fu na mesma lista das bandas internacionais que nos acotovelávamos para assistir em casas como a extinta Ballroom, no Rio.

Por instantes, parecia ali que o rock brasileiro tinha encontrado um novo ethos, um novo caminho para além do antropofagismo regional. Não que eles negassem a “tradição” – eram antropofágicos à sua maneira,  à maneira do século que se avizinhava – 

Pena que nosso rock parece não ter aproveitado tanto a enorme deixa deste brilhante disco – que não é nem um pouco … de isopor.

* Trecho da faixa-título Isopor

Ouça Isopor aqui


Márcio Viana

O INÍCIO, O FIM E O MEIO (E A MENSAGEM)
Uma das coisas mais gratificantes do trabalho de pesquisa que se faz para escrever sobre algo (e é cada vez mais imprescindível buscar conhecimento sobre algo que se pretende descrever e recomendar nestes tempos em que os padrões são empurrados goela abaixo tal qual um comprimido de algum medicamento fajuto) é a chance de descobrir novas nuances sobre algo que já conhecemos. Me recordo bem de ter tido a oportunidade de ouvir Endtroducing… DJ Shadow sem nunca ter atentado para seu caráter revolucionário, que só recentemente percebi.

Uma das coisas a se observar é que Josh Davis, a pessoa por trás da persona DJ Shadow, era um sujeito de seus 23 anos na época do lançamento de seu álbum de estréia, em 1996. Considere que o cenário musical da época vivia o pós-grunge e a efervescência de um britpop razoavelmente consolidado. No mesmo ano, o Korn lançava seu segundo álbum Life is Peachy, o Sepultura estourava de vez com o álbum Roots e implodiria ainda no mesmo ano.  O Metallica, aparentemente cansado de seu nicho, vinha firme no propósito de fingir ser quem não era (ou não ser quem era) com seu inusitado Load. O Manic Street Preachers tentava seguir em frente sem contar com o pitoresco integrante Richey Edwards, desaparecido para sempre e simbolizado em um disco que pregava que tudo deveria seguir, o emblemático Everything Must Go.

No meio desta efervescência do rock em várias vertentes, seria normal que um jovem como Josh resolvesse comprar uma guitarra e um amplificador, mas ao invés disso ele comprou discos. E assim nasceu o primeiro álbum da história composto totalmente de samples, um feito registrado no Guiness Book em 2001.

É curioso e fascinante observar a lista de samples presentes no álbum e encontrar ali cruzamentos improváveis, que unem Nirvana, Metallica, Stanley Clarke, Giorgio Moroder e Beastie Boys, por exemplo, mas há que se notar que a colagem não é aleatória nem desproporcional. As faixas são dotadas de sentido e propósito.

 O disco foi lançado originalmente pela Mo Wax Records, mas em 2005 a Island promoveu um relançamento com alguns bônus, e o disco pareceu ter sido lançado exatamente ali. Ouça este disco pensando no ano de 2020, que não começou ou não terminou. Poderia ser lançado hoje, com o mesmo título, que é o fim e o começo (endtroducing, no sentido de introdução final). Ele continua fazendo sentido. Assim são as obras-primas.

Ouça Endtroducing… DJ Shadow


Brunno Lopez

O PURO CREME DO HARD ROCK ALEMÃO
Quando viajamos no tempo e descobrimos as origens musicais de nossos artistas favoritos, conseguimos compreender os elementos que ouvimos nas obras posteriores às suas bandas de origem.

É o caso de Andi Deris no Helloween. A entrada do vocalista no maior grupo de power metal da Alemanha trouxe canções que resgataram o estilo da banda, porém, tinham influências em outro gênero: o bom e velho Hard Rock.

E nós sabemos que tais influências vieram da antiga banda dele, o Pink Cream 69, mais precisamente no disco homônimo de estreia, de 1989.
Ali podemos encontrar os maiores clássicos da banda até hoje, como “One Step Into Paradise”, “Close Your Eyes” e a viciante e grudenta “I Only Wanna Be For You”.

Depois da saída de Andi, em 1994, os alemães seguiram com o britânico David Readman assumindo os microfones. E ele faz um belíssimo trabalho, inclusive trarei um disco solo dele por aqui numa próxima oportunidade. Mas por enquanto, o destaque fica por conta desse álbum que nasceu histórico: Pink Cream 69!

Ouça aqui o Pink Cream 69!


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana