07 de Setembro de 2020
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time destaca lançamentos que têm feito suas cabeças.
LANÇAMENTOS
Bruno Leo Ribeiro
ME VEJO COMO UMA PANTERA
Não é todo dia que uma das suas bandas favoritas da vida lança um disco. No meio dessa pandemia louca, os suecos do Pain of Salvation lançaram mais um disco maravilhoso. Durante alguns meses, foram lançando seus clipes e singles do disco que estava por vir e no meio desse caos, o baixista da banda saiu.
O disco anterior da banda “In the Passing Light of Day”, foi um disco conceitual sobre como o vocalista, guitarrista e líder da banda Daniel Gildenlöw enxergou sua sobrevivência. Ele teve uma grave doença com a famosa bactéria comedora de carne que quase acabou com suas costas. Depois de 1 ano se recuperando a banda voltou com tudo e lançou o In the Passing Light of Day em 2017.
Novas mudanças na banda. O antigo guitarrista da banda Johan Hallgren voltou pra banda durante a turnê. Com ele de volta, suas características de riffs e carisma, trazem um ar nostálgico para os fãs da banda mais antigos.
O ótimo baterista francês Léo Margarit está cada vez mais preciso e criativo. Com uma sonoridade de bateria seca e tribal, talvez esse o disco que o Léo trouxe mais ideias dele pro álbum.
O disco é novamente conceitual, mas de uma forma um pouco mais sutil. O Daniel tem um filho com síndrome de down e o disco parece que é como o seu filho vê o mundo. No trecho da letra título do disco Panther se escuta:
“How does it feel to be you?
She once asked me
I said, I feel like a panther
Trapped in a dog’s world”
“Eu disse que eu me sinto como uma pantera, presa num mundo de cachorros.”
O disco continua com uma energia ótima com um sentimento do melhor do Prog Rock. O Pain of Salvation não faz mais metal. Eles são até rotulados como uma banda de Prog Metal, mas eles fazem um rock progressivo que em alguns momentos soam como metal.
É uma banda que tem que ouvir com calma sem muita distração. O disco como um plano de fundo pode te cansar, mas prestando atenção, ele vai te hipnotizar.
Fecho meu relato apenas dizendo. Eu AMO Pain of Salvation. E se você gosta de Prog Rock, recomendo começar com o Panther. 🙂
Vinícius Cabral
O VERDADEIRO ESTADO DAS COISAS
É com essas palavras que começa uma das obras mais impressionantes e sem precedentes deste ano já tão impressionante e sem precedentes;
“The true state of all things:”
Phil Everum, o cara por trás da lendária The Microphones (responsável por um dos álbuns mais badalados do Indie dos últimos 30 anos, o The Glow Pt. 2, de 2001) resolveu nos presentear com seu conjunto único de visões, em uma espécie de audiobook autobiográfico. Não o verdadeiro estado das coisas do planeta (da economia, da política, da pandemia), mas o verdadeiro estado das suas coisas. De sua vida e de suas turbulências, desde sua infância até hoje.
“E se eu resolvesse chamar essa música de Microphones in 2020?”, ele declama/canta em uma parte. A partir de uma base mais ou menos repetida de dois acordes, Phil constrói uma obra a um só tempo inovadora e despretensiosa. O disco se trata de uma única canção, de 44 minutos e 44 segundos (como ele mesmo diz: “A new album. One really long song”) e surpreende pela ausência quase completa de qualquer tipo de restrição ou vergonha em falar de si. Sensações, impressões, histórias de infância … no vídeo que ilustra a obra, Phil vai nos mostrando os registros visuais de momentos e histórias que conta. As imagens analógicas mofadas nos transportam para cada um daqueles momentos, em uma conexão única. Como algo tão íntimo, tão pessoal, pode comunicar com outras pessoas de forma tão intensa (eu, por exemplo, chorei as três vezes que vi/ouvi a obra)?
Deve ser porque, ao falar de si, Phil revela momentos que, de uma forma ou de outra, nós também vivemos. Do mergulho no universo artístico às dores das perdas da vida adulta – Phil perdeu sua primeira esposa para o câncer em 2016 – , o artista nos comove com a simplicidade de suas impressões, por vezes subjetivas, dos eventos que construíram sua personalidade.
“I saw Stereolab in Bellingham and they played one chord for fifteen minutes. Something in me shifted. I brought back home belief I could create eternity”. Ver Stereolab no palco tocando um único acorde por 15 minutos e acreditar ser possível “criar” a eternidade … querer capturar as memórias toscas em melodias primitivas nas velhas fitas cassete durante a adolescência … chegar, ao final, à conclusão de que só há duas frases possíveis: “somente agora”, e “não há final”.
No “mantra” loopeado e poetizado de Phil Everum, existem intersecções e revelações de uma beleza universal. Beleza que me mobilizou de maneiras muito íntimas e intensas. Eu não sei ainda, é claro, o que direi ao final deste ano maluco. Mas até aqui, Microphones in 2020 é o disco que mais me transtornou – em diversos sentidos – neste ano já absolutamente transtornante. Uma obra absolutamente inominável, de uma beleza que não tá nem cabendo em uma realidade tão horrível, hostil e dolorosa. Que a arte deste gigante nos ajude a buscar uma cura (se não para o planeta, ao menos para nós mesmos, e para aqueles que amamos).
Ouça/Veja a versão visual de Microphones in 2020 aqui (não tem nos streamings, mas há um link no Bandcamp também)
Márcio Viana
O AUTODIAGNÓSTICO DE ALANIS MORRISSETTE
Já se passaram 25 anos do lançamento de Jagged Little Pill, o álbum que projetou Alanis Morrissette para além do Canadá. Porém, é injusto reduzir a cantora a seu maior sucesso comercial (33 milhões de cópias vendidas mundialmente), já que ainda houve fôlego para outros momentos inspirados e sucessos, como Thank U, Uninvited ou Hands Clean. Mas o mundo da música e o mercado (principalmente) mudaram, e não é mais tão comum colecionar hits.
Havoc And Brighter Lights, o álbum imediatamente anterior ao recém-lançado, é de 2012, e estes anos de hiato talvez tenham influenciado no estilo introspectivo do álbum que chega agora. Senão vejamos:
Alanis tem 46 anos agora, e consequentemente seus temas versam sobre coisas mais condizentes com a maturidade, longe das decepções amorosas juvenis (ainda que estas fossem relevantes no contexto). A proximidade com a fase da meia idade traz reflexões sobre separações, depressão pós-parto e a própria idade (como quando canta em Diagnosis: “não me lembro onde a frase começou quando estou tentando terminá-la”).
Estou falando do álbum Such Pretty Forks In The Road, lançado no final de julho, precedido pelo single Reasons I Drink, lançado em 2019.
A essência de Alanis está no disco, mas ainda assim ela aqui se apresenta com muito menos fúria. Talvez por conta de o álbum ser guiado pelos teclados do parceiro Michael Farrell, músico que tem em seu currículo trabalhos com Morrissey, Richie Sambora e Macy Gray, entre outros. Farrell assina todas as composições junto com a cantora.
No balanço final, o disco convence, principalmente pelo single Reasons I Drink e seu piano de cabaré que forja uma alegria dentro da letra melancólica e auto-irônica. Em um ano de espera e de frustração (Alanis planejava shows comemorativos para os 25 anos de Jagged Little Pill, incluindo uma apresentação na Brodway, substituídos pelas lives), é uma boa maneira de se manter atento e consciente de sua própria história.
Ouça Such Pretty Forks In The Road aqui
Brunno Lopez
MAIS AMOR E MAIS VOTOS
Lançamentos de álbuns surpresas se tornaram uma constante recente no universo musical. Dessa vez, quem se valeu desse artifício foi a incrível Sara Bareilles, que evidentemente surpreendeu os fãs com o disco inesperado “More Love”.
São 10 músicas que aparecem na série Little Voice da Apple TV +, na qual a cantora é uma das produtoras.
Com letras reconfortantes e um vocal suave, a sensação é que estamos sendo abraçados por ela, nesse momentos tão complicado.
Porém, mais importante do que comprar esse disco, a vencedora do Grammy quer que as pessoas votem.
Tanto que as cópias físicas de More Love só estarão disponíveis um dia após as eleições, em 6 de novembro.
Ouça o More Love – Songs from Little Voice Season One aqui
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana