Newsletter – Silêncio no Estúdio Vol. 60

14  de Setembro  de 2020


Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. A newsletter desta semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!


IT’S A CLASSIC

Bruno Leo Ribeiro

SOPA DE CABRA GOURMET

Agora no dia 4 de Setembro saiu nas plataformas de streaming uma nova versão Delux (ou versão gourmet) de um dos melhores discos dos Stones. (Na humilde opinião do que vos escreve agora, esse disco é o melhor da banda fora das escolhas óbvias). 

O Goats Head Soup de 1973 é o terceiro da trilogia de clássicos eternos da banda que começou com o Sticky Fingers e teve em sequência o Exile on Main St. (os dois melhores discos da banda em escolhas mais óbvias).

Apesar do Goats Head Soup ser um disco até renegado pela banda, é dos discos da banda que mais gosto. É uma mistura de Glam-Funk-Blues e me traz uma coisa menos simplista dos Stones que por muitas vezes me afasta da banda.

Nunca escondi que nunca fui fã da banda, mas isso não quer dizer que eu não goste. Nunca entrei na briga Stones x Beatles. Simplesmente a banda nunca me emocionou 100% como outras bandas fazem.

Das bandas clássicas, outras tantas me emocionam mais em sua totalidade e os Stones me emocionam em alguns momentos e um deles sem dúvida é o Goats Head Soup.

Pra quem acha que esse disco não teve hits, temos que lembrar que “Angie” é desse disco. Música com cara de número 1. Desses hinos que ficaram pra sempre marcados na história da música.

A banda compôs boa parte do disco na Jamaica, trazendo uma energia desse funk-blues que comentei. Talvez o motivo que me faça gostar tanto desses clássico.

Pra muita gente, a formação dos Stones nessa época com o Mick Taylor nas guitarras, é uma das melhores. O Mick Taylor ficou na banda de 1969 até 1974, logo substituído pelo Ronnie Wood em 1975, ficando na banda até hoje.

Falando em lançamento Deluxe, a nova versão tem All That Rage (maravilhosa) e Scarlett com Jimmy Page fazendo aquele feat de respeito! Além de algumas inéditas, várias gravações de Demos e também várias ao vivo de um show em Bruxelas em 1974.

Melhor agora mesmo é começar a semana com esse clássico. 

Ouça Goats Head Soup aqui


Vinícius Cabral

O TRANSE ALEMÃO

O final dos anos 60 viram, mundialmente, uma verdadeira necessidade popular de reinvenção (similar à que estamos vendo com mais intensidade agora, desde 2008, pelo menos). Reinvenção de costumes, tradições, culturas. A Alemanha, protagonista de uma das maiores vergonhas históricas do século passado, encarou com muita seriedade esse processo. Até porquê a reinvenção ali não era um “luxo” eurocêntrico. Havia uma espécie de clamor popular por uma necessária reparação histórica. 

O que acontece culturalmente naquele país a partir de 1968 é motivo de muito estudo  – e estamos fazendo esse “dever de casa” aqui, como poderão perceber muito em breve. Por enquanto me basta adiantar o seguinte: um conjunto de bandas, artistas, pintores, cineastas e inventores de todos os tipos começa a “brotar” da Alemanha nessa época, incorporando de forma absolutamente respeitosa e orgânica elementos de culturas periféricas (do oriente à américa do sul), reinventando a linguagem do rock e inventando  – efetivamente – as linguagens da música pop e experimental eletrônica. 

É a partir dessa linhagem que nasce o experimento Popol Vuh, formado pelo bandleader Florian Fricke com sua esposa e colaboradora Bettina Fricke e uma série de incríveis músicos convidados. A banda ficou mais conhecida pelas trilhas sonoras de filmes do cineasta Werner Herzog, mas também possui uma história discográfica muito interessante. 

Em seu terceiro álbum, Hosianna Mantra, lançado em 1972, a banda abandona um pouco as experiências com sintetizadores e incorpora elementos acústicos: pianos, oboé, tambura indiana … uma série de elementos, se juntando às guitarras “ambient” de Conny Veit. Para completar a fusão absolutamente insólita, os vocais etéreos e espaciais da coreana Djong Yun dão o tom quase meditativo do trabalho. 

Mesmo dentro do contexto histórico destacado, esse álbum parece um ET. Certamente um dos precursores da ambient music – atribuída mais recentemente à sonoridades derivadas da música  eletrônica –  o disco explora camadas densas, com pianos de arpejos e solos de guitarra em loop, embalando uma viagem sonora, ambiental, experimental. Transcendental, em vários sentidos. 

É notório destacar que o selo que lançou os primeiros discos da banda, o Pliz, tinha como logomarca um cogumelo. Muito provavelmente a recepção desse disco funciona melhor com o uso de determinadas substâncias (como suco de laranja com açúcar né, gente? Eu nunca faria apologia ao uso de entorpecentes aqui nesse espaço tão culto e sério). O importante é que, com ou sem substâncias, trata-se de um disco à frente do seu tempo, que pode ser apreciado em diversos momentos e em contextos onde (assim como o nosso atualmente) é necessário respirar um pouco mais fundo e deixar o ar entrar, dilatando nosso diafragma e expandindo nossos ouvidos e nossa consciência.  

Ouça Hosianna Mantra aqui


Márcio Viana

AGORA NINGUÉM CHORA MAIS

Wendy James é uma cantora e compositora britânica, que entre 1986 e 1991 fez relativo sucesso à frente da banda Transvision Vamp. No início de 1992, após serem dispensados da gravadora MCA, a banda se separou.

Sem saber o que fazer de sua carreira, Wendy resolveu chorar as pitangas em uma carta para ninguém menos que Elvis Costello. Para a surpresa da cantora, o músico se compadeceu com a história, e junto com sua esposa à época, a também compositora Cait O’Riordan, compôs um álbum inteiro, incluindo as letras, que veio a se tornar Now Ain´t The Time For Your Tears, sua estreia solo.

O disco é ótimo, cheio de delícias pop como Basement Kiss e Puppet Girl e canções de arranjos mais elaborados como The Nameless One e Do You Know What i’m Saying?.

O mais curioso de tudo isso é que, com o passar dos anos e a democratização da internet, a demo gravada por Elvis Costello acabou surgindo como bootleg, com o título The Gwendolyn Letters, remetendo à troca de correspondência entre eles. O álbum está completinho no YouTube, com exceção de This Is a Test, que abre o disco oficial. Um disco igualmente maravilhoso, que não faria feio na discografia do cantor.

O nome do álbum de Wendy James, aliás, é extraído da letra de The Lonesome Death of Hattie Carroll, de Bob Dylan, gravada em 1963 no álbum The Times They Are a-Changin’.

Última coisa: a produção do disco ficou a cargo de Chris Kimsey, engenheiro de som e produtor responsável por grandes álbuns de nomes como Rolling Stones, Peter Tosh e Joan Jett.

Vamos ouvir as duas versões do álbum:

Ouça Now Ain’t The Time For Your Tears, de Wendy James, aqui

Ouça a demo The Gwendolyn Letters, de Elvis Costello, aqui


Brunno Lopez

A INOCÊNCIA É A RAZÃO

Escrevo ainda sob o efeito do último episódio do nosso querido podcast. Não foi fácil falar sobre o André Matos e, durante esse processo, era impossível não ficar com sua música ecoando.

E de todos os trabalhos, é claro que o Reason sempre terá um lugar de destaque eterno pra mim. Era o álbum sucessor do brilhante Ritual e, segundo o próprio André, foi produzido como um quebra-cabeças, com cada parte se encaixando meticulosamente para criar uma obra digna da aprovação do nosso querido maestro.

Apesar de ser o último com a formação original da banda, nos vemos diante de um grupo maduro, com autoridade para dar um passo adiante e entregar um disco primoroso.
É aquele tipo de material que merece uma audição mais atenciosa, para que toda a sua linguagem seja absorvida por completo.

E nessa imersão, todos vamos nos deparar com Innocence. O piano inicial que traz uma atmosfera que transita entre beleza e tristeza, até que a voz do André comece a dar corpo pra canção. Ela cresce sem pressa, desbocando num refrão irretocável capaz de inundar de sentimentos até o mais relapso dos ouvintes.

Uma construção épica e ao mesmo tempo moderna, que apenas a voz mais inesquecível do país poderia performar com a grandiosidade necessária.

Sempre será difícil se despedir de alguém que, desde que surgiu para a música, veio pra ficar.

Ouça aqui


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana