03 de Agosto de 2020
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time destaca as principais notícias, curiosidades, acontecimentos relevantes e/ou inusitados do mundo da música. Claro que, cada um à sua maneira, e abordando sempre o universo musical de sua predileção.
NOTÍCIAS
Bruno Leo Ribeiro
SAUDADES DA MTV?
A banda Code Orange fez uma live diferentona e foi uma das mais criativas que vi durante toda essa pandemia. Eles simularam a programação da MTV, usando até a estética dos anos 90 com VHS e colocaram alguns clipes de algumas bandas pra você conhecer, se não conhece ainda, e completaram a programação fazendo um “acústico MTV”. Eles pegaram algumas músicas do seu repertório e o cenário todo inspirado nos acústicos da época.
Além de tocarem boa parte das músicas do seu repertório, fizeram um cover bem bonitinho de Down in a Hole do Alice in Chains, que pra mim é o melhor acústico que tem, e provavelmente pra eles também.
Uma homenagem super bacana para os tempos atuais nesses tempos loucos. Dizem que recordar é viver.
A live, assista completa, faz uma homenagem também ao programa Headbanger’s Ball da MTV e contou até com a participação do VJ da MTV Americana da época, Riki Rachtman, que entrevista a vocalista da banda Reba Meyers aos 23 minutos da live. Vale muito assistir. Coloquei aqui pra ver e me transportei para os anos 90. Lembrando que o Code Orange, lançou um discáço esse ano, mas não vou dar Spoiler do episódio de melhores discos do ano ainda não… ops… já dei :).
Que falta que a MTV faz, né minha filha?
Assista a Parte que eles tocam Alice In Chains aqui
Vinícius Cabral
SALVEM A CENA ALTERNATIVA DE SUAS CIDADES!
Euzinho, na mítica Matriz Casa Cultural
Não é novidade pra ninguém que essa pandemia está trazendo estragos irreversíveis às economias mundiais. Também não deve ser novidade que o Brasil, patinho feio do mundo neste momento, esteja fazendo absolutamente tudo errado (tanto na saúde quanto na economia).
Com uma visão mesquinha e deliberadamente entreguista por parte dos que conduzem o estado brasileiro (enquanto ainda se pode dizer que há um estado), as pequenas e médias empresas estão sofrendo um baque histórico: já são quase um milhão de falências. Sim, você leu certo. Quase um milhão de pequenas e médias empresas fecharam as portas até o mês de maio. Com acesso a crédito retardado (de propósito, diga-se) pelo governo e pelo cartel bancário que praticamente o domina (sob a gestão de qualquer partido, diga-se), essas empresas estão com os dias contados, em um desesperador clima de “salve-se quem puder”.
Para o setor da música o impacto será irrecuperável; é possível que até o fim dessa longa quarentena não sobre em Belo Horizonte, por exemplo, nenhuma casa de shows alternativa, voltada ao Rock e outros nichos. A mítica A Obra, que já havia fechado para reformas antes da pandemia, anda mal das pernas. A A Autêntica, casa responsável por boa parte dos shows Indies de médio porte dos últimos anos, já jogou a toalha: a gestão não deu conta do aluguel – que também poderia ter sido aliviado pelos locatários – e anunciaram o encerramento das atividades (vão demolir o galpão e construir um condomínio no lugar – não sei pra quem – mas vão).
Mas a situação mais triste certamente é a da Matriz Casa Cultural. Com 20 anos de atividade, o espaço, comandado pelo casal Andrea e Edmundo, faz parte da iniciação musical de qualquer roqueirinho alternativo de Belo Horizonte, abrigando desde festivais de metal até devaneios Indie que juntam 10 pessoas na plateia. Típico inferninho, o local tem aparelhagem de som boa o suficiente pra receber shows grandes, mas se dedica ao underground porque essa é a paixão de seus donos, que comandam o espaço sempre com muito carinho e simpatia. Não é exagero dizer: você não é músico em BH se nunca tiver tocado na Matriz pelo menos uma vez (eu e meu parceiro de anos, o Christian, do The Innernettes, já passamos por lá pelo menos umas 5 vezes).
É claro que a solidariedade humana nesses momentos é comovente. Através desta campanha, o Matriz já arrecadou mais de 30 mil reais, de uma meta de 47 mil e poucos. Podem acabar se mantendo, com o sucesso dessa campanha guerreira, e reforço o convite aos colegas que nos lêem para que, se puderem, contribuam também para a manutenção desse espaço tão importante.
O mais triste de toda essa história é sentir, na pele, o quanto a cultura e as atividades de “base” são descartáveis por aqui. Vivemos em um país que destrói sua memória e não consegue valorizar espaços de construção social fundamentais para o funcionamento de uma sociedade criativa e saudável. Quando acabar o pesadelo dessa pandemia em descontrole, eu torço muito – e estou fazendo minha parte – para que demos um verdadeiro reset no Brasil , inundando-o com cooperativas, moedas sociais e coletivos autogestionados, que prezem por um novo conceito de economia, mais voltado à subsistência e ao compartilhamento sustentável de recursos. O mais importante para essa nobre missão é ter em mente o fato de que não podemos contar com conjunturas políticas.
Como diz o célebre ditado anarquista: só povo salva o povo. Com fé (é muito trabalho solidário) o povo de Belo Horizonte salvará a Matriz, e saberá manter sua cena musical criativa e pulsante. Olhem para suas cenas locais! Tem muita gente guerreira que dedica suas vidas a levar cultura a públicos altamente diversificados. Sem isso, estaremos totalmente entregues à selvageria.
Márcio Viana
A ERA DO CINISMO
Ao longo de episódios, newsletters e conversas particulares, nós do Silêncio no Estúdio temos frequentemente nos perguntado qual é o papel do streaming na distribuição e divulgação de um artista.
Particularmente, além desta questão, penso também no quanto as plataformas muitas vezes são responsáveis por desfazer o sentido de se criar um álbum, uma vez que a grande fornalha da indústria pede a reciclagem do sucesso fácil, incentivando a criação de versões e mais versões do mesmo single.
Não que seja uma surpresa, mas parece que o diretor executivo do Spotify, Daniel Ek, resolveu deixar isso ainda mais claro: em uma entrevista, o dirigente mandou um recado aos artistas que clamam por melhores pagamentos vindos da plataforma. Segundo ele, se querem ganhar mais, os artistas precisam fazer mais discos.
“Há aqui uma falácia, combinada com o fato de que, obviamente, alguns artistas que foram bem sucedidos no passado podem não o ser no futuro, onde não se poderá gravar um disco a cada 3 ou 4 anos e achar que é suficiente”, disse Ek.
Mesmo não podendo esperar muita coisa de quem só visa lucrar, a lógica é frágil. Talvez tenha sido inevitável, mas o fato é que a produção artística não se sustenta neste pensamento industrial de se fazer álbuns por fazer, então tem sido cada vez mais habitual que o artista faça versões ao vivo de álbuns ou singles recém-lançados, e mesmo assim, são gravações ao vivo megaproduzidas, que pouco diferem do original. Como não sou muito afeito a ficar observando os numerozinhos dos artistas nos rankings das mais tocadas, não sei bem se a tática funciona.
Como quebrar isso? Dar um passo atrás e vender apenas discos físicos embaixo do braço? Estimular o download pago do mp3? Render-se ao que as plataformas oferecem?
Ainda não sei. O que sei é que nossas discussões não podem parar por aqui, e isso vai render mais e mais episódios de podcasts e conversas on e offline. Sigamos.
O cantor e compositor Jair Naves tem proposto algumas ações pelo Bandcamp, promovendo a divulgação antecipada de seus lançamentos pela plataforma. Por isso indico aqui o último single dele, sintomaticamente chamado A Era do Cinismo.
Ouça A Era do Cinismo de Jair Naves aqui
Brunno Lopez
A ESPERANÇA É COMO OS FESTIVAIS: NÃO MORRE.
Aos poucos – e isso não é um endosso de minha parte – as coisas estão voltando a se movimentar em todas as esferas da vida. Isso não é diferente no universo da música pesada.
Desde 1990, o Wacken vinha sendo religiosamente realizado, reunindo bandas de vários estilos e diversos países para se apresentarem no evento.
Isso até esse ano, pois em virtude da pandemia, precisou ser cancelado. Foi a primeira vez na história que isso aconteceu, mas como sabemos, 2020 tem sido o ano das primeiras vezes para todas as coisas, correto?
Pois bem.
O que sabemos é que a organização do Wacken Open Air 2021 já anunciou que o evento acontecerá no ano que vem entre os dias 29 e 31 de julho.
Os ingressos?
TODOS JÁ FORAM VENDIDOS.
Como headline, temos uma banda comemorando 50 anos de estrada, o Judas Priest.
Além deles, nomes como Tarja, Rose Tatoo, Venom, Moonspell, Dropkick Murphys, As I Lay Dying, Death SS, Hamatom e Lordi também foram divulgados.
Como será que o planeta estará até lá?
É difícil saber. Estamos acostumados a nos acotovelar em shows e sentir aquela energia próxima das multidões.
Sabemos que é preciso seguir e um dia os adiamentos acabam se tornando impossíveis.
Esperamos com 2021 traga essa segurança cultural para que os entretenimentos precisam.
Veremos isso na Alemanha, no WOA 2021?
Eu espero que sim.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana